Candidatos fazem o vestibular da Fuvest: projeto
pedagógico da USP Leste é inspirado na célebre
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
Inspirado
nos conceitos que em 1934 nortearam a fundação da
então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL),
o Projeto USP Leste iniciado em maio de 2002, quando a Reitoria
instituiu um grupo de trabalho com vistas à criação
de um novo campus previa desde seu início um centro
integrado, concentrando cursos das áreas de artes, ciências
e humanidades. A união dessas três grandes áreas
do conhecimento numa só unidade reflete os aspectos gerais
do projeto pedagógico da nova faculdade. Inovadora,
original, multidisciplinar, crítica e humanística
talvez sejam as palavras que melhor expressem a concepção
pedagógica, diz o professor Renato da Silva Queiroz,
membro da Comissão Central que elaborou as propostas para
a criação do novo campus na capital. Privilegiar a
responsabilidade social, a cidadania e o pensamento crítico
e abrangente, como exige o mundo globalizado, são as diretrizes
que os professores da USP Leste vão adotar nas aulas que
começam em 28 de fevereiro, acrescenta.
Hoje os jovens ingressam no ensino superior visando a adquirir
habilidades para exercer uma profissão, mas, em cursos muito
especializados ou técnicos, geralmente falta uma formação
mais ampla e crítica, afirma Queiroz. Assim,
pensamos numa unidade que pudesse evocar em algum sentido a antiga
FFCL, que ensinava ciências naturais e aplicadas com o mesmo
peso dado às humanidades e às artes. Daí foi
concebido o Ciclo Básico, que será ministrado em todos
os cursos com o intuito de dar base humanística e conhecimentos
gerais para os estudantes.
No Ciclo Básico, dez disciplinas iguais para todas as áreas
serão distribuídas em dois semestres. No primeiro,
serão estudadas Ciências da Natureza; Tratamento e
Análise de Dados/Informações; Antropologia
e Multiculturalismo na Sociedade Contemporânea; Resolução
de Problemas I; e Estudos Diversificados I. No segundo semestre,
o ciclo básico é composto por Psicologia; Educação
e Temas Contemporâneos; Sociedade, Meio Ambiente e Cidadania;
Arte, Literatura e Cultura no Brasil; Resolução de
Problemas II; e Estudos Diversificados II. Apenas duas disciplinas
específicas de cada curso serão ministradas tanto
no primeiro como no segundo semestre. Em compensação,
nos outros semestres haverá apenas as matérias específicas
de cada campo.
Para a coordenadora do Ciclo Básico, professora Valéria
Amorim Arantes de Araújo, a estrutura curricular elaborada
para a USP Leste propicia aos alunos uma visão geral
dos fenômenos e a possibilidade de atuar de perto nos
problemas da comunidade.
A presidente da Comissão Central da USP Leste, professora
Myriam Krasilchik, diz que os cursos foram estruturados a partir
de propostas de grupos de professores e da relevância profissional
e social de cada carreira. Além disso, consultamos
mais de 5 mil alunos de escolas públicas, particulares e
de cursinhos da zona leste. Os resultados das inscrições
referendam o grande interesse que os novos cursos suscitam,
acredita.
Para Myriam, os cursos disponíveis no novo campus respondem
de alguma forma às demandas profissionais do mercado, mas
sem deixar de lado a importância acadêmica, a formação
do cidadão e seu papel social. Claro que consideramos
as necessidades para a formação profissional, mas
a estrutura pedagógica permite relativizar a importância
do mercado. Pensamos nas tendências futuras nacionais e internacionais,
levando em conta cenários possíveis para o desenvolvimento
das profissões, diz Myriam. Acredito que no campus
leste será possível aplicar a frase pensar globalmente
e agir localmente, especialmente porque todos os cursos e
programas têm uma preocupação muito grande com
a extensão universitária e o relacionamento com a
comunidade.
Novidade
Cerca de 5 mil candidatos se inscreveram para disputar as 1.020
vagas oferecidas pela USP Leste. Para o professor Celso Fabrício
Costa, assistente de direção da Fuvest, embora o número
de inscritos não tenha sido baixo, o nome dos cursos e a
proposta pedagógica inovadora podem ter causado estranheza
e afastado alguns possíveis candidatos. As novidades,
neste caso, demoram um pouco para ser absorvidas, diz. Mesmo
assim, prevemos que no ano que vem as inscrições atinjam
uma média de 10 por vaga, ou seja, o dobro deste ano.
De fato, como diz o professor Costa, a novidade da estrutura pedagógica
parece ainda não ter sido bem assimilada pelos candidatos
que disputaram uma vaga na USP Leste. No dia 13 de janeiro, a reportagem
do Jornal da USP conversou com oito desses candidatos, em frente
à unidade da Universidade Paulista (Unip) do Tatuapé,
uma das escolas onde é feito o vestibular da Fuvest. Dos
oito vestibulandos, apenas um tinha ouvido falar do
ciclo básico, mas pouco sabia dizer a respeito. Entre os
entrevistados, o interesse específico pelo curso, a localização
e a chancela USP foram as principais razões apontadas para
se inscrever.
Técnico em Logística pela Fatec, Robson de Souza Paixão,
morador de Itaquera e candidato ao curso de Gestão Ambiental,
ao ser informado sobre o projeto pedagógico, disse concordar
com a estrutura curricular. O ensino médio em escola
pública não dá uma boa base educacional e,
ao ingressar na USP, o estudante precisa ter essa base ampla. Não
basta ter conhecimento técnico se não souber aplicá-lo
na sociedade, diz Robson. Já o estudante Kim Pereira,
que prestou vestibular para Lazer e Turismo, não concorda
em ter de estudar matérias que não estão diretamente
ligadas à área de atuação que escolheu.
Para que estudar o que não vou usar?, questiona.
Kim se inscreveu no curso pela proximidade do campus à sua
casa e por achar que seria menos concorrido.
Os dez cursos oferecidos pela Escola de Artes, Ciências
e Humanidades (EACH) foram aprovados pelo Conselho Universitário
da USP no dia 18 de maio de 2004. Os cursos são: Ciências
da Atividade Física, Gerontologia, Gestão Ambiental,
Gestão de Políticas Públicas, Lazer e
Turismo, Licenciatura em Ciências da Natureza, Marketing,
Obstetrícia, Sistemas de Informação e
Tecnologia Têxtil e da Indumentária.
O
Conselho Universitário aprovou também, naquela
ocasião, os cursos de Mídias Digitais e de Tecnologia
Musical, que só começarão a funcionar
em 2006.
A
escolha dos cursos teve como base estudos sobre as tendências
do mercado e também uma pesquisa com 5.280 alunos do
último ano do ensino médio de escolas públicas,
privadas, supletivos e cursinhos preparatórios para
o vestibular de todas as regiões da capital. A pesquisa,
coordenada pela professora Valéria Amorim Arantes e
supervisionada pela professora Myriam Krasilchik ambas
da Faculdade de Educação da USP , abrangeu
52 escolas de ensino médio e 16 cursinhos. A coleta
de dados e as entrevistas foram feitas entre os meses de março
e abril de 2003 por uma equipe de 12 alunos de graduação
e mestrado da Faculdade de Educação.
Através
de questionários contendo perguntas abertas e fechadas,
os pesquisadores puderam determinar os cursos que despertam
maior interesse entre os estudantes. Os resultados obtidos
foram bastante diferentes, entre a pesquisa induzida e a não-induzida.
Na questão aberta, cursos tradicionais como Engenharia,
Medicina e Direito tiveram maior escolha. Entre os 22 cursos
sugeridos na pergunta fechada, Informática, Marketing
e Administração de Redes foram os mais selecionados.
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