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A
expectativa da direção do MAC é ocupar
todos os espaços com uma programação
dinâmica que reúna exposições nacionais
e
internacionais, workshops, concertos. Mas, para tanto, pretende
encontrar o apoio da iniciativa privada para uma reforma
criteriosa que possa garantir a segurança e o conforto
do público |
Voltar
ao MAC Ibirapuera depois de sete longos anos. E resgatar o espaço
com novos sonhos, projetos e muita arte. Com essa proposta, a diretora
Elza Ajzemberg organizou, no dia 2 passado, uma comitiva para marcar
“simbolicamente” essa ocupação. O reitor
Adolpho José Melfi, o pró-reitor de Cultura e Extensão
Universitária, Adilson Avansi de Abreu, educadores do museu
e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP
visitaram as instalações que, até então,
estavam sediando somente os eventos da Fundação Bienal.
“O MAC nasceu no Parque do Ibirapuera”, lembrou Elza.
“Daí ser muito importante comemorar os seus 40 anos
de história resgatando a sua sede. Temos muitos planos. Queremos
organizar oficinas, ateliês, exposições e workshops.
Mas, para receber o público e também as obras dos
nossos artistas, precisamos de uma ampla reforma para garantir a
segurança e o conforto.”
Atento,
o reitor observou o espaço. “Há muito tempo,
mesmo antes de estar na Reitoria, eu já tinha ouvido falar
dos problemas de infra-estrutura deste prédio”, afirmou.
“Sei que é muito importante a sua recuperação,
mesmo porque o MAC tem um dos acervos mais importantes de arte contemporânea
da América Latina. Vamos nos empenhar e esperamos contar
com o apoio da iniciativa privada para conseguir os recursos necessários.”
Melfi
explicou que o MAC e todos os museus da Universidade são
uma prioridade na sua gestão. “Nós reformamos
o Museu de Zoologia e também estamos com o projeto da Praça
dos Museus em andamento. Queremos valorizar os espaços da
arte e da ciência.”
Logo
na entrada do salão, o reitor foi recepcionado com uma performance
de seis dançarinos, coordenada por Cristina Salmistraro,
professora do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações
e Artes (ECA) da USP. Melfi observou a coreografia que parecia sugerir
exatamente as necessidades e dificuldades da conquista de um espaço
para a arte. Uma das bailarinas, Letícia Sekito, aproximou-se
do reitor e pediu que ele interagisse com a sua performance escrevendo
uma palavra em seu corpo. Melfi pegou a caneta e escreveu “Intimidade”
no rosto de Letícia, que fez uma coreografia buscando traduzir
a relação da arte com o público.
Reforma
sem “puxadinhos” – Como bem lembrou o grupo de
dançarinos, a arte necessita de espaço. Mas de espaço
digno para apresentar tanto os mestres da arte do século
20 – como Picasso, Matisse, Miró, Kandinsky, Brecheret,
Tarsila do Amaral, Portinari, Henrique Amaral, Regina Silveira e
Claudio Tozzi – como também para incentivar os jovens
artistas. Ao mesmo tempo, é importante um espaço seguro,
confortável, convidativo, que possa levar o público
a conhecer a sede onde surgiu o MAC.
Diante
de um acervo de 8 mil obras e da tradição de tornar
a arte acessível a todos, a diretora Elza reivindica: “A
nossa meta é uma reforma feita com muito critério.
Mesmo que seja realizada aos poucos, não queremos fazer nenhum
‘puxadinho’. Nada de improviso”.
O projeto
de reforma do MAC Ibirapuera conta com a participação
dos professores da FAU Nestor Goulart Reis Filho, Paulo Bruna e
Lucio Gomes Machado. Durante a visita, eles detalharam para o reitor
o estado precário do prédio e apresentaram os seguintes
problemas: o espaço destinado ao MAC fica no terceiro andar
do Pavilhão Francisco Matarazzo Sobrinho, não sendo
projetado para abrigar um museu. Também não há
acesso específico para o museu, que possui uma rampa de uso
comum dividida com a Fundação Bienal, que atende a
inúmeras feiras e eventos. O ideal seria que o acesso de
visitantes fosse feito por elevadores. A saída de emergência
é essencial e, no momento, também é improvisada.
Toda a rede elétrica necessita de reparos. Há ainda
a falta de climatização. A
maior parte do espaço expositivo não dispõe
de ar condicionado. Os banheiros são insuficientes para a
demanda do público. O piso precisa de reparos. Enfim, essas
são apenas algumas das principais dificuldades de um lugar
que sempre sediou a discussão de novas tendências e
novos caminhos da arte contemporânea.
Uma
das propostas dos arquitetos é restaurar o auditório,
hoje contaminado por cupins. “Nossa intenção
é reformar o auditório, diminuindo a sua ocupação
para melhorar a distribuição e, ao mesmo tempo, criando
um ambiente ideal para workshops ou concertos”, observou Nestor
Goulart. Para saudar a visita da comitiva, o MAC organizou nesse
mesmo auditório uma apresentação com o cantor
Maecio Gomes, também regente do coral do museu. Uma apresentação
que, segundo Elza, marca o início de muitas outras que acontecerão
ainda neste ano.
A expectativa
dos arquitetos também é otimista. “Estamos desenvolvendo
o projeto com muito cuidado”, garante Nestor. “Ele será
apresentado para empresários e instituições
e esperamos conseguir recursos para iniciar as obras o mais depressa
possível.”
Por
enquanto, o MAC Ibirapuera abriga parte da reserva técnica.
Mantém 40 mil documentos e sedia também uma biblioteca.
“Estamos montando um calendário com exposições
nacionais e internacionais ainda para o segundo semestre”,
observa Elza. “Mas para isso precisamos batalhar para resgatar
esse nosso espaço.”
A diretora
acentua que o MAC precisa crescer. “Nossa intenção
é conquistar o Pavilhão Manoel da Nóbrega,
que dispõe de condições adequadas para as necessidades
do museu e as ações que ele vem oferecendo.”
É exatamente a disposição de transformar sonhos
em realidade que pontua a trajetória do MAC. Aos 40 anos,
ele continua assim. Com ares de quem nasceu nos anos rebeldes. Saindo
em passeatas para reivindicar a democratização da
arte.
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Melfi
(à esq., ao centro) e os arquitetos apresentando os
projetos de reforma do MAC Ibirapuera: espaço reconquistado |
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