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Atom Egoyan surpreende ao criar O Fio da Inocência a partir do gênero desgastado de serial killers

Realizador de filmes polêmicos e politicamente incorretos, Todd Solondz conquistou uma legião de fãs e também uma boa quantidade de detratores. Nascido em Newark (EUA), o cineasta ganhou notoriedade já na sua estréia na direção de longas-metragens, em 1995, com Bem-Vindo à Casa de Bonecas, vencedor do grande prêmio do Festival de Sundance, que o integrou ao rol de talentos da Killer Films, uma das mais destacadas produtoras independentes. Após esse filme, fez Felicidade e Histórias Proibidas. De nacionalidade canadense, Atom Egoyan nasceu no Cairo (Egito), dirigiu telefilmes e séries para TV até 1979, quando montou sua produtora, a Ego Film Arts, e foi a partir de Family Viewing, sua estréia na direção de longas, que conquistou o prestígio da crítica internacional. No Brasil, só se tornou conhecido a partir do lançamento comercial de seus últimos três filmes, Exótica, O Doce Amanhã e O Fio da Inocência, todos presentes na seleção dessa mostra do Cinusp.

Solondz e Egoyan estão inseridos na categoria chamada de cinema de autor e bem distantes da produção hollywoodiana. Revelados em filmes independentes, que conseguiram distribuição internacional e chamaram a atenção da crítica, são hoje diretores consagrados. Ambos contam histórias que traçam um painel crítico da classe média, revelando a perversão oculta nas relações cotidianas. Seus filmes lançam diferentes olhares sobre um mesmo universo, com um objetivo comum: criticar a hipocrisia e a falsa moral da sociedade. Solondz se utiliza de fábulas amorais que dispensam julgamentos para contar com humor negro e ironia histórias suburbanas da classe média burguesa, marcadas pelo tratamento sarcástico da questão sexual. A sexualidade também é o centro das preocupações de Egoyam, mas seu cinema estilizado, igualmente avesso a julgamentos, traz uma abordagem menos direta e mordaz, e mais refinada, que nem por isso deixa de ser incômoda.


Filmes da mostra – De Solondz, que assina o roteiro e a direção, serão exibidos Bem-Vindo à Casa de Bonecas (1995), um retrato cruel e repleto de humor negro sobre as agruras da adolescência, em que uma garota de 17 anos, complexada, enfrenta a constante rejeição das colegas de escola, da família e dos rapazes por quem se apaixona; Felicidade (1998), ambientado nos subúrbios de Nova Jersey, acompanha uma série de pessoas que em suas trajetórias em busca da realização pessoal trazem pequenos crimes e perversões, tendo como núcleo central três irmãs: a mais velha é casada com um psicoterapeuta e esconde uma terrível perversão, a do meio é bem-sucedida escritora e ninfomaníaca e a mais jovem, fracassada e solitária operadora de televendas; e Histórias Proibidas (2001) dividido em dois episódios: Ficção e Não-Ficção, uma reflexão bem-humorada sobre os limites entre a verdade e a ficção; a primeira história gira em torno de uma estudante e seu namorado que sofre de paralisia cerebral e passa a desconfiar que o professor de redação está tentando seduzi-la, e a segunda acompanha um jovem documentarista.

Bem-Vindo à Casa de Bonecas, grande vencedor do Festival de Sundance, que revelou Todd Solondz,


De Egoyan, que também assina o roteiro e direção, estão seus últimos três filmes. Em Exótica (1994), nome de um clube fetichista administrado pela enigmática Zoe, o diretor trabalha com uma estrutura narrativa incomum, entrelaçando uma série de histórias em flashback e flashfoward, apresentando uma reflexão intrigante sobre o sexo e a violência. Para contar a história de O Doce Amanhã (1997), em que uma cidade canadense tem seu cotidiano abalado por um acidente na neve com um ônibus escolar, Egoyan utiliza idas e vindas no tempo, formando um mosaico de personagens e situações que discutem relações familiares, sexo, drogas, incesto, morte e dinheiro, ao mesmo tempo que traça um paralelo com a lenda do Flautista de Hamelin (o roteiro foi indicado ao Oscar). E em O Fio da Inocência (Canadá/EUA, 1999), o diretor novamente constrói a trama por meio da manipulação do tempo, utilizando um gênero desgastado, o dos filmes de serial killers, para contar a história de uma jovem irlandesa grávida que muda-se para Londres em busca do ex-namorado e recebe a ajuda de um homem de meia-idade, sem descobrir que ele é um psicopata, que pode torná-la a próxima vítima.

Como diz Marcos Kurtinaitis, curador da mostra, Solondz e Egoyan são expoentes de um cinema independente que continua a oferecer um novo olhar sobre questões ligadas ao sexo e ao comportamento na vida contemporânea, uma alternativa crítica, autoral, provocativa à visão de mundo dissipada pela maioria dos filmes de Hollywood.

A mostra será exibida de segunda a sexta, com sessões às 16h e 19h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). Nesta semana as atrações são Bem-Vindo à Casa de Bonecas (segunda a quarta, às 16h, e quinta e sexta, às 19h) e Exótica (em horários inversos). A entrada é franca.

 




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