Em
cerimônia realizada na sede do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), em Brasília,
no dia 7 de outubro, o presidente do conselho, Erney Plessmann de
Camargo, anunciou os vencedores do 19o Prêmio Jovem Cientista.
Na categoria Graduados, um dos vencedores da edição
– com o tema “Água: fonte de vida” –
foi Adriana Sturion Lorenzi, aluna de mestrado do Centro de Energia
Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba. Adriana recebeu
a premiação – uma bolsa de doutorado e uma quantia
em dinheiro – das mãos do vice-presidente José
Alencar, em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília,
no dia 18 de novembro. O prêmio é uma iniciativa do
CNPq, da Fundação Roberto Marinho, do Grupo Gerdau
e da Eletrobrás.
Adriana
submeteu ao concurso parte de sua dissertação de mestrado,
“Abordagem molecular para detectar cianobactérias potencialmente
produtoras de microcistinas em isolados das represas Billings e
Guarapiranga – São Paulo”, aue deverá
ser defendida no início de 2004 no Cena.
Nesse
trabalho, Adriana desenvolveu e testou um conjunto de oligonucleotídeos
iniciadores designados Ometf/Ometr (dois pequenos pedaços
de seqüência de DNA de fita simples), que permitiram
identificar as espécies de cianobactérias produtoras
da toxina microcistina, isoladas das represas Billings e Guarapiranga,
na Grande São Paulo.
A microcistina
é uma hepatotoxina que causa sérios danos ao fígado
de mamíferos e dependendo da dose pode ser letal. A morte
de 70 pacientes de um centro de hemodiálise em Caruaru, Pernambuco,
em 1996, é um exemplo da gravidade da presença de
toxinas de cianobactérias em águas de abastecimento.
Esses pacientes morreram porque a ágea utilizada para fazer
a hemodiálise estava contaminada com essas toxinas.
Apesar
dos benefícios trazidos pelas cianobactérias, existem
algumas espécies que produzem vários tipos de toxinas
prejudiciais aos animais e ao homem. Essas espécies tóxicas,
devido ao aumento da poluição dos rios e reservatórios
de água, estão cada vez mais presentes no ambiente
numa quantidade preocupante. O crescimento intenso de cianobactérias
na superfície da água, formando uma densa camada de
células com vários centímetros de profundidade,
é chamado de floração.
O gênero
de cianobactéria Microcystis é um dos mais encontrados
nos rios e reservatórios de água no Brasil e algumas
espécies desse gênero produzem uma toxina chamada microcistina.
Os
genes envolvidos na biossíntese da toxina microcistina foram
isolados, seqüenciados e publicados por um grupo de pesquisadores
australianos e alemães em agosto de 2000. A partir desses
resultados, pode-se produzir sondas específicas para a detecção
desses genes e assim identificar rapidamente as espécies
de cianobactérias que produzem essa toxina.
Em
sua pesquisa, Adriana desenvolveu uma técnica capaz de amplificar
milhões de vezes uma região de um gene que os cientistas
chamam mcyA, que está envolvida na biossíntese da
toxina microcistina. Essa técnica foi testada utilizando
DNAs extraídos de 13 cianobactérias isoladas da represa
Billings e Guarapiranga. As espécies que continham um pedaço
de DNA de 200 pares de bases do gene mcyA puderam ser identificadas
e foram consideradas potencialmente tóxicas.
Embora
mais linhagens de cianobactérias necessitem ser testadas
para comprovar a eficiência desses iniciadores quanto à
detecção de todas as isoformas de microcistinas existentes,
os resultados do ectudo possibilitam a utilização
desse conjunto de oligonucleotídeos iniciadores em análises
moleculares quantitativas, o que viria auxiliar no monitoramento
da qualidade de água usada para abastecimento público.
Esse
trabalho foi desenvolvido em parceria com a Cetesb (Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental) e com as pesquisadoras Célia
Sant’Anna, Maria Teresa de Azevedo, do Instituto de Botânica
da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, e Brett Neilan,
da Universidade de New South Wales, em Sidney, na Austrália.
A parte técnica contou com auxílio dos alunos de iniciação
científica Caroline Souza Pamplona da Silva, da Unimep, Camila
Lazarini Portela, da Esalq, e Diego Bisson Ferreira, da Unimep.
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Adriana
recebe o prêmio das mãos do vice presidente José
Alencar: pesquisa da jovem cientista permite detectar a presença
de bactérias nocivas nos reservatórios de água |
Medicina
ou agronomia – Piracicabana, 27 anos, comprometida com suas
propostas, Adriana sempre gostou de biologia e da área ambiental.
Assim que concluiu o ensino médio, prestou vestibular para
medicina, pelo fato de ter uma inclinação para ciências
biológicas, mas não sabia se era exatamente o que
queria fazer. Não passou no vestibular, fez um ano de cursinho
e dessa vez optou pelo curso de Engenharia Agronômica da Escola
Superior da Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.
Em
1996 ingressou na Esalq, formando-se em 2000. Durante a graduação,
desenvolveu três projetos de iniciação científica
sob a orientação do professor Márcio Rodrigues
Lambais, do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas,
ocasião em que pôde constatar o quanto gostava de laboratório.
“No primeiro ano de curso eu fiquei em dúvida, porque
tinha muitas disciplinas ligadas às ciências exatas.
A partir do segundo e terceiro ano, quando comecei a entrar em contato
com outras áreas, direcionei as disciplinas optativas para
o que eu gostava de fazer. Foi então que realmente percebi
que estava no lugar certo. Hoje eu sou extremamente realizada, não
me arrependo. Me arrependo de não ter prestado assim que
saí do segundo grau”, comenta a jovem cientista.
Em
2001 foi aprovada no curso de mestrado em Ciências do Cena,
ocasião em que conheceu sua atual orientadora, professora
Marli de Fátima Fiore. Desde então, Adriana desenvolve
seu curso de mestrado sob orientação dessa docente,
com o apoio financeiro da Fapesp. A jovem cientista considera extremamente
importante para sua vida pessoal e acadêmica ter um trabalho
reconhecido em nível nacional. “Ele serve como um estímulo
para que eu possa prosseguir nesse caminho. Tive essa conquista
porque realizei um trabalho com bastante seriedade e fico contente
também por ele representar uma contribuição
ambiental e social”, afirma Adriana. “Eu costumo sempre
falar que, quando a gente faz alguma coisa, ela tem que ser feita
com muita seriedade, paciência e perseverança. Ainda
tenho um longo caminho a percorrer, porque quero fazer doutorado
e pós-doutorado, mas já me considero uma pesquisadora.”
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