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Adriana com Alencar (à esq.):
toxinas identificadas

Tecnologia, saúde, história: os jovens mestres e doutores da USP seguem a tradição de produção de conhecimento na Universidade nas mais diversas áreas. Uma mostra disso são a engenheira agronômica Adriana Lorenzi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, a historiadora Ana Maria Dietrich, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), em São Paulo, e o engenheiro Ernane José Xavier da Costa, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), em Pirassununga. Os três representam a nova geração de cientistas que conduzirá a USP nas próximas décadas.

O perigo das toxinas – Em 1996, uma tragédia abalou a cidade pernambucana de Caruaru e expôs uma ameaça crescente no País: cerca de 70 pacientes com problemas renais daquela cidade morreram porque a água utilizada na hemodiálise estava contaminada com toxinas provocadas pelas cianobactérias. Esses organismos tóxicos – antes chamados de algas verde-azuladas – estão cada vez mais presentes nas águas de reservatórios destinados ao consumo humano. A principal causa do problema é o aumento das concentrações de nitrogênio e fósforo provenientes dos esgotos. Algumas dessas cianobactérias produzem toxinas que, quando ingeridas em grande quantidade, podem provocar doenças, inclusive câncer, e levar à morte animais e seres humanos.

A identificação das cianobactérias que produzem toxinas, permitindo a sua localização em áreas de represas do Estado de São Paulo, foi o tema do mestrado de Adriana Sturion Lorenzi, engenheira agronômica formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. Em seu trabalho, realizado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), também em Piracicaba, Adriana desenvolveu e testou um conjunto de oligonucleotídeos iniciadores (dois pequenos pedaços de seqüência de DNA de fita simples), que permitiram identificar as espécies de cianobactérias produtoras da toxina microcistina, isoladas das represas Billings e Guarapiranga, na Grande São Paulo. Os resultados do estudo possibilitam a utilização desse conjunto em análises que viriam a auxiliar no monitoramento da qualidade da água usada para abastecimento público.

No ano passado, a engenheira submeteu parte de sua dissertação de mestrado ao Prêmio Jovem Cientista. Adriana foi a vencedora na categoria Graduados e recebeu a distinção das mãos do vice-presidente da República, José Alencar, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto em novembro. “Fiquei muito contente, pois o prêmio é um dos mais reconhecidos em toda a América Latina e vai representar muitas oportunidades na minha carreira”, diz. Aos 27 anos, a jovem pesquisadora prepara-se para encarar novos desafios: no início de fevereiro faz a apresentação de sua dissertação no Cena e começa o doutorado. A linha de pesquisa e a orientadora, professora Marli de Fátima Fiore, serão as mesmas. Para o futuro, Adriana almeja ainda um pós-doutorado – o que, com a seriedade que tem caracterizado seu trabalho até aqui, certamente será mais um alvo alcançado.

Sinais cerebrais – Um trabalho desenvolvido ao longo de cinco anos por pesquisadores do Laboratório de Comunicações e Sinais (LCS) da Escola Politécnica da USP foi a base da tese de doutorado do professor Ernane José Xavier da Costa, defendida no final de 2000. Nela foi apresentada a primeira interface cérebro/computador da América Latina. O estudo mostrou um software capaz de identificar e decodificar sinais cerebrais em duas situações: direita e esquerda. Por intermédio desse software, um computador poderá obedecer a comandos emitidos diretamente por sinais cerebrais.

Segundo Xavier, esses são os sinais mais difíceis de ser interpretados por sistemas de redes neurais. “Quando uma pessoa pensa em movimentar o braço esquerdo ou o direito, os sinais são completamente distintos”, explica. “Conseguimos demonstrar que a imaginação do movimento, ora para a direita, ora para a esquerda, tem padrões diferentes representados no eletroencefalograma.” O software foi desenvolvido dentro do Projeto Nebrasp (sigla em inglês para Processamento de Sinais Cerebrais Usando Redes Neurais) do LCS.

Xavier (esquerda) e Ana Maria:
pesquisas importantes sobre o cérebro
e o nazismo no Brasil

Para que o computador obedeça aos sinais cerebrais, existe a necessidade de um treinamento prévio, o que dura, em média, dois meses. Na tela do computador, um círculo branco com cerca de 15 centímetros de diâmetro identifica as ordens do usuário, que são emitidas na forma de pensamentos: esquerda ou direita. “O círculo obedecerá aos comandos de acordo com a capacidade de concentração do usuário”, diz Xavier. Com as mãos colocadas sobre uma mesa, a pessoa imagina que está pegando o círculo e movendo-o para um dos lados. A conexão com o computador é feita por uma espécie de touca, onde são ligados eletrodos que ficam em contato com regiões predeterminadas do cérebro. Cada um dos cerca de 40 voluntários que participaram das pesquisas passou por aproximadamente 20 sessões experimentais.

Aos 35 anos, Ernane Xavier leciona na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, onde desenvolve dois projetos na mesma linha de pesquisa. Um deles estuda a influência dos sinais cerebrais na identificação dos sabores – os sinais elétricos que diferenciam o doce do salgado são separáveis. O outro, que tem financiamento da Fapesp, monitora a atividade elétrica cerebral em bovinos. O objetivo é detectar o estresse dos animais antes que eles apresentem os sintomas característicos, como perda de peso e diminuição na produção leiteira.

O Brasil nazista – O Brasil foi o país com o maior número de filiados ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães – ou simplesmente Nazista – fora da Alemanha, enquanto São Paulo liderava o ranking dos filiados entre os Estados do País. As informações fazem parte da pesquisa da historiadora e jornalista Ana Maria Dietrich, que atualmente realiza doutorado “sanduíche” – parte no Brasil, parte no exterior – na Universidade Técnica de Berlim, na Alemanha. Lá, Ana Maria dá continuidade à sua pesquisa de mestrado, que resultou na dissertação “A caça às suásticas – O Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia Política”, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em 2001.

A organização nazista funcionou livre e explicitamente no Brasil de 1928 a 1938, quando o partido foi proibido. A sua seção brasileira teve 2.822 filiações e editou um jornal semanal. Uma das hipóteses a ser investigada por Ana Maria é o funcionamento clandestino do grupo no País até o final do conflito, em 1945.

Um exemplo da ação nazista, de acordo com os prontuários do extinto Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), era a Escola Alemã da Vila Mariana, onde os professores iniciavam a aula com o Heil Hitler e os alunos se reuniam em movimentos como a Juventude Hitlerista. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942, causou forte impacto na vida das comunidades de descendentes dos países do eixo (Alemanha, Itália e Japão). Como parte da política de “nacionalização”, os professores alemães tiveram que ser substituídos por brasileiros natos e a escola, fundada em 1901 com o nome de Villa Mariana Schule, passou a se chamar Ginásio Brasileiro Benjamin Constant. Clubes tradicionais ligados à comunidade italiana também tiveram que abandonar o nome Palestra Itália – caso do Palmeiras, em São Paulo, e do Cruzeiro, em Belo Horizonte.

Depois de trabalhar em arquivos no Brasil, Ana Maria, 30 anos, investiga fontes na Alemanha. No berço do nazismo, ela tem acesso ao material da Ausländer-Organisation – o departamento que se ocupava da organização do partido em outros países. Em terras alemãs, conseguiu ainda localizar e entrevistar familiares de membros do Partido Nazista no Brasil. Formada em História pela FFLCH e Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo, também está atuando em Berlim como pesquisadora convidada do Centro de Anti-Semitismo da Universidade Técnica.


 

 

 




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