Um cofre permanece intocável no meio do palco.
Lá dentro estão guardados segredos nunca antes revelados.
São pensamentos sobre o amor, comportamentos tidos no passado,
experiências traumáticas da infância, opiniões
nada convencionais para a sociedade, enfim, segredos que aos poucos
vão saindo do cofre e ocupando a cena. Na peça Segredo,
que está em cartaz no Teatro da Universidade de São
Paulo, o cofre é metáfora dos 17 atores do Grupo Tusp
envolvidos em um processo de compartilhamento daquilo que, até
então, cada um mantinha dentro de si, intocado. Foram ensaios
durante um ano e meio, retiros do grupo no interior de São
Paulo e ajuda de uma equipe de terapeutas para que a memória
voltasse a reviver esses momentos. No palco, os segredos são
interpretados de forma dinâmica e as cenas se revezam em diferentes
cantos do palco, em pequenos ambientes laterais. O jogo de luzes
e a trilha sonora, composta por música popular brasileira
e sátiras como a música do super herói
He-Man , ajudam a compor o ambiente e, às vezes, no
meio do drama, mostrar o lado cômico de algumas revelações.
A peça é parte de um ciclo de montagens inspirado
nos quatro elementos água, terra, fogo e ar ,
trabalho que começou em Horizonte (2000, relacionado à
água) e chegou, com Interior, de 2002, a um mergulho nas
histórias reais vividas pelos integrantes do grupo. Se na
época os atores compartilharam experiências familiares
marcantes (uma volta às raízes, ligada ao elemento
terra), agora o processo foi mais intimista, relacionado ao elemento
fogo. Em Segredo continuamos contando histórias pessoais,
mas histórias que não apareceram em Interior. Foi
um processo de amadurecimento, as questões agora são
mais nebulosas, mais secretas, comenta o diretor Abílio
Tavares. Os temas tratados: o amor, a paixão, o sexo,
a violência, se aproximam muito do fogo, um elemento ambíguo
que ao mesmo tempo que aquece, destrói, completa.
O fogo é também o último reduto dos segredos:
em uma grande roda feita pelos atores, os pequenos papéis
são retirados do cofre, trocados entre duas pessoas e depois
queimados. Uma clara referência à troca de papéis
em cena, já que nenhum ator interpreta a si mesmo. Assim,
não sabemos quem sofreu um abuso sexual em um consultório
médico, quem fazia as brincadeiras proibidas
quando criança, quem tentou se suicidar, quem tem determinada
fantasia sexual. Segundo o diretor, não interessa quem viveu
a experiência ou quem detém o pensamento, o importante
é a transformação que as pessoas passaram ao
revelá-los. Quando a gente guarda um segredo, algo
que a gente não divide, vamos ficando muito sozinhos. Isso
nos afasta do outro, de quem a gente ama. Quando compartilhamos
fazemos um movimento para a transformação.
Segredo
está em cartaz até 26 de junho, sextas e sábados
às 21h e domingos às 20h. No Teatro da USP, que fica
no Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia,
294, Vila Buarque, tel. 3255-5538). Ingressos a R$ 15,00, com meia-entrada.
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