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A Praça da Sé em 1939

 

Nesta sexta-feira, dia 16, o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP lançará a edição 47 de Estudos Avançados – uma publicação quadrimestral do instituto –, cujo tema principal é a cidade de São Paulo. O dossiê “São Paulo” aborda as questões do trabalho, da violência e da água na visão de vários estudiosos, que propõem alternativas às políticas públicas visando a melhorar a vida na capital paulistana.

O dossiê foi idealizado pelo professor Alfredo Bosi, editor da revista, recentemente imortalizado com sua eleição para a Academia Brasileira de Letras (ABL). “A revista tem a característica de destacar problemas brasileiros e mundiais e também, na medida do possível, esgotar o assunto em todos os seus aspectos”, comenta Marco Antônio Coelho, editor executivo de Estudos Avançados. “Até agora não tínhamos focalizado questões da região metropolitana de São Paulo. Por isso surgiu a idéia de criar um documento sobre as problemáticas da região em que vivemos”, complementa. O trabalho começou em outubro do ano passado e seu resultado poderá servir como ponto de referência a estudantes, pesquisadores e políticos.

Violência – Entre os textos sobre violência, três artigos relacionam esse tema à violação dos direitos humanos, a políticas de segurança pública e à segregação dos espaços em São Paulo. Pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP reuniram, em “Homicídio e violação dos direitos humanos em São Paulo”, considerações sobre o crescimento das taxas de homicídio e sua relação “com o escasso acesso aos direitos econômicos e sociais para largos setores da população”. Luiz Eduardo Soares, atual secretário nacional de Segurança Pública e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é autor de outro artigo sobre o tema. “Essa é a primeira divulgação de um texto teórico sobre políticas de segurança pública que surgiram na comunidade acadêmica e que estão sendo testadas na atual gestão do governo federal”, comenta Coelho. Para ele, esse é um artigo de grande importância para a questão da violência e das formas de ser controlada.

A ocupação desordenada se espalha pela região da Represa Billings: situação desafia os urbanistas

“Novas políticas de segurança pública” é o resumo de um trabalho maior do secretário, que discute não só a violência, mas o quadro nacional de insegurança e os motivos pelos quais a população vive aflita. Exclusão de setores da sociedade cujos direitos civis são apagados, degradação institucional da polícia e o aumento do crime organizado são algumas das razões que Soares aponta para tentar entender esse fenômeno da insegurança entre a população. “Hoje, o medo da sociedade não é ilusório nem fruto de manipulação midiática”, afirma. A solução, para ele, seria a reforma da polícia e o incentivo dos jovens à participação cívica, cooperativa e solidária, além de garantir ao indivíduo a visibilidade como ser humano.

Também na área de violência, um grupo de especialistas – Haroldo Torres e Sandra Bitar, ambos do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), Eduardo Marques, professor do Departamento de Ciência Política da USP, e Maria Paula Ferreira, da Fundação Seade – produziu artigo voltado para descobrir os focos da Grande São Paulo em que a violência é mais gritante. “A cidade é viva, ela caminha, evolui. Esse estudo chama a atenção das autoridades para como e onde devem atuar, porque é indispensável acompanhar as mudanças ocorridas na cidade em movimento”, analisa Coelho.

“Pobreza e espaço: padrões de segregação em São Paulo” analisa os padrões espaciais de distribuição das situações de vulnerabilidade social na cidade. O grupo sustenta que “a pobreza e os espaços em que os pobres residem são muito mais heterogêneos do que geralmente considera a literatura”. Além disso, aponta “diferentes níveis de segregação mesmo dentro das áreas mais pobres, assim como intensa superposição de carências” em determinadas áreas.

Água – Sobre a questão da água, Coelho destaca o artigo “Gestão urbana e gestão de águas: caminhos da integração”. Ricardo Toledo Silva e Monica Ferreira do Amaral Porto, professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e da Escola Politécnica da USP, respectivamente, discorrem sobre os rios da cidade de São Paulo e a Bacia do Alto Tietê – de onde vem toda a água que abasstece a capital, assim como grande parte do interior.

A questão levantada por Toledo e Monica reflete preocupações a longo prazo e estabelece recomendações para os administradores públicos. De acordo com os pesquisadores, há dificuldades de gestão do setor “principalmente devido à ausência de mecanismos básicos de decisão integrada e de caráter metropolitano”. A maneira de como se deve enfrentar o problema da água interfere em outras cidades do Estado e, por isso, o texto destaca a necessidade de haver um projeto que integre os sistemas de gestão de recursos hídricos e a gestão territorial, responsável pelo controle de uso e ocupação do solo.

Mais dois textos discutem a questão da água, “Cidade e cidadãos: 100 anos destruindo os rios paulistas”, do sociólogo Ricardo Toledo Neder, do Comitê da Bacia do Alto Tietê, e “A disputa pela água em São Paulo”, entrevista com Gerôncio Albuquerque Rocha, geólogo do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo.

São Paulo: estudos do IEA apontam soluções para problemas da metrópole

Emprego – No último século, a cidade de São Paulo sofreu transformações e hoje “vivencia um emaranhado de problemas que desafiam o urbanista e, mais drasticamente, o administrador público”, como relata o editor Alfredo Bosi. Ao longo do século 20, ela se revelou uma das maiores metrópoles mundiais e, junto a esse fenômeno, carregou todos os entraves de uma cidade cujos resultados do rápido crescimento são percebidos até hoje.

Dentre muitas mudanças que ocorreram, o mercado de trabalho e seus desdobramentos contribuíram para que a relação entre patrão e empregado fosse repensada. O movimento sindical e a conseqüente politização dos trabalhadores, o desemprego causado pela informatização e pelos planos econômicos, a absorção das mulheres e dos jovens no mercado, o subemprego e o terceiro setor são temas abordados no texto “És o avesso do avesso”, de Walter Barelli, professor do Instituto de Economia da Unicamp, ex-ministro do Trabalho e secretário de Emprego de Relações de Trabalho do Estado de São Paulo. Ele conta que “não é só o capital que se concentrou na cidade. A mesma opção foi feita pelo trabalho organizado”.

Paralelamente ao boom industrial que a capital paulista sofreu, aumentou o custo de vida e de produção na cidade. “Daí algumas empresas irem buscar em outras localidades uma situação que lhes fosse mais conveniente”, comenta Barelli. Para ele, nas últimas duas décadas São Paulo deixou de ser a meca do emprego para se assemelhar às populosas e pobres capitais asiáticas. Entretanto, ele prevê uma boa alternativa para a cidade. “Deixando de ser centro industrial, a capital está consagrada como centro de serviços. Para que haja empregos e bons empregos, esse é o caminho. É possível sonhar com uma região metropolitana novamente impulsionadora do crescimento e do emprego.”

Marise Hoffman e Sérgio Mendonça analisam a evolução do mercado de trabalho na região metropolitana de São Paulo desde 1995. Por meio de pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e da Fundação Seade, a socióloga e o economista do Dieese ampliam o conhecimento sobre a capacidade de o mercado de trabalho incorporar a força do trabalho disponível na região. Após detalhada pesquisa, eles podem afirmar que o mercado de trabalho em São Paulo sofre um processo de deterioração e um dos principais fatores determinantes disso é a indústria – não por acaso, a mesma conclusão a que chegou Barelli. “Além do assalariamento sem carteira de trabalho, cresceu a ocupação terceirizada”, analisam. “O desemprego se generalizou, atingindo fortemente segmentos da força de trabalho, geralmente menos vulneráveis, como trabalhadores na faixa etária de 25 a 39 anos, chefes de família e trabalhadores do sexo masculino.”

Na seção “Criação”, voltada a estimular e destacar o que se cria no plano da cultura, fugindo das problemáticas pesadas, há um texto da professora do Instituto de Psicologia da USP Ecléa Bosi, que trata da memória da cidade de São Paulo por meio de relatos de pessoas que vivem na capital. Também em “Criação”, o arquiteto Paulo Bastos discorre sobre seu premiado projeto (primeiro lugar na 4ª Bienal de Arquitetura de São Paulo e representante brasileiro na Bienal de Viena) de urbanização de duas favelas na região de Guarapiranga, Jardim Floresta e Imbuias 1.

Outros textos trazem à tona problemáticas das leis urbanas – como o Plano Diretor e o Estatuto da Cidade. Na área de Direito, três artigos falam sobre os sistemas regionais, a democracia em Portugal e no Brasil e o pouco discutido direito espacial – aquele que trata de questões ligadas à exploração do Universo. “Tem que haver um disciplinamento na ocupação do espaço”, reflete Coelho, que acredita que hoje há uma luta desordenada pelo espaço sideral e vê problemas graves nisso. O próximo número de Estudos Avançados, que será publicado no semestre que vem, trará a segunda parte do dossiê “São Paulo”, com temas ligados à saúde e à habitação.

 

A revista Estudos Avançados será lançada nesta sexta-feira, dia 16, às 17 horas, na sede do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP (Edifício da Antiga Reitoria, térreo, Cidade Universitária, São Paulo), com palestra da secretária-executiva do Ministério das Cidades, professora Erminia Maricato, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. A revista pode ser encomendada ao IEA pelos telefones (11) 3091-3919 e 3091-4442. O preço é R$ 18,00. Mais informações na página eletrônica www.usp.br/iea.
 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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