A
lenda do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola
Redonda é revisitada pelo prisma da contemporaneidade no
espetáculo Merlim, ou de como Merlim, Rei Arthur e a sua
corte de cavaleiros (e também suas damas) não encontraram
o Santo Graal, perderam a inocência e conquistaram uma débil
consciência da transitoriedade humana (os poucos vestígios
de sua existência ainda são um enigma). O próprio
título já explica um pouco sobre o que é a
peça: os personagens vão em busca do Santo Graal,
mas no caminho se deparam com obstáculos e um a um vão
caindo nas tentações, que vão do amor e vaidade
à ambição pelo poder, corrupções
e traições. Assim, mostra o fim da utopia, questionada
no texto original Merlim ou A Terra Deserta, de Trankred Dorst,
que fala sobre a igualdade entre os homens e propõe uma reflexão
sobre as fraquezas, os desejos e as contradições da
natureza humana. A montagem é dos alunos do terceiro ano
da Escola de Arte Dramática da USP, com direção
de Beth Lopes.
Merlim,
tido para alguns historiadores como filho do diabo, prevê
a conquista do cálice sagrado (no caso a utopia). Como informa
a diretora, até mesmo a Távola Redonda, uma mesa onde
todos seriam iguais, é uma alusão à democracia,
ao princípio do cooperativismo. Para isso, personagens vão
sendo testados em seu ideal, mas só um deles consegue, o
predestinado. “Tudo muito burlesco, metafórico”,
diz Beth. Do total dos 40 personagens do original, foram recortados
alguns, como o Rei Arthur, sua esposa Ginevra, seu filho Mordred,
a feiticeira Morgana, Percival e o cavaleiro Lancelot, e recriados
como homens comuns. Há também uma trama amorosa, em
que Ginevra se apaixona por Lancelot e acaba traindo o rei, e a
questão da religiosidade, muito forte na Idade Média,
surge em contraponto ao paganismo, a uma fé impraticável.
No cenário, tijolos e telas de construção remetem
à destruição e à própria construção.
O figurino é simples e a música contemporânea.
Uma
fábula moral para mostrar um mundo onde não há
mais lugar para utopias.
Outra
peça – Quarteto em Diagonal, uma versão do Quarteto
de Heiner Müller, apresenta um texto criado pelos próprios
atores a partir da dramaturgia da memória de Pina Baush,
um jogo de perguntas e respostas. O espetáculo mistura teatro
e dança para mostrar as relações da corte da
Revolução Francesa, além de utilizar também
a figura dos orixás do candomblé, que segundo a diretora
Beth Lopes, busca trazer a brasilidade para o texto alemão.
Na primeira parte, a peça é montada no palco, e na
segunda, é invertida: o público vai para o palco e
os atores encenam na platéia, que sugere o alçapão
da corte, onde as pessoas se escondiam. O cenário limpo traz
somente poltronas e um piano ao fundo. Na trilha sonora estão
desde músicas contemporâneas como o rock de Nina Hagen,
interpretada por Edson Cordeiro, passando pela MPB à ópera
de Wagner. São 12 atores, com figurinos de época em
que todos se vestem de mulheres e de pés descalços,
para mostrar os jogos de sedução e como a lascívia
corria solta na corte.
Merlim
e Quarteto em Diagonal ficam em cartaz até 21 de dezembro.
A primeira é apresentada de quinta a sábado, às
21h, e domingo, às 20h; e a segunda, de quinta a sábado,
às 19h30, e domingo, às 18h30. No Teatro Laboratório
da ECA/USP (av. Prof. Luciano Gualberto, trav. J, 215, Cidade Universitária,
tel. 3091-4375). Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados
uma hora antes.
Educação
em cena
Ato
1: O ensino de teatro. Ato 2: A educação através
do teatro. É nessas duas linhas que as pesquisas de
teatro-educação de alunos de Artes Cênicas
da ECA/USP são desenvolvidas, levando o teatro a crianças
e adolescentes, muitas vezes carentes. Por meio do teatro,
os estudantes da ECA trabalharam vários temas com os
jovens, contribuindo para sua formação. Para
mostrar os resultados dos projetos realizados ao longo deste
ano junto a comunidades de São Paulo e para discutir
as confluências entre teatro e educação,
é realizada a 2a Mostra de Teatro-Educação:
“Olha o trabalho que dá”, organizada pela
professora Maria Lucia Pupo.
A professora orientou todos os trabalhos feitos em lugares
como a Associação Comunitária Monte Azul
e o Albergue Pedroso, que são apresentados durante
esta semana na mostra. Há também debates com
os próprios grupos de jovens envolvidos e com professores
convidados. Participam da abertura da mostra (nesta terça,
às 14h), numa “Discussão sobre Educação”,
os professores Maria Lucia Pupo e Flávio Desgranges,
além de José Sérgio da Fonseca, docente
da Faculdade de Educação da USP, que acompanhou
a trajetória desses alunos no decorrer dos projetos
de teatro-educação.
A
2a Mostra de Teatro-Educação: “Olha o
trabalho que dá” acontece a partir desta terça,
às 14h, até sexta, com início das apresentações
às 9h (quarta e sexta), às 9h30 (quinta). Aberto
ao público no Teatro Laboratório da ECA/USP.
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