No dia 17 de março passado, às 10 horas,
o Plenário Ulysses Guimarães da Câmara dos Deputados,
em Brasília (DF), foi palco de discursos dirigidos à
história dos 70 anos da USP. Ao longo das duas horas de homenagens,
circularam pelo plenário mais de 80 deputados, que não
economizaram palavras para lembrar a USP como a maior instituição
de ensino do País e, acima de tudo, como um templo do saber
no Brasil.
Integraram a mesa da sessão solene o reitor da USP, Adolpho
José Melfi, o pró-reitor de Pesquisa, Luiz Nunes de
Oliveira, a presidente da Comissão dos 70 anos da USP, Maria
Ruth Amaral Sampaio, e o presidente do Sistema Integrado de Saúde
da Universidade, Aldo Junqueira.
Mais do que um acontecimento educativo-cultural, foi uma atitude
política, reflexo das substanciosas mudanças então
em curso na sociedade brasileira, lembrou o presidente da
Câmara, João Paulo Cunha, ao abrir a sessão,
considerando a criação da USP, em 1934, como um reflexo
do borbulhar intelectual que rodeava a cidade de São
Paulo após a Revolução Constitucionalista de
1932.
O deputado Antonio Carlos Mendes Thame, do PSDB de São Paulo,
um dos autores da proposta de realização da sessão
solene, afirmou que, embora esteja situada no Estado de São
Paulo, a USP é a mais brasileira das universidades,
pois 40% dos seus alunos vêm de diversas partes do País.
O parlamentar ainda afirmou, ao fazer uma reflexão sobre
o presente e o futuro do ensino, que a USP garante ao Brasil soberania
e autonomia técnica-científica. Países
que não conseguem ter o domínio sobre a geração
de conhecimento ficam caudatários, ficam na dependência
de outros países, que acabam dominando os processos mais
lucrativos e auferindo uma plus-valia sem precedentes, como nunca
se viu nos séculos passados.
Também estiveram presentes e assinaram a proposta de realização
da sessão solene em homenagem aos 70 anos da USP os deputados
Paes Landim, do PTB do Piauí, e João Herrmann Neto,
do PPS de São Paulo. Este último conduziu a presidência
do plenário após a saída do deputado João
Paulo Cunha.
Em seu discurso, Paes Landim criticou a burocracia federal e destacou:
A USP deveria ser objeto de reflexão para as políticas
públicas do governo brasileiro com respeito à educação
superior, ao Ministério da Educação, porque,
se tivesse sido padronizada pela burocracia federal, ela não
seria hoje essa grande universidade que é, uma das cem maiores
do mundo. O deputado completou: Cabe, portanto, ao nobre
reitor da USP e a seus dirigentes, resgatar continuamente a idéia
dos seus fundadores: transformar a USP na guardiã da cultura,
do saber, da pesquisa e da experiência científica em
nosso País.
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O
reitor Adolpho José Melfi na Câmara: justa homenagem
a uma instituição que honra o Brasil |
Os comunistas tiveram dentro da USP, como em outros centros
de ensino do País, um átrio e um caldo de cultura
excepcional para realizar a proliferação das nossas
idéias, lembrou João Herrmann Neto em seu discurso,
lembrando que a história do PPS está firmemente enraizada
na USP.
A solenidade foi seguida por homenagens e agradecimentos de representantes
de diversos partidos, que enfatizaram a importância da USP
na formação cultural do País, deixando explícito
que uma nação não se forma apenas pela sua
extensão territorial, pelo número de habitantes ou
por seus políticos, mas pela qualidade da educação.
Nesse sentido, enfatizaram as lideranças políticas,
é dever dos políticos cuidar para que a educação
não seja privatizada, para que a universidade pública
tenha seu futuro garantido dentro de um governo que preserva a democracia,
a pluralidade e uma sociedade justa.
Sucesso
Tantas honras têm sua razão de ser. Atualmente, a USP
é responsável por cerca de 30% de toda a produção
científica do Brasil. Com mais de 70 mil alunos 40
mil de graduação, 25 mil de pós-graduação
e 6 mil de especialização , ela possui 36 unidades,
que ministram ensino, realizam pesquisa de ponta e ainda prestam
serviços diretos à população através
das atividades de extensão universitária. Ligadas
a todas as áreas do conhecimento da física
e engenharia, passando pela medicina e biologia, até a filosofia
e a sociologia , essas unidades estão distribuídas
em seis campi, localizados em São Paulo, Bauru, Piracicaba,
Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos. A cada
uma dessas cidades, a instalação da USP levou, mais
do que a melhoria da qualidade do ensino superior, também
o desenvolvimento econômico e social. Quase 5 mil professores
e 15 mil funcionários formam os recursos humanos da instituição.
Fundada em 25 de janeiro de 1934, a USP foi concebida por um grupo
de intelectuais que sentiam a necessidade de dotar o País
de uma universidade moderna, dedicada ao estudo de todas a ciências.
Entre esses intelectuais estavam o interventor Armando de Salles
Oliveira que assinou o decreto de criação da
USP , o educador Fernando Azevedo e o diretor do jornal O
Estado de S. Paulo, Júlio de Mesquita Filho.
Muito citado pelos deputados na sessão solene realizada na
Câmara, Mesquita traçou o plano de contratar docentes
na Europa para lecionar na nova universidade. Não havia,
no Brasil dos anos 30, recursos humanos suficientes para dar conta
de uma instituição tão especializada e diversificada
como a USP. Entre os professores contratados estavam os mestres
franceses Claude Levy-Strauss, Jean Maugüe, Fernand Braudel
e Roger Bastide nomes que, mais tarde, se tornariam referência
em suas áreas de atuação no século 20.
Os professores franceses, italianos, alemães e portugueses
compuseram o primeiro corpo docente da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras (FFCL), a unidade fundada em 1934 para dar à USP
o caráter interdisciplinar típico de uma universidade
moderna. Além dela, outras instituições já
existentes se uniram para formar a USP. É o caso da Faculdade
de Direito, da Faculdade de Medicina, da Escola Politécnica,
em São Paulo, e da Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (Esalq), em Piracicaba. Foi essa instituição
tão bem-sucedida em sua trajetória de 70 anos que
os deputados se dedicaram a enaltecer no dia 17 passado, em Brasília.
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