Depois
de três anos no ar com o seriado de televisão
Os Normais, o público vai saber como Rui, um careta,
e Vani, uma tresloucada, se conheceram. Um casal que fez sucesso
com seu humor escrachado e linguagem ousada na telinha e que
chega à telona nesta semana em várias salas
de cinema. Mas, ao contrário do programa, o filme parte
de um tom mais fantasioso criado a partir de clássicos
do cinema e da comédia romântica. E assim como
no seriado, muitas situações engraçadas
acontecem até que, finalmente, eles descubram o amor
um pelo outro. O mais importante é que, depois de tanto
tempo na televisão, o roteiro ainda consiga surpreender.
É claro, há cenas previsíveis. Mas aqueles
que gostavam da série vão reconhecer os traços
marcantes do humorístico. Segundo o diretor José
Alvarenga Júnior, é muito improvável
uma nova temporada do programa, mas é possível
que aconteça um segundo filme, desta vez no futuro.
O
roteiro se desenrola em apenas uma noite. E depois, o início
de tudo. A idéia veio do roteirista Alexandre Machado,
também responsável ao lado de sua mulher Fernanda
Young pelo roteiro do programa televisivo. Uma grande sacada
que leva o filme ao passado do programa. Na história,
ambos estão para se casar, mas cada um com um par diferente.
Rui (Luiz Fernando Guimarães) aguarda na sacristia
da igreja a chegada de sua noiva Martha (Marisa Orth), enquanto
Vani (Fernanda Torres) se casa com seu noivo Sérgio
(Evandro Mesquita). A confusão está armada quando,
ao voltar para casa, Vani descobre que seu noivo a traiu e
resolve sair com o primeiro que aparecer, e adivinhem quem
é? É isso mesmo, o Rui chega com sua nova mulher
para morar no apartamento ao lado.
O
filme foi todo gravado em estúdio, com câmeras
de vídeo digital em alta definição (HD),
que se assemelha às imagens das câmeras de cinema,
gravando 24 quadros por segundo. Além disso, outras
vantagens são a de se mexer na imagem em tempo real
e partir para a edição com o som já sincronizado.
Por falar em som, a trilha sonora traz uma brincadeira musical
realizada pelo produtor Márcio Lomiranda, músicas
de casamento que não poderiam faltar, além de
canções dos anos 80, entre elas Você é
Doida Demais (Lindomar Castilho e Ronaldo Adriano).
Em
contraponto – Mas como não falar da série
de televisão que por três anos cativou o público?
Segundo a professora Maria Lourdes Motter, coordenadora do
Núcleo de Pesquisa de Telenovela da Escola de Comunicações
e Artes (ECA) da USP, o seriado saiu do ar no auge de sua
audiência, antes de seu esgotamento. Ibope conseguido
por sua fórmula dinâmica, com diálogos
ágeis e linguagem ousada, além de uma crítica
contundente. “O casal de classe média discutia
sua intimidade como algo casual, corriqueiro, através
de uma linguagem bastante livre, cheia de expressões
fisionômicas e até com perplexidade diante do
que um dizia para o outro, num discurso entrecortado e acelerado.
Assim, o público não prestava atenção
nos detalhes e sim no contexto como um todo, o que cria o
efeito cômico, sem chocar ou incomodar”, relata
a professora. E acrescenta, “era somente um discurso
sobre o erotismo, que não se consumava de fato, era
apenas sugerido. Eles planejavam, criavam situações
fora do banal (ou como eles diziam, do normal), que acabavam
sempre em desastre”.
Essa
fórmula inteligente de fazer humor chegou na televisão
discretamente, sem grandes campanhas ou anúncios, e
agradou o público mesmo sendo audaciosa. A própria
vinheta de abertura já mostrava o jeito escrachado
do casal, tendo ao fundo uma música brega. A professora
afirma que não se pode ter uma postura séria
ao analisar esse tipo de programa. “Na televisão
tudo é muito copiado, quando surge algo novo é
preciso analisar sem parâmetros, de forma brincalhona
como é o seriado. É um texto excelente, com
atores que conseguem sustentá-lo”, diz. E sua
retirada da televisão é estratégica,
acredita Maria Lourdes, porque a fórmula deu certo
e precisa de um tempo para que os autores consigam recuperar
o fôlego e o ânimo criativo. Assim, ela é
resguardada e quem sabe pode ter uma volta bem-sucedida, diferentemente
do que pensa o diretor. É o seriado que impulsiona
o filme, que por sua vez serve de memória da história
anterior dos personagens, alimentando assim expectativas quanto
ao seu retorno à televisão. E as risadas continuam...
no cinema. |