Nesta
sexta-feira, dia 16, o Instituto de Estudos Avançados (IEA)
da USP lançará a edição 47 de Estudos
Avançados – uma publicação quadrimestral
do instituto –, cujo tema principal é a cidade de São
Paulo. O dossiê “São Paulo” aborda as questões
do trabalho, da violência e da água na visão
de vários estudiosos, que propõem alternativas às
políticas públicas visando a melhorar a vida na capital
paulistana.
O dossiê
foi idealizado pelo professor Alfredo Bosi, editor da revista, recentemente
imortalizado com sua eleição para a Academia Brasileira
de Letras (ABL). “A revista tem a característica de
destacar problemas brasileiros e mundiais e também, na medida
do possível, esgotar o assunto em todos os seus aspectos”,
comenta Marco Antônio Coelho, editor executivo de Estudos
Avançados. “Até agora não tínhamos
focalizado questões da região metropolitana de São
Paulo. Por isso surgiu a idéia de criar um documento sobre
as problemáticas da região em que vivemos”,
complementa. O trabalho começou em outubro do ano passado
e seu resultado poderá servir como ponto de referência
a estudantes, pesquisadores e políticos.
Violência
– Entre os textos sobre violência, três artigos
relacionam esse tema à violação dos direitos
humanos, a políticas de segurança pública e
à segregação dos espaços em São
Paulo. Pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência
(NEV) da USP reuniram, em “Homicídio e violação
dos direitos humanos em São Paulo”, considerações
sobre o crescimento das taxas de homicídio e sua relação
“com o escasso acesso aos direitos econômicos e sociais
para largos setores da população”. Luiz Eduardo
Soares, atual secretário nacional de Segurança Pública
e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é
autor de outro artigo sobre o tema. “Essa é a primeira
divulgação de um texto teórico sobre políticas
de segurança pública que surgiram na comunidade acadêmica
e que estão sendo testadas na atual gestão do governo
federal”, comenta Coelho. Para ele, esse é um artigo
de grande importância para a questão da violência
e das formas de ser controlada.
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A
ocupação desordenada se espalha pela região
da Represa Billings: situação desafia os urbanistas |
“Novas
políticas de segurança pública” é
o resumo de um trabalho maior do secretário, que discute
não só a violência, mas o quadro nacional de
insegurança e os motivos pelos quais a população
vive aflita. Exclusão de setores da sociedade cujos direitos
civis são apagados, degradação institucional
da polícia e o aumento do crime organizado são algumas
das razões que Soares aponta para tentar entender esse fenômeno
da insegurança entre a população. “Hoje,
o medo da sociedade não é ilusório nem fruto
de manipulação midiática”, afirma. A
solução, para ele, seria a reforma da polícia
e o incentivo dos jovens à participação cívica,
cooperativa e solidária, além de garantir ao indivíduo
a visibilidade como ser humano.
Também
na área de violência, um grupo de especialistas –
Haroldo Torres e Sandra Bitar, ambos do Centro de Estudos da Metrópole
(CEM), Eduardo Marques, professor do Departamento de Ciência
Política da USP, e Maria Paula Ferreira, da Fundação
Seade – produziu artigo voltado para descobrir os focos da
Grande São Paulo em que a violência é mais gritante.
“A cidade é viva, ela caminha, evolui. Esse estudo
chama a atenção das autoridades para como e onde devem
atuar, porque é indispensável acompanhar as mudanças
ocorridas na cidade em movimento”, analisa Coelho.
“Pobreza
e espaço: padrões de segregação em São
Paulo” analisa os padrões espaciais de distribuição
das situações de vulnerabilidade social na cidade.
O grupo sustenta que “a pobreza e os espaços em que
os pobres residem são muito mais heterogêneos do que
geralmente considera a literatura”. Além disso, aponta
“diferentes níveis de segregação mesmo
dentro das áreas mais pobres, assim como intensa superposição
de carências” em determinadas áreas.
Água
– Sobre a questão da água, Coelho destaca o
artigo “Gestão urbana e gestão de águas:
caminhos da integração”. Ricardo Toledo Silva
e Monica Ferreira do Amaral Porto, professores da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo (FAU) e da Escola Politécnica da USP, respectivamente,
discorrem sobre os rios da cidade de São Paulo e a Bacia
do Alto Tietê – de onde vem toda a água que abasstece
a capital, assim como grande parte do interior.
A questão
levantada por Toledo e Monica reflete preocupações
a longo prazo e estabelece recomendações para os administradores
públicos. De acordo com os pesquisadores, há dificuldades
de gestão do setor “principalmente devido à
ausência de mecanismos básicos de decisão integrada
e de caráter metropolitano”. A maneira de como se deve
enfrentar o problema da água interfere em outras cidades
do Estado e, por isso, o texto destaca a necessidade de haver um
projeto que integre os sistemas de gestão de recursos hídricos
e a gestão territorial, responsável pelo controle
de uso e ocupação do solo.
Mais
dois textos discutem a questão da água, “Cidade
e cidadãos: 100 anos destruindo os rios paulistas”,
do sociólogo Ricardo Toledo Neder, do Comitê da Bacia
do Alto Tietê, e “A disputa pela água em São
Paulo”, entrevista com Gerôncio Albuquerque Rocha, geólogo
do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São
Paulo.
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São
Paulo: estudos do IEA apontam soluções para problemas
da metrópole |
Emprego
– No último século, a cidade de São Paulo
sofreu transformações e hoje “vivencia um emaranhado
de problemas que desafiam o urbanista e, mais drasticamente, o administrador
público”, como relata o editor Alfredo Bosi. Ao longo
do século 20, ela se revelou uma das maiores metrópoles
mundiais e, junto a esse fenômeno, carregou todos os entraves
de uma cidade cujos resultados do rápido crescimento são
percebidos até hoje.
Dentre
muitas mudanças que ocorreram, o mercado de trabalho e seus
desdobramentos contribuíram para que a relação
entre patrão e empregado fosse repensada. O movimento sindical
e a conseqüente politização dos trabalhadores,
o desemprego causado pela informatização e pelos planos
econômicos, a absorção das mulheres e dos jovens
no mercado, o subemprego e o terceiro setor são temas abordados
no texto “És o avesso do avesso”, de Walter Barelli,
professor do Instituto de Economia da Unicamp, ex-ministro do Trabalho
e secretário de Emprego de Relações de Trabalho
do Estado de São Paulo. Ele conta que “não é
só o capital que se concentrou na cidade. A mesma opção
foi feita pelo trabalho organizado”.
Paralelamente
ao boom industrial que a capital paulista sofreu, aumentou o custo
de vida e de produção na cidade. “Daí
algumas empresas irem buscar em outras localidades uma situação
que lhes fosse mais conveniente”, comenta Barelli. Para ele,
nas últimas duas décadas São Paulo deixou de
ser a meca do emprego para se assemelhar às populosas e pobres
capitais asiáticas. Entretanto, ele prevê uma boa alternativa
para a cidade. “Deixando de ser centro industrial, a capital
está consagrada como centro de serviços. Para que
haja empregos e bons empregos, esse é o caminho. É
possível sonhar com uma região metropolitana novamente
impulsionadora do crescimento e do emprego.”
Marise
Hoffman e Sérgio Mendonça analisam a evolução
do mercado de trabalho na região metropolitana de São
Paulo desde 1995. Por meio de pesquisa realizada pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) e da Fundação Seade, a socióloga e
o economista do Dieese ampliam o conhecimento sobre a capacidade
de o mercado de trabalho incorporar a força do trabalho disponível
na região. Após detalhada pesquisa, eles podem afirmar
que o mercado de trabalho em São Paulo sofre um processo
de deterioração e um dos principais fatores determinantes
disso é a indústria – não por acaso,
a mesma conclusão a que chegou Barelli. “Além
do assalariamento sem carteira de trabalho, cresceu a ocupação
terceirizada”, analisam. “O desemprego se generalizou,
atingindo fortemente segmentos da força de trabalho, geralmente
menos vulneráveis, como trabalhadores na faixa etária
de 25 a 39 anos, chefes de família e trabalhadores do sexo
masculino.”
Na
seção “Criação”, voltada
a estimular e destacar o que se cria no plano da cultura, fugindo
das problemáticas pesadas, há um texto da professora
do Instituto de Psicologia da USP Ecléa Bosi, que trata da
memória da cidade de São Paulo por meio de relatos
de pessoas que vivem na capital. Também em “Criação”,
o arquiteto Paulo Bastos discorre sobre seu premiado projeto (primeiro
lugar na 4ª Bienal de Arquitetura de São Paulo e representante
brasileiro na Bienal de Viena) de urbanização de duas
favelas na região de Guarapiranga, Jardim Floresta e Imbuias
1.
Outros
textos trazem à tona problemáticas das leis urbanas
– como o Plano Diretor e o Estatuto da Cidade. Na área
de Direito, três artigos falam sobre os sistemas regionais,
a democracia em Portugal e no Brasil e o pouco discutido direito
espacial – aquele que trata de questões ligadas à
exploração do Universo. “Tem que haver um disciplinamento
na ocupação do espaço”, reflete Coelho,
que acredita que hoje há uma luta desordenada pelo espaço
sideral e vê problemas graves nisso. O
próximo número de Estudos Avançados, que será
publicado no semestre que vem, trará a segunda parte do dossiê
“São Paulo”, com temas ligados à saúde
e à habitação.
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A
revista Estudos Avançados será lançada
nesta sexta-feira, dia 16, às 17 horas, na sede do Instituto
de Estudos Avançados (IEA) da USP (Edifício da
Antiga Reitoria, térreo, Cidade Universitária,
São Paulo), com palestra da secretária-executiva
do Ministério das Cidades, professora Erminia Maricato,
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. A revista
pode ser encomendada ao IEA pelos telefones (11) 3091-3919 e
3091-4442. O preço é R$ 18,00. Mais informações
na página eletrônica www.usp.br/iea. |
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