Uma
atriz que com singelo sorriso ou expressão facial consegue
interpretar os conflitos de personagens tão díspares
quanto marcantes. Isabelle Huppert, considerada um dos nomes
mais importantes do cinema francês contemporâneo,
é também o grande nome da mostra que o Cinusp
apresenta neste mês. Com cinco filmes recentes protagonizados
pela atriz, “5 x Isabelle Huppert” homenageia
o profissionalismo – e por que não a elevada
exigência na escolha de seus papéis – de
quem já trabalhou com cineastas como Jean-Luc Godard,
Andrzej Wajda, Benoit Jacquot e Claude Chabrol.
Desse
último diretor, ela foi a musa em cinco filmes, dois
dos quais serão exibidos no Cinusp. A adaptação
para o cinema do clássico do realismo literário
Madame Bovary, escrito por Gustave Flaubert, é um deles.
Realizado em 1991, o filme traz Huppert como Ema Rouault,
que ao se casar com um médico viúvo, espera
viver histórias semelhantes às dos livros românticos
que lia no convento. Os anseios do marido, no entanto, são
bem outros – apenas exercer seu papel na sociedade de
uma pequena cidadezinha. Insatisfeita com o companheiro e
com a vida no interior, Ema trai Charles Bovary com homens
tão hipócritas quanto ele.
O
segundo filme de Chabrol presente na mostra é Negócios
à parte (1997), em que Betty (Huppert) integra uma
dupla de vigaristas que aplica pequenos golpes em executivos.
Eles nunca levam todo o dinheiro da vítima, para que
ela não se dê conta do roubo que sofreu. Betty
sugere então uma guinada a seu parceiro Victor, através
de um plano maior. O leve roteiro, escrito pelo próprio
Chabrol, deixa obscuro o que se passa na mente dos personagens,
especialmente na enigmática Betty construída
por Huppert.
Um
dos mais recentes e polêmicos filmes protagonizados
por Huppert,
A professora de piano (2000), do austríaco Michel Haneke,
rendeu-lhe pela segunda vez o prêmio de melhor atriz
em Cannes. Huppert vive uma solteirona rígida que não
bebe, não fuma e, aos 40 anos, ainda vive na casa de
sua mãe repressora. Quando não está dando
aulas de piano, revela um lado promíscuo e obsceno
de sua personalidade, ao freqüentar cinemas pornôs
e praticar “perversidades”. Ela se envolve numa
relação sado-masoquista com um jovem aluno.
A psicologia da personagem é minuciosamente trabalhada
pela atriz, sem resvalar num quadro caricatural do sadismo.
Outro
grande diretor que consta na filmografia de Huppert é
Benoit Jacquot. Dos três filmes que a atriz realizou
com ele, A falsa servente (1999) comparece na mostra do Cinusp.
A produção mostra uma jovem rica que decide
se disfarçar de homem para encontrar – e sondar
– seu futuro marido antes do casamento. O plano funciona
e ela o convence de sua amizade, tendo acesso às confidências
do noivo.
O
último filme traz a homenageada contracenando com mais
dois nomes de peso do cinema francês: Catherine Deneuve
e Fanny Ardant. Oito mulheres (2001), de François Ozon,
mistura comédia musical com suspense. O suspense vem
do assassinato cometido contra o único homem de uma
casa onde vivem oito mulheres, que tentam descobrir a culpada
pelo crime. Ao mesmo tempo, as atrizes interpretam números
musicais, subtraindo qualquer caráter mais realista
do filme. Cada
uma das mulheres representa um tipo feminino, como a solteirona
megera, a experiente, a determinada. Produzido a partir de
uma peça, o filme mantém características
teatrais na cenografia e nos figurinos coloridos e exagerados,
bem próximos do kitsch. Tons de exagero também
pontuam as interpretações, em acordo com o restante
da produção. Mais uma variação
da expressividade de Isabelle Huppert.
A
mostra “5 x Isabelle Huppert” acontece no Cinusp
(r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade
Universitária, tel. 3091-3540), em sessões às
16h e 19h, com entrada gratuita. A programação
pode ser conferida no site www.usp.br/cinusp. |
Narradores
de Javé tem
pré-estréia no Cinusp
Aplaudido
na última edição da Mostra Internacional
de Cinema de São Paulo, o longa-metragem Narradores
de Javé (2003), de Eliane Caffé, tem
pré-estréia nesta quarta, às
19h, no Cinusp, e na quinta, no mesmo horário,
no Centro Cultural Banco do Brasil, seguido de debate
com a diretora. O filme conta as várias versões
da história de um pequeno vilarejo, Javé,
ameaçado de ser inundado pelas águas
de uma hidrelétrica. Quando toma conhecimento
da notícia, a população local
decide escrever um dossiê com os acontecimentos
do povoado para lutar por sua preservação.
Como
os habitantes são analfabetos, o único
personagem que sabe escrever, apesar de visto como
desonesto pelos moradores, é encarregado da
tarefa. Os diversos “narradores de Javé”,
no entanto, não conseguem entrar em acordo
sobre qual versão predominará entre
tantas histórias lendárias e, certamente,
bem contadas. O elenco inclui nomes como José
Dumont, Nelson Xavier, Matheus Nachtergaele, Nelson
Dantas e Gero Camilo.
No Cinusp e no Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 3113-3651).
Entrada gratuita. |
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