Pensar
a universidade. Pensar em reformar a universidade na contemporaneidade.
Essa foi a proposta do Seminário Internacional Universidade
XXI, que aconteceu na Academia de Tênis, em Brasília
(DF), de 25 a 27 de novembro. Ministros da Educação
de quatro países, secretários de Estado, reitores,
professores, pesquisadores de todo o mundo e estudantes de universidades
brasileiras participaram das conferências, mesas-redondas
e encontros temáticos. Discutiram o papel da universidade
no século 21 e as possíveis soluções
para os problemas identificados.
A idéia
de realizar o evento foi do ministro da Educação,
Cristovam Buarque. Uma proposta que não nasceu de forma isolada.
Está vinculada ao programa de trabalho do ministro, que já
foi reitor e “é professor, mas está ministro,
está senador”. E quer que, “no dia em que for
‘enterrado’, apareça gravado na placa do túmulo
‘professor Cristovam Buarque’”.
A proposta
do seminário está relacionada ao pedido que o ministro
fez ao secretário de Educação Superior do MEC,
Carlos Roberto Antunes dos Santos: reformar a universidade. Esse
foi o desafio que motivou o professor e ex-reitor da Universidade
Federal do Paraná, Carlos Antunes, a mudar de Curitiba (PR)
para Brasília.
Durante
o Seminário, o secretário afirmou que o ensino deve
ser considerado um bem público que fortalece um projeto de
nação. Ao pensar em um projeto para reformar a universidade,
o secretário, que considera a autonomia universitária
indispensável, disse que “a postura ética de
uma nova convivência no interior da universidade e nas suas
relações com a comunidade deve contribuir para a construção
de uma sociedade mais justa, inclusiva e auto-sustentável”.
Na
mesa da abertura do evento, o vice-presidente da República,
José Alencar, dirigiu-se ao ministro Cristovam Buarque e
afirmou: “Nossa causa maior é a educação”.
Diante de representantes de 20 países (segundo a organização),
o vice-presidente mostrou a preocupação do governo
em garantir a alfabetização de crianças e adultos
no Brasil.
Um
compromisso de governo que, de acordo com o ministro da Educação,
tem de ser cumprido agora: “Não deixemos passar o bonde
que colocaram diante de nós, a chance de mudar o futuro do
Brasil. Nós precisamos entender a responsabilidade histórica
que o destino nos deu de sermos adultos e universitários
nos primeiros anos do século 21, com a possibilidade e a
necessidade de uma mudança de rumos. A universidade tem o
papel de exigir isso também, quando o ministro da Educação
não for adiante com os compromissos de mudança que
ele tem a obrigação de realizar”, enfatizou
Cristovam Buarque.
A relação
da universidade com o desenvolvimento está comprovada em
investigações científicas desenvolvidas pela
pesquisadora indiana Jandhyala Tilak, que no seminário revelou
dados que confirmam essa relação. Por isso, segundo
Jandhyala, é necessário que se dê prioridade
ao ensino de terceiro grau. “Só a nação
que expandir razoavelmente bem o sistema de ensino universitário
pode alcançar um alto nível de transformação
socioeconômica”, disse.
Intercâmbio
de idéias – No seminário, 70 palestrantes internacionais
se reuniram a um grupo de 1.200 inscritos para compartilhar experiências
a partir de quatro eixos programáticos: “A universidade
e a reinvenção da sociedade”, “O Estado
e a reinstitucionalização da universidade”,
“Universidade e mundo – Globalização solidária
do conhecimento” e “Produção, partilha
e apropriação do conhecimento”.
Para
o professor da Universidade de Paris Louis Weber, que participou
do seminário como representante do Instituto de Pesquisa
da Federação Sindical Universitária (FSU),
“é muito interessante e enriquecedor intercambiar experiências
entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos”.
Segundo o pesquisador, “há uma crise em todo o mundo
e é necessário buscar soluções. Este
seminário é importante para pensarmos em mudanças”.
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O
seminário em Brasília, com a participação
do ministro Cristovom Buarque (à direita):
por
uma universidade atuante na sociedade
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O pesquisador
uruguaio do Centro Interamericano de Economia Humana, Luis Carrizo,
defendeu uma transformação da universidade e apontou
a necessidade de se criar uma ponte entre o saber científico
e as necessidades sociais. Para Carrizo, “é importante
que o conhecimento produzido nas universidades oriente as políticas
públicas”.
Na
opinião do professor José Martins Raimundo Romeo,
da Universidade das Nações Unidas (ONU), o compromisso
da universidade deve ser com o ser humano. Já o químico
pós-graduado em Educação da Universidade Católica
Dom Bosco, de Campo Grande (MS), manifestou “a esperança
de que o governo brasileiro permita que a universidade faça
o novo: crie um sistema de ensino que privilegie os aspectos tecnológicos
e humanos”.
Para
o coordenador-geral do seminário, professor José Geraldo
Júnior, o evento foi, em si, um método de discussão
das reformas. Ele garantiu que, como resultado do evento, será
instalado o Fórum Permanente Reforma da Universidade, a fim
de constituir as políticas públicas para a educação
superior.
A informação
é importante para a diretora de Relações Internacionais
da Universidade do Estado de Santa Catarina, Sônia Pereira
Laus, que considerou o evento relevante, mas lamentou que não
tenha havido mais espaço para uma discussão ampla
e conjunta.
Democratização
– Como ter acesso à universidade? A professora Elvira
Sabina, da Universidade de Cuba (Havana), é contra a seleção
para a entrada na universidade baseada apenas no merecimento. “O
mérito deve ser um critério, mas não o único”,
disse. Para Elvira Sabina, os alunos que ingressarem na universidade
graças a políticas de democratização
devem ter um tratamento diferenciado, com acompanhamento acadêmico
e bolsas que ajudem os estudantes mais pobres a se manter no estudo.
No
último dia do evento, a ministra da Secretaria Especial de
Promoção e Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, defendeu
que seja destinado um percentual de vagas para negros na universidade.
O polêmico sistema de cotas foi adotado, pioneiramente, na
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e está sendo
implementado em outras instituições de ensino superior
no País. No momento em que fez a defesa da inclusão
de negros por cotas nas universidades, a ministra foi muito aplaudida.
E recebeu o apoio do ministro Cristovam Buarque.
Durante
os três dias do evento, foram divulgadas informações
na Internet com traduções simultâneas, em quatro
idiomas. Também foi publicada a revista Universidade XXI,
disponível nos idiomas português, inglês, francês
e espanhol.
A Universidade
do Vale do Paraíba (Univap), de São José dos
Campos (SP), fez parceria com o MEC para documentar e transmitir
o evento pela televisão. Foram produzidas rápidas
reportagens, de dois a três minutos, para a Rede Vida. O pedagogo
e publicitário Fernando Moreira, que coordenou os trabalhos,
explicou que serão produzidos três programas de debates
para veiculação na TV Câmara e na TV Senado
e que ficarão à disposição de todas
as TVs universitárias do Brasil. Segundo
Fernando Moreira, “este é um trabalho desenvolvido
por educadores para educadores. Pensando como educadores, a gente
fala sobre aquilo que gostaria de ouvir como educadores”.
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