O
cirurgião Macoto: nova tecnologia é ótima oportunidade
de promover o ensino, a pesquisa e a extensão em benefício
de toda a população
V ocê já ouviu falar de ATM? A sigla significa
muito mais do que um código estranho usado por especialistas.
Disfunções na ATM (Articulação Temporomandibular)
e DTM (Disfunção Temporomandibular) podem ser causadas
por traumatismos diversos, má oclusão dentária
(mordida inadequada), mastigação errada (desde a infância),
bruxismo (ranger dos dentes ao dormir), tumores e dentes tortos.
As múltiplas conseqüências do problema vão
de dor localizada a sérias dificuldades de mastigação
e respiração. Também podem ocorrer zumbidos
no ouvido e diminuição da audição.
Pior: não é raro o diagnóstico de quadros depressivos
em pacientes que convivem há anos com o problema. No caso
da dor, pode ser combatida com analgésicos e a ingestão
de alimentos macios, que exigem menos trabalho da articulação.
Mas o que todos buscam mesmo é a reabilitação
completa, que, basicamente, significa o resgate da capacidade de
abrir e fechar a boca, sem dor.
É essa a busca de Rosângela Barbosa, 38 anos, portadora
de fissura labiopalatal que apresenta complicações
de ATM. Moradora em Natal (RN), Rosângela viaja, há
duas décadas, 3.083 quilômetros em busca de tratamento
especializado no Hospital de Reabilitação de Anomalias
Craniofaciais da USP, o popular Centrinho, em Bauru. A distância
continua a mesma, mas o caminho agora ficou menos acidentado. Rosângela
é uma das duas pessoas escolhidas pelo hospital para receber,
pela primeira vez na instituição, a prótese
total de ATM.
Doado por um fabricante norte-americano, o dispositivo resultado
direto de uma pesquisa internacional que começou em 1993
poderá ser fundamental para melhorar a qualidade de
vida da paciente, que já encarou uma maratona de 40 cirurgias
corretivas, mas não se livrou da dor na região da
face. Este é um degrau a mais que vou subir rumo à
minha reabilitação definitiva. Muitas vezes, não
conseguia comer por causa da dor, conta. A expectativa positiva
é confirmada pelo cirurgião bucomaxilofacial Roberto
Macoto Suguimoto, do Centrinho. Não só ela,
mas todos nós estamos animados com essa nova tecnologia à
qual teremos acesso.
O outro beneficiado pela prótese total, Reginaldo Aparecido
Meronha, toca teclado numa banda de rock em Jaú (região
de Bauru) e sofre de anquilose (limitação de
movimento de articulação) e retrusão mandibular
severa (caracterizada pelo aspecto de queixo pequeno). Quem
sabe ele não passe até a cantar depois da cirurgia,
aposta o pai, o aposentado Rafael Meronha. Aos 22 anos, Reginaldo
já passou por duas cirurgias para a liberação
da anquilose e enxertos costocondral (da costela) e esternoclavicular
(da clavícula), mas continua com dificuldade de abrir e fechar
a boca. A fala também é seriamente comprometida. Esses
casos apresentam o quadro ideal para que possamos utilizar a prótese
total. Por isso, foram os escolhidos, explica Macoto.
Sob
medida
Profissional do Centrinho desde 1987 e reconhecido como uma referência
em sua área de atuação, Roberto Macoto ressalta:
a disfunção na ATM pode ser descoberta em um exame
odontológico de rotina. A partir daí, o tratamento
tem diversas possibilidades, que vão desde a adoção
de técnicas odontológicas corretivas convencionais
(inclusive com relaxamento da mandíbula por meio de placas
miorelaxantes relaxadoras dos músculos da mastigação
e uso de aparelhos móveis de ortopedia maxilar) até
a intervenção cirúrgica para os casos mais
complexos, como reposicionamento de menisco e, em último
caso, a prótese total.
Produzida quase que integralmente em titânio (metal leve,
ultra-resistente, com grande capacidade de se integrar
ao organismo), o dispositivo começou a ser fabricado em 1997,
nos Estados Unidos. A prótese nada mais é do que uma
liga posicionada cirurgicamente para substituir, em caráter
definitivo, o mecanismo de articulação temporomandibular.
Em um extremo, fixa-se no crânio (região da chamada
fossa mandibular) e, no outro, substitui a região final da
mandíbula, devolvendo a sua função condilar
(de movimento) e adaptando-se à anatomia original do paciente
(veja a ilustração abaixo).
No Centrinho, enxertos de clavícula e costela do próprio
paciente já foram utilizados para tentar recuperar as funções
articulatórias, mas a expectativa pela prótese total
é grande por se tratar de uma evolução tecnológica
e instrumental no processo de reabilitação, evitando
transtornos como dor, limitação de movimento, cicatriz
e infecções que podem ocorrer na área doadora
do paciente, nos casos de enxerto.
Feita sob medida, a partir de modelos dos crânios dos pacientes,
a prótese é desenhada por um programa
de computador e recebe retoques manuais no final do processo de
produção. Por se tratar do que se pode chamar de peça
personalizada, seu custo é alto: cerca de US$ 11 mil
cada (cerca de R$ 30 mil).
O Centrinho tem, hoje, 60 mil pacientes cadastrados todos
pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Na fila de espera
por uma prótese total de ATM estão, neste momento,
20 pacientes inscritos para atendimento no hospital. Segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde), cerca de 60%
da população mundial sofre de algum tipo de disfunção
na articulação temporomandibular. No Brasil, centros
de estudos de São Paulo e Pernambuco estimam que 40% da população
adulta apresente a mesma síndrome em menor ou maior grau
de gravidade. A julgar pelo número de desdentados e semidesdentados
(universo superior a 20 milhões de pessoas no País),
os problemas na ATM podem ser ainda mais comuns do que parecem.
Isso só aumenta nossa responsabilidade para continuar
as pesquisas por soluções e acreditar em intercâmbios
que podem jogar novas luzes sobre as questões que envolvem
a ATM, diz Macoto.
Curso
em Bauru
As cirurgias para colocação da prótese total
de ATM nos dois pacientes do Centrinho, marcadas para os dias 25
e 26 de maio, foram viabilizadas a partir de doação
dos dispositivos pelo fabricante norte-americano TMJ Concepts System.
O presidente da empresa, David Simson, estará em Bauru no
período. Ele e o doutor em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial
Éber Luís de Lima Stevão vão ministrar
o curso Prótese Total de ATM para estudantes e profissionais
de odontologia no dia 24 de maio. Com esses eventos no centro
odontológico do hospital, teremos uma oportunidade única
para divulgar essa técnica cirúrgica reabilitadora
de ponta. É, enfim, uma forma dinâmica de democratizar
pesquisa, conhecimento e tecnologia que, no final das contas, existem
para beneficiar a população, comenta Roberto
Macoto.
Os participantes do curso terão acesso à íntegra
de um programa especialmente montado para a ocasião, que
inclui o preparo ortodôntico para a cirurgia ortognática
(recomendada para alinhamento das bases ósseas entre a maxila
e a mandíbula), além de assimilar detalhes das fases
que integram as cirurgias coadjuvantes à ortognática
e as etapas do processo de reposicionamento do disco articular e
de reconstrução da articulação temporomandibular.
Ambas as cirurgias serão transmitidas simultaneamente para
os participantes do curso, que acompanharão os procedimentos
em tempo real. Informações e inscrições
para o Curso de Prótese Total de ATM podem ser obtidas pelo
telefone (14) 3235-8437 ou pelo endereço eletrônico
eventos@centrinho.usp.br.
Instituto
de Psicologia tem
nova diretora
A
professora Maria Helena Souza Patto assume nesta terça-feira,
dia 20, o cargo de diretora do Instituto de Psicologia da
USP. A cerimônia de posse será realizada às
17 horas, na Sala do Conselho Universitário (rua da
Reitoria, 109, Cidade Universitária). Docente do Departamento
de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade,
Maria Helena se dedica, em suas pesquisas, a estudar o chamado
fracasso escolar das crianças dos segmentos
mais pobres dos centros urbanos do Brasil. Para isso, ela
recorre a áreas que vão da filosofia da educação
e da história das ciências humanas até
a psicologia e a sociologia. Essas pesquisas contribuem como
base para a investigação de duas questões
fundamentais para o entendimento do fracasso escolar: o preconceito
racial e social e o seu papel social, econômico e político,
de um lado, e as relações entre ciência
e ideologia, de outro. Entre as publicações
da nova diretora do Instituto de Psicologia estão Psicologia
e ideologia: uma introdução crítica à
psicologia escolar (T.A. Queiroz, 1984) e A produção
do fracasso escolar: histórias de submissão
e rebeldia (T.A. Queiroz, 1990).
Livro
lançado na Bienal analisa
as telenovelas
A
professora Maria Immacolata Vassallo de Lopes, da Escola de
Comunicações e Artes (ECA) da USP, é
a organizadora do livro Telenovela: internacionalização
e interculturalidade, lançado no dia 17 passado, na
18a Bienal Internacional do Livro. Publicada pela Editora
Loyola, a obra reúne ensaios de pesquisadores sobre
várias questões a respeito das telenovelas,
entre elas a recepção desse gênero em
outros continentes. A telenovela tem sido um produto
determinante na criação de uma capacidade televisiva
nacional que se projetou não só numa extensiva
produção, como também numa particular
apropriação desse gênero, isto é,
a sua nacionalização, afirma texto de
apresentação do livro. O que tem tornado
a telenovela um enclave estratégico para a produção
audiovisual brasileira é o seu peso no mercado televisivo,
tanto quanto o papel que joga na construção
das imagens que os brasileiros fazem de si mesmos e através
das quais se reconhecem. Além de Maria Immacolata,
assinam os ensaios os professores Ismail Xavier, também
da ECA, Jesús Martín Barbero, da Universidad
Javeriana, na Colômbia, Lorenzo Vilches, da Universidade
Autônoma de Barcelona, na Espanha, e Milly Buonanno,
da Universidade de Firenze, na Itália, entre outros.
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