Na quarta rodada de negociação salarial
nas três universidades públicas paulistas USP,
Unesp e Unicamp realizada na Unicamp segundafeira (7), o
Conselho de Reitores (Cruesp) manteve a posição de
não oferecer nenhum reajuste por enquanto, por impossibilidade
orçamentária, mas apresentou uma fórmula de
cálculo (ler a nota oficial nesta página) que deverá
orientar a política salarial das universidades este ano.
Tudo depende basicamente da evolução da arrecadação
do ICMS pelo Estado. Se se confirmar a tendência de crescimento,
o comprometimento acumulado dos recursos com pessoal, especialmente
na Unicamp e na Unesp, poderá baixar a níveis que
possibilitem algum reajuste de salários durante o ano, a
partir de outubro (pagamento em novembro).
Depois do encontro dos reitores Carlos Henrique de Brito Cruz, da
Unicamp e presidente do Cruesp, Adolpho José Melfi, da USP,
e José Carlos Souza Trindade, da Unesp, com o Fórum
das Seis entidade que representa os interesses dos professores
e funcionários o professor Melfi analisou a quarta
rodada de negociação (a primeira foi realizada há
exatamente um mês), dizendo que a fórmula apresentada
pelo Cruesp reflete a política salarial a ser aplicada este
ano. Nessa fórmula é extremamente importante a massa
de arrecadação pelo Estado. Se chegar a R$ 32,8 bilhões,
fará com que o comprometimento com pessoal na Unicamp e na
Unesp esteja em torno de 90%. A partir daí um aumento poderá
ser dado. Isso em outubro. Por enquanto, o conselho mantém
a posição de não dar nada porque não
existe possibilidade. No entanto, como a arrecadação
do ICMS está aumentando existe a previsão bastante
razoável de que em setembro se tenha atingido, não
os R$ 32,8 bilhões, mas uma avaliação do arrecadado
até setembro e uma projeção para até
dezembro. Então poderemos aplicar a fórmula,
disse o reitor da USP. O Fórum das Seis vai discutir em assembléias
a proposta dos reitores e na sexta-feira (18) haverá novo
encontro.
Melfi
assegura que a criação de vagas e de cursos nas universidades
públicas em nada influencia as negociações
salariais. Em primeiro lugar, afirmou, porque até agora toda
a expansão, não apenas na zona leste da Capital, mas
também de outros cursos, foi feita com verbas extra-orçamentárias.
Tanto para pagamento de docentes como da infra-estrutura física
e custeio. Existe, segundo o reitor, um compromisso do governo de
apoiar esse modelo durante dez anos. Depois disso, evidentemente,
a Universidade espera que haja aumento de arrecadação.
Mas a verdade é que o montante relacionado com o pagamento
de professores correspondente à expansão não
vai praticamente onerar a folha. Até 2008 há recursos
para pagamento de pessoal com verba extraorçamentária;
depois disso, se não os houver, a zona leste terá
impacto relativamente pequeno. Já foi mostrado que se a Universidade
tivesse colocado todas as contratações no orçamento
normal, sem considerar os recursos extra-orçamentários,
o impacto na folha de pagamento seria de 0,2%, ou nem isso.
A propósito da situação orçamentária
nas três universidades públicas, Melfi disse que a
isonomia salarial é completa, embora existam determinados
parâmetros, algumas gratificações que variam
um pouco de uma instituição para outra. Estamos
trabalhando no sentido de ter uma convergência do ponto de
vista de benefícios ou gratificações. Mas os
salários são os mesmos. Ainda a propósito do
comprometimento da folha de pagamento, Melfi afirmou que na Unicamp,
até o mês passado, era de 95,29%, na Unesp de 93,40%
e na USP, um pouco acima de 86%. A situação na Unicamp
e na Unesp acaba impedindo que neste momento se faça qualquer
reajuste salarial. Disse Melfi: Estamos trabalhando na fórmula
também com comprometimento muito alto. Na hora em que a Unesp
e a Unicamp atingirem 90% consideramos que poderíamos
dar aumento. De qualquer modo, os reitores têm na recuperação
econômica do País a expectativa e contam com ela não
apenas para dar reajuste salarial, mas igualmente para aumentar
os gastos com custeio, hoje muito pouco significativos.
Adusp
Para o presidente da Adusp (Associação dos Professores),
Américo Kerr, na rodada de segunda-feira os reitores apresentaram
uma proposta de política salarial inaceitável, porque
ela daria zero. Kerr disse que os reitores estão assumindo
como referência de política salarial o nível
de comprometimento acumulado da Unicamp neste ano, em torno de 95%
e em queda. Segundo a Adusp, é preciso considerar uma política
pela qual a universidade vá aliviando a sua conta, mas também
a dos trabalhadores, pois estes representam o maior patrimônio
da instituição. Eles disseram que, para esse
nível de arrecadação para a Unicamp ficar bom,
seriam necessários R$ 33,5 bilhões de arrecadação
pelo Estado. Nossa estimativa que os reitores consideram
perigoso exercício de futurologia era de R$ 33,17
bilhões. A partir de R$ 33,5 bilhões eles passariam
a dar algum reajuste, e só em outubro, para receber em novembro.
É inaceitável. Temos de considerar que, se há
crescimento acima do previsto, então uma parte deve ir para
salários, outra para custeio. Uma recuperação
nas duas pontas. Mas eles apresentaram um zero. Trouxeram o valor
de R$ 32,8 bilhões, o que significaria a Unicamp fechar a
conta em 90% no final do ano, não em 88%. Isso continua insuficiente.
Se a economia continuar no ritmo de hoje significaria um reajuste
de 1,3% mais ou menos em novembro, para completar em janeiro o total
de 1,6%. Isso é nada.
As entidades que representam professores e funcionários
lutam também por maior porcentagem do ICMS para as universidades
públicas. Para isso, estão promovendo encontros no
Palácio do Governo e na Assembléia Legislativa com
autoridades do governo e deputados.
Servidores
protestam na Assembléia
No
último dia 3, cerca de 1.500 pessoas entre funcionários,
alunos e professores da USP, Unicamp, Unesp e Centro Paula Souza
realizaram uma passeata iniciada no Masp, na avenida Paulista,
e que se dirigiu até a Assembléia Legislativa de São
Paulo, no Ibirapuera. Caminhando debaixo da chuva e do frio, os
manifestantes distribuíram panfletos à população
explicando os motivos da greve nas universidades estaduais, deflagrada
em maio. Os servidores pedem 16% de reajuste salarial.
Na chegada à sede do Legislativo, centenas de representantes
das categorias superlotaram o plenário Teotônio Vilela
para participar de uma audiência pública da Comissão
de Cultura, Ciência Tecnologia da casa. Devido à limitação
do espaço, a segurança não
permitiu a entrada de todos os manifestantes, e muitos permaneceram
junto ao carro de som, do lado de fora do prédio.
Como apenas dois dos 14 deputados da comissão estavam presentes
na abertura dos trabalhos, principalmente devido ao não comparecimento
de parlamentares dos partidos que apóiam o governo do Estado,
a sessão não pôde ser considerada oficial. O
deputado Jonas Donizette (PSB), presidente da comissão, manteve
o encontro como reunião informal.
Recursos
Diversos
representantes do Fórum das Seis que integra os sindicatos
de professores e funcionários da USP, Unicamp e Unesp
se manifestaram na sessão. O professor Francisco Miraglia,
vice-presidente da Adusp (Associação dos Docentes
da USP), apresentou o documento entregue aos deputados com as propostas
das entidades.
Denise Rykala, do Centro Paula Souza, expôs a situação
dos trabalhadores da instituição, ligada à
Unesp, que estão sem reajuste salarial desde 1996. Os sete
mil funcionários reivindicam o recebimento dos mesmos porcentuais
de aumento dados pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais
Paulistas (Cruesp).
Américo Kerr, presidente da Adusp, defendeu que os recursos
destinados para a educação no Estado sejam definidos
a partir de alíquotas do Produto Interno Bruto (PIB), e não
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS), como atualmente. Kerr lembrou que apenas 18% dos jovens
brasileiros entre 18 e 24 anos cursam faculdade, e, no Estado de
São Paulo, somente 10% o fazem numa universidade pública.
Documento
Os representantes do Fórum das Seis iniciaram, logo depois
da sessão, uma peregrinação pelos
gabinetes dos deputados para entregar um documento com as reivindicações
da entidade. O Fórum pede que seja revogado o recolhimento
de 5% dos salários dos professores para o Tesouro Estadual
e a revisão do Decreto 48.034, que concede isenção
de ICMS na aquisição de bens, mercadorias ou serviços
pelo governo do Estado.
Os sindicalistas reivindicam também a aprovação
de uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) de 2005 aumentando dos atuais 9,57% para 11,6% o porcentual
do ICMS destinado à manutenção das universidades
estaduais, da aprovação de 2,1% do imposto para o
Centro Paula Souza, que possui 107 escolas técnicas e 12
Faculdades de Tecnologia (Fatec).
O prazo para entrega de emendas individuais à LDO já
está encerrado, mas elas ainda podem ser encaminhadas por
uma bancada ou diretamente no plenário, caso alcancem o número
mínimo de assinaturas para referendar a proposta. Os deputados
do PC do B já decidiram encaminhar o pedido do Fórum
Seis como emenda da bancada.
A LDO deve ser votada até, máximo, o próximo
dia 30. a Assembléia não pode entrar recesso de julho
antes da aprovação da lei, caso seja necessário
haverá uma convocação extraordinária
dos deputados.
Comunicado oficial
Explicação sobre a fórmula de política
salaria proposta para 2004 pelo Cruesp.
Ocorrerá um reajuste salarial em outubro de 2004 caso
haja excedente de arrecadação do ICMS em 2004,
conforme definido pela Proposta de Política Salarial
para 2004.
Coerente com o objetivo de preservar o poder aquisitivo do
salário dos servidores e, ao mesmo tempo, garantir
recursos de custeio para a manutenção das três
Universidades Públicas Estaduais, o CRUESP, em reunião
realizada com representantes do Fórum das Seis, em
7 de junho do corrente, propõe a aplicação
de política salarial para 2004 baseada na fórmula
abaixo detalhada:
A = 0,0957 x 0,84 [ I1 + I2 + I3 + ... + I6 + 2(I7 + I8 +
I9) 32,8 ]
O reajuste a ser concedido em outubro de 2004, se A for positivo,
será dado por:
R = A x 0,8 x 100%
8,33 x S9
onde:
I é o ICMS do mês
S9 é a massa salarial de setembro/ 2004
R = Índice de reajuste salarial
A = 0,0957 x 0,84 [ I1 +.......+ I6 + (I7 + I8 + I9) x 2
32,8]
Onde: 32,8 bilhões de reais = parâmetro que representa
a estimativa da arrecadação mínima de
ICMS, quota-parte do Estado, excluídos os Programas
Habitacionais, julgada indispensável para cobrir todas
as despesas com folha de pagamento, sem que haja necessidade
de novos cortes nos gastos programados de custeio e capital.
Neste caso o comprometimento do orçamento com a folha
de pagamento das Universidades será de: UNICAMP 89,86%,
UNESP 89,52% e USP 84,57%. O crescimento da arrecadação
de ICMS contribuirá também para que o Estado
esteja abaixo
do Limite Prudencial estabelecido pela Lei de Responsabilidade
Fiscal.
I1
+........+ I6 + (I7 + I8 + I9) x 2 = previsão do ICMS
2004 em R$ bilhões, que consiste no somatório
do ICMS efetivamente arrecadado até setembro, mais
uma previsão do último trimestre do ano, com
base na arrecadação efetiva do terceiro trimestre.
O excedente de arrecadação em 2004 é
obtido pela subtração do parâmetro 32,8
da previsão do ICMS 2004. Multiplicando-se excedente
por 0,0957, obtém-se quota-parte que caberá
às três Universidades. Em seguida, serão
reservados 84% desses recursos para o reajuste salarial de
outubro (pagamento em novembro), multiplicando-se, para tanto,
o excedente novamente por 0,84 na fórmula acima. Assim,
A representa a quantia em reais disponível para o reajuste,
caso se verifique a existência de eventual excedente
de arrecadação em 2004.
O reajuste resultante, em pontos percentuais, será
dado pela fórmula R = (A/(8,33 x S9)) x 0,8 x 100,
em que S9 é a massa salarial conjunta das três
Universidades no mês de setembro. Notese que há
uma divisão de A no período de sete meses que
vai de outubro de 2004 a abril de 2005 (a divisão por
8,33 corresponde aos sete meses mais 13º salário
mais 1/3 férias): 80% de A serão aplicados no
reajuste salarial os 20% restantes comporão um fundo
de reserva, cuja aplicação será designada
em janeiro de 2005, após a verificação
dos dados definitivos da arrecadação do ICMS
de dezembro de 2004.
Com essa proposta, espera-se que a comunidade acadêmica
entenda os esforços que vêm sendo feitos no sentido
deassegurar as condições de funcionamento das
três instituições e retorne às
atividades normais.
Cruesp
Campinas, 8 de junho de 2004
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