Nascido
em 1854 na região de Nápoles, na Itália, Francisco
Matarazzo chegou ao Brasil em 1881. Inicialmente se estabeleceu
em Sorocaba, onde deu início à política comercial
que conservaria para sempre: “O bom negócio se faz
na compra e não na venda”, era o lema que seguia, cuidando
mais de comprar barato do que vender caro. Em 1890, trocou Sorocaba
por São Paulo. Na capital, abriu um comércio de secos
e molhados na rua 25 de Março, fez negócios com banha
e começou a dedicar-se à importação.
Bem-sucedido, investiu num empreendimento industrial de grandes
proporções: comprou um moinho de farinha – o
primeiro de São Paulo. Foi o início do que mais tarde
seria chamado de um “império industrial”. Para
produzir os sacos que embalavam sua farinha, Matarazzo adquiriu
máquinas de tecelagem. Com elas, em pouco tempo produzia
tecidos para o mercado. As sementes do algodão que comprava
para a tecelagem, por sua vez, eram beneficiadas e delas o empresário
extraía óleo. Um subproduto da refinação
do óleo de semente de algodão, chamado “pé”
e usado na produção de sabão, levou Matarazzo
a comprar uma fábrica e comercializar o produto. A necessidade
de caixotes e embalagens fez surgir serrarias e uma metalúrgica.
Com a madeira e o metal disponíveis, o empresário
começou a fabricar móveis e utensílios de alumínio.
Na
década de 60, o “império” do Conde Matarazzo
– título de nobreza concedido pelo governo italiano
a imigrantes bem-sucedidos – reunia mais de cem empresas,
que empregavam cerca de 30 mil pessoas.
A longa
e inspiradora vida de Francisco Matarazzo – falecido em 1937
– será usada nesta semana, na USP, como um dos grandes
exemplos de empreendedorismo no Brasil. Nos dias 20 e 21, acontece
na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
(FEA) o Curso de Extensão Universitária Pioneirismo
Empresarial no Brasil e a Construção do Século
21, coordenado pelo professor da FEA e ex-reitor da USP Jacques
Marcovitch. Destinado a professores de faculdades de administração,
economia, contabilidade, engenharia de produção e
profissionais da área de gestão, o curso tem como
objetivo, segundo Marcovitch, mostrar a importância, para
a formação dos estudantes, do ensino da trajetória
dos empresários pioneiros, além de discutir o ensino
do empreendedorismo hoje no Brasil. O curso terá a participação
do sociólogo José de Souza Martins e do historiador
José Carlos Sebe Bon Meihy, ambos da USP (leia abaixo a programação
completa do curso). Está previsto ainda, no dia 20, quinta-feira,
às 19 horas, o lançamento do livro Pioneiros e empreendedores
– A saga do desenvolvimento no Brasil, escrito por Marcovitch
(leia texto abaixo).
O
guia dos empreendedores
Raros
são os livros que tratam do empreendedorismo no Brasil.
Para suprir essa lacuna e ajudar a criar uma “cultura
de empreendedores”, o professor Jacques Marcovitch lança
nesta quinta-feira, dia 20, às 19 horas, na FEA, o
livro Pioneiros e empreendedores – A saga do desenvolvimento
no Brasil, publicado pela Editora da USP (Edusp). Nele, o
professor da FEA e ex-reitor da USP estuda a vida de oito
grandes empresários brasileiros dos séculos
19 e 20, a fim de extrair “lições”
úteis hoje aos estudantes. Os empresários analisados
no livro são os Prado – referência à
família fundada pelo Barão de Iguape –,
Nami Jafet, Francisco Matarazzo, Ramos de Azevedo, Jorge Street,
Roberto Simonsen, Júlio Mesquita e Leon Feffer. “Os
nossos personagens confirmam que o enfrentamento das adversidades
forja o empreendedorismo”, escreve Marcovitch no livro.
“Competência
visionária, sensibilidade estratégica, atitude
positiva diante dos desafios, clareza de pensamento, boa capacidade
de comunicação, valorização das
experiências vividas, multiplicidade de engajamentos
e laços familiares fortes – eis alguns dos traços
comuns encontrados nesses pioneiros e empreendedores.”
O
arrojo e ousadia dos empresários do passado são
abundantes no livro de Marcovitch. Antonio da Silva Prado,
neto do Barão de Iguape, por exemplo, foi um fazendeiro-industrial
por excelência e um político influente no Império
e na Primeira República. Nami Jafet destacou-se como
atacadista e precursor da indústria têxtil no
Brasil. Com lojas nas ruas 25 de Março e Florêncio
de Abreu, em São Paulo, ele montou as bases de um dos
maiores conglomerados fabris da América Latina. A Companhia
Fabril de Tecelagem e Estamparia de Jafet e seus irmãos
deu origem ao bairro do Ipiranga e sustentou seu desenvolvimento.
A Mineração Geral do Brasil, do mesmo grupo,
transformou o município de Mogi das Cruzes. Além
disso, Jafet e sua família deram importante contribuição
para a construção de obras sociais da colônia
libanesa – entre elas o Hospital Sírio-Libanês.
Segundo
Marcovitch, a imagem do industrial moderno surgiu com Francisco
Matarazzo. Antes dele, os empreendedores brasileiros –
todos nascidos e criados na elite tradicional – dedicavam-se
à agricultura, ao comércio ou às finanças.
Raros tinham interesse na indústria. “Matarazzo
começou sozinho numa terra estranha. Sua trajetória
vertiginosa veio demonstrar, pela primeira vez, que, graças
à indústria, em São Paulo, todos poderiam
ser artífices do próprio sucesso.”
A
grande inovação introduzida pelo industrial
Jorge Luís Gustavo Street, no início do século
20, foi a abertura do diálogo com os sindicatos operários,
continua Marcovitch. Por suas posições pioneiras
na área social, Street tornou-se conhecido como “empresário
socialista” e “poeta da indústria”.
“Isso não impediu que organizasse suas empresas
segundo uma estratégia arrojada e, na maioria das vezes,
de imenso sucesso.”
Francisco
de Paula Ramos de Azevedo foi o grande pioneiro da construção
civil em São Paulo. Conhecido como arquiteto, foi também
um grande construtor. Um dos fundadores da Escola Politécnica,
que dirigiu por 11 anos, introduziu inovações
curriculares que revolucionaram o ensino e a prática
da engenharia civil no Brasil.
Já
Roberto Simonsen tornou-se o símbolo do empresário
esclarecido, nota Marcovitch. Profundamente inovador na administração
de suas indústrias, Simonsen foi pioneiro na construção
civil em moldes modernos e teve presença marcante em
setores tão distintos como o dos frigoríficos
e o dos produtos cerâmicos. “Destacou-se ainda
como pensador e porta-voz dos industriais no grande debate
da economia brasileira, no qual suas opiniões mantêm
a atualidade. A sua obra História econômica do
Brasil é considerada um clássico brasileiro.”
O
jovem advogado Júlio Mesquita – que em 1885 começou
a trabalhar na redação de A Província
de São Paulo, hoje O Estado de S. Paulo – deu
forma ao jornal que ainda hoje exerce larga influência
na sociedade brasileira. Ele e seus herdeiros foram personagens
em episódios decisivos da política nacional
e estiveram na origem de iniciativas culturais fundamentais
para a sociedade brasileira, entre elas a criação
da Universidade de São Paulo, em 1934.
Finalmente,
Leon Feffer foi pioneiro na fabricação de papel
a partir do eucalipto. Além de construir um poderoso
grupo empresarial, destacou-se como líder comunitário
e realizador de vários projetos sociais. O Hospital
Israelita Albert Einstein é um exemplo.
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De
Nami Jafet a Leon Feffer
Esta
é a programação completa do Curso de
Extensão Universitária Pioneirismo Empresarial
no Brasil e a Construção do Século 21,
que será realizado na FEA.
Dia
20, quinta-feira
8h30.
Abertura (Eduardo Vasconcelos, da FEA).
Das
9 às 12h30. “Lições de
pioneirismo”, (Jacques Marcovitch, da FEA). “A
família Prado” (Eni de Mesquita Samara, da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, FFLCH, ada
USP), “Ramos de Azevedo” (Carlos Lemos, da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, FAU, da USP), “Roberto Simonsen”
(José de Souza Martins, da FFLCH) e “Jorge Street”
(Palmira Petratti Teixeira, Unesp).
Das
14 às 16h30. “Francisco Matarazzo”
(José de Souza Martins), “Júlio Mesquita”
(Oliveiros S. Ferreira, da FFLCH), “Leon Feffer”
(Osmar Zogbi, da Ripasa Celulose e Papel) e “A trajetória
de Nami Jafet e a modernização do comércio
varejista no Brasil” (José Carlos Sebe Bon Meihy,
da FFLCH).
Das
17 às 18h30. “História de empresas
e a formação das novas gerações”
(Wilson Suzigan, da Unicamp, e Sérgio Birchal, da Universidade
Federal de Minas Gerais) e “Rupturas e empreendedorismo”
(Jacques Marcovitch).
19
horas. Lançamento do livro Pioneiros e empreendedores
– A saga do desenvolvimento no Brasil (Edusp), de Jacques
Marcovitch.
Dia
21, sexta-feira
8h30.
Recepção.
Das
9 às 11 horas. “Formação
para o empreendedorismo no Brasil: lições aprendidas
e resultados alcançados”. Moderador: Ruy Martins
Altenfelder Silva, do Instituto Roberto Simonsen, da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Expositores: César Simões Salim (PUC-Rio), Fernando
de Souza Meirelles (Fundação Getúlio
Vargas), Francisco Gracioso (Escola Superior de Propaganda
e Marketing, ESPM), Mara Elaine de Castro Sampaio (Sebrae),
Martinho Isnard Ribeiro de Almeida (FEA) e Roberto Carvalho
Cardoso (Conselho Regional de Administração
de São Paulo).
Das
11 às 12 horas. “Pioneiros e empreendedores
brasileiros: um acervo iconográfico para professores
e educadores.” Expositores: Maria Dora Mourão,
da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP,
Eduardo Morettin (ECA) e Fernando Scavone (ECA).
12h30.
Encerramento. Maria Tereza Leme Fleury,
diretora da FEA.
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