Recurso
difundido a partir de 1995, concomitante à disseminação
da Internet, o ensino a distância vem se tornando uma importante
ferramenta de inclusão social à medida que públicos
cada vez mais amplos têm acesso ao conhecimento por meio virtual.
Com o objetivo de difundir o saber acumulado na Universidade e abrir
suas portas para pessoas que não conseguiriam uma formação
pela USP, foi criado recentemente o Grupo de Trabalho de Educação
a Distância. Sob a coordenação do professor
do Instituto de Matemática e Estatística (IME) e ex-pró-reitor
de Graduação da USP Carlos Alberto Barbosa Dantas,
o grupo apresentará ao reitor Adolpho José Melfi,
em cerca de dois meses, um projeto com as diretrizes políticas,
espaciais e de infra-estrutura para a implantação
de cursos a distância nos níveis de extensão,
graduação e pós-graduação.
O grupo
é formado pelos professores Eduardo Massad (Faculdade de
Medicina), José Cipolla Neto (Instituto de Ciências
Biomédicas), Leland Emerson McCleary (Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas), Marieta Lúcia Machado Nicolau
(Faculdade de Educação), Nicolau Reinhard (Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade), Oscar
Brito Augusto (Escola Politécnica), Sérgio Muniz Oliva
Filho (IME), Sueli Mara Soares Pinto Ferreira (Escola de Comunicações
e Artes) e Wilson Vicente Ruggiero (Escola Politécnica).
Eles deverão apoiar a implementação daqueles
cursos nas diversas unidades de ensino e pesquisa, assim como as
iniciativas interunidades. O credenciamento institucional no MEC
também ficará a cargo desses docentes.
Segundo
Dantas, não existe ainda um prazo para que o projeto entre
em operação. “Será um processo natural
que se concretizará com o decorrer do tempo. Nosso objetivo
é ampliar o acesso à Universidade. Pretendemos que
o uso das novas tecnologias sirva como uma contribuição
para a melhoria até do ensino presencial.” O grupo
de trabalho ainda está em fase de definição
quanto às tecnologias a ser empregadas. “A USP inteira
já possui cabos de fibras ópticas, fator que traz
certas facilidades para a implementação de um sistema
via Internet. Mas
nem todos têm acesso à rede e, como a nossa finalidade
não é aumentar a exclusão, temos de pensar
em algo que combine outros meios e que permita o acesso a diversas
camadas da população. A televisão, além
dos custos, tem o problema de horários fixos necessários
à transmissão de programas. Já o rádio
tem grande penetração entre a população
de baixa renda, maior flexibilidade de horários e custos
reduzidos em relação à TV, mas apresenta problemas
de interação, e se o professor quer interagir com
o educando, por exemplo, tem de fazê-lo por telefone, fax
ou outro meio. Podemos
pensar até em um sistema misto, que envolva correspondência”,
afirma Dantas.
Num
futuro próximo, o grupo deverá se transformar em comissão
especializada no tema. A idéia, segundo Dantas, é
centralizar todas as iniciativas de educação a distância
já desenvolvidas na Universidade, como os programas Escola
do Futuro e Cidade do Conhecimento, o projeto Poli Virtual, o curso
de capacitação de professores oferecido pela Faculdade
de Educação e a disciplina de Telemedicina ministrada
na Faculdade de Medicina, por exemplo. “Até o momento,
estamos delineando objetivos, mas posso dizer que os planos são
bastante ambiciosos. Os esforços do grupo de trabalho se
traduzirão num órgão em nível de instituto
especializado da USP”, avalia o professor Eduardo Massad.
Para
Dantas, o momento é ideal para implantar o projeto, não
só para colocar a Universidade a par do que já acontece
há anos nos principais centros educacionais do planeta, mas
também para fazer frente à procura por esses cursos.
“Acho que este é o momento de atender a uma demanda
reprimida de gente que procura a USP e muitas vezes não pode
freqüentá-la. Estamos atravessando um estágio
pelo qual várias universidades do mundo já passaram.
Este projeto permitirá ampliar a atuação da
Universidade na sociedade.” O projeto do Grupo de Trabalho
de Educação a Distância é desenvolvido
com apoio das quatro Pró-Reitorias da USP – de Cultura
e Extensão Universitária, de Graduação,
de Pós-Graduação e de Pesquisa.
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Dantas:
idéia é
combater a exclusão |
Metodologia
– As várias definições de educação
a distância dadas pelos especialistas trazem em comum o fato
de este ser um método de aprendizagem desenvolvido majoritariamente
sem que alunos e professores estejam presentes no mesmo lugar, no
mesmo momento. A transmissão do conhecimento pode se dar
através dos mais variados meios de comunicação,
isolados ou combinados, como impressos distribuídos por correspondência,
material veiculado via rádio ou televisão, fitas de
áudio e vídeo, redes de computadores e sistemas de
teleconferências ou videoconferências, além de
telefone e fax. Através da telemedicina, é possível
que estudantes de diferentes partes do mundo assistam a uma intervenção
cirúrgica realizada em Roma ou Nova York, e aprendam novos
procedimentos médicos, por exemplo.
As
infinitas possibilidades das novas tecnologias aplicadas ao ensino
já são vistas como a maior revolução
ocorrida durante séculos na área educacional. Mas,
de acordo com o professor Dantas, os especialistas em educação
a distância ainda não chegaram a um consenso sobre
o que é melhor em relação a sua metodologia.
Discute-se, por exemplo, se o ensino deve ser aplicado parcial ou
integralmente a distância. “É óbvio que
em cada área do conhecimento o tratamento dessa questão
deve ser diferente. Mas ainda não existem elementos suficientes
que comprovem qual a melhor saída. Hoje, a maioria desses
cursos tem provas feitas presencialmente. Mas a questão ainda
não foi pesquisada a ponto de se poder afirmar que em dada
área seria mais eficaz aplicar esta ou aquela quantidade
de aulas presenciais”, afirma. De acordo com dados da Associação
Brasileira de Educação a Distância (Abed), o
Brasil possui atualmente apenas oito cursos de educação
a distância credenciados pelo MEC.
USP
Virtual – Algumas experiências de ensino a distância
vêm sendo colocadas em prática na Universidade desde
1994, quando nasceu o Programa de Sistemas Integrados de Apoio ao
Ensino, que visava à aplicação das novas tecnologias
na educação de docentes da rede pública de
ensino. Atualmente, experiências significativas acontecem
na Faculdade de Educação, com a capacitação
e aperfeiçoamento de professores da rede pública.
Trata-se de cursos semipresenciais, ou seja, disponibilizam materiais
na Internet ao mesmo tempo em que aliam a isso uma boa dose de atividades
presenciais.
Através
do projeto Poli Virtual, por exemplo, professores ligados ao Laboratório
de Arquitetura e Rede de Computadores (Larc) da Escola Politécnica
desenvolvem um trabalho que consiste em disponibilizar para professores
de quaisquer unidades da USP salas de videoconferência equipadas
para cursos a distância. O sistema opera através da
Internet 2 ou via Embratel e já atendeu a solicitações
do Instituto do Coração (Incor), da FEA, da Escola
do Futuro e da Cidade do Conhecimento, entre outras unidades e órgãos,
segundo a professora Regina Melo da Silveira, do Departamento de
Engenharia da Computação e Sistemas Digitais da Escola
Politécnica.
A Poli
também desenvolve softwares para aplicação
no ensino a distância e para apoio ao ensino presencial. “Acredito
que só o fato de se criar uma cultura para o ensino a distância
já é um grande caminho trilhado, especialmente porque
a resistência às novas tecnologias é muito grande”,
diz Regina, elogiando o trabalho do grupo coordenado por Dantas.
“Ou as pessoas desconfiam que os recursos não irão
funcionar ou acham que não terão o mesmo nível
de interatividade que têm pessoalmente. O fato é que
essas novas tecnologias tornam o conteúdo didático
mais interessante.”
Segundo
o professor Wilson Ruggiero, também da Poli, a ampliação
do acesso às redes de alta velocidade proporcionará
cada vez melhores resultados ao ensino a distância, especialmente
no que diz respeito à interatividade. “Ferramentas
mais eficazes de interatividade permitem aos educadores mais liberdade
para exercer suas estratégias ou táticas pedagógicas,
sem ficar amarrado às restrições tecnológicas.”
Outro
projeto pioneiro na Universidade é desenvolvido pela Faculdade
de Medicina desde 1998, quando começou a ser ministrada a
disciplina de Telemedicina. Através de projeto aprovado pelo
Ministério da Saúde, aquela unidade conseguiu instalar
dois centros de tecnologia integrada de educação,
que tanto ministram aulas a distância quanto prestam assistência
a hospitais e universidades espalhados pelo País, nas mais
diversas áreas médicas. “Precisamos mais do
que nunca da educação a distância. Em um país
com 126 faculdades de medicina e com desigualdades educacionais
notórias, a USP tem um compromisso social muito maior que
qualquer faculdade importante de países onde as diferenças
não são tão grandes. Esta
é uma forma muito eficiente de transmitir conhecimentos a
outras universidades e diminuir a exclusão”, acredita
o professor Gyorgy Miklos Bohm, coordenador da disciplina.
Mais
informações podem ser obtidas nas páginas eletrônicas
da Associação Brasileira de Educação
a Distância (www.abed.org.br)
e do MEC (www.mec.gov.br).
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