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Análise literária e correspondências

Sobre Os Lusíadas, de Luís de Camões (edição José Maria Rodrigues), Antonio Candido coloca “Curiosa edição conciliatória (como critério), que é fac-similar e traz o aparato crítico,

relativo sobretudo ao cotejo entre as duas famosas edições do poema. Aparato de consulta incômoda”; ou de Álvares de Azevedo, Poesias Completas (edição Frederico e Péricles da Silva Ramos), “Boa edição crítica destinada a uso corrente. O texto foi apurado com atenção, segundo critério justificado no prefácio”. As críticas integram Noções de Análise Histórico-Literária (Humanitas, 114 págs., R$ 15,00), que reproduz parte do material do primeiro curso, Introdução aos Estudos Literários, que Antonio Candido ministrou na Faculdade de Letras de Assis, em 1959, com a proposta que se desse aos problemas de crítica textual mais atenção do que lhe costumavam dar os currículos de Letras. É também da Humanitas o livro Sean O’Faolain’s: Letters to Brazil (173 págs., R$ 25,00, edição em capa dura), que traz a correspondência em inglês entre o romancista e contista irlandês O'Faolain's e Munira H. Mutran, professora do Departamento de Letras Modernas da USP, em que o escritor discorre sobre questões literárias e o contexto cultural do seu país.

 

 

 

Duchamp e Vilaça

Uma edição especial para colecionadores e outra em brochura com a biografia do enigmático artista Marcel Duchamp estão sendo lançadas pela Cosac Naif (588 págs., R$ 400,00 e R$ 59,00, respectivamente). Escrita por
Calvin Tomkins, a obra

relata os amores, amizades e sua arte que até hoje desafia os intérpretes. Duchamp – Uma biografia conta fatos curiosos, como a recusa do quadro Nu descendo a escada, no Salão dos Independentes de 1912, em Paris, considerado uma crítica à estética cubista (que vinha sofrendo ataques diretos dos futuristas) e também por sua semelhança com o espírito de algumas pinturas futuristas; ou sobre a criação por acaso do que viria a ser conhecido por readymade com Roda de bicicleta – como ele disse “foi uma coisa que aconteceu como diversão” –; ou ainda o choque provocado pela obra Fonte, um artefato subversivo, na mostra da Sociedade dos Artistas Independentes, (1917, Nova York), também um readymade que talvez tenha tido o mesmo destino de Roda de bicicleta, o lixo. Também ganha um livro-homenagem o colecionador Marcantonio Vilaça (Cosac Naif, 192 págs., 30,00), prefaciado por Ana Maria Machado, reunindo o que o próprio título sugere, Mensagens. São várias cartas, incluindo a da atual diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP Elza Ajzemberg sobre uma exposição com cerca de 50 obras cedidas em comodato ao museu.

 

 

 


Um passeio pelas ruas e pela obra de Flexor

Um passeio fictício pela capital paulista no final do século 19 é o que propõe a antropóloga Fraya Frehse no livro O Tempo das Ruas na São Paulo de Fins

do Império (Edusp, 272 págs., R$ 59,00). Volta a uma época, em que só os escravos (descalços) andavam nas ruas, muito sujas por causa das carroças e dos cavalos dos tropeiros, dos bondes, quando as famílias mais abastadas começavam a circular, das ferrovias e até da iluminação pública urbana, mostrando a modernização como conseqüência do crescimento econômico. Para isso, a pesquisadora utiliza-se de notícias, editoriais, crônicas e cartas publicadas entre 1870 e 1889, nos jornais A Província de São Paulo, Correio Paulistano e Diário de São Paulo, mantendo a grafia original. Ilustrando, as únicas fotos de ruas e logradouros públicos tiradas pelo carioca Militão Augusto de Azevedo, e charges, principalmente, do caricaturista Ângelo Agostini no semanário domingueiro humorístico Cabrião, uma delas em que um homem aparece cercado por ratos, com os dizeres: “Com todos os diabos! Se isto se chama aceio público, não sei o que os fiscaes denominão porcaria!.., e na segunda parte outro pede licença para os cavalos - "Dão licença que eu passe! Como os fiscaes permitem que tomeis conta das ruas, vejo-me obrigado a pedir-vos este grande obséquio”. É assim que a autora conduz os leitores pela São Paulo das décadas de 1870 a 1880, com a intenção de compreender antropologicamente a história urbana. A Edusp também lança nesta quinta o livro Flexor (ainda sem preço definido), com autoria da fotógrafa alemã radicada no Brasil Alice Brill, reunindo a obra do pintor romeno Samson Flexor. O lançamento acontece a partir das 19h, no Instituto Tomie Ohtake (av. Brig. Faria Lima, 201, Pinheiros, tel. 2245-1908; com entrada pela r. Coropés).

 

 

 

Desenhando a cidade

Aspectos do planejamento e construção do território paulista, parte do processo de modernização do Brasil a partir do fim do século 19, estão retratados no livro Desenhando a Cidade do Século XX (Rima Editora, 148 págs., R$ 28,00), organizado por Maria Lucia Caira Gitahy, pesquisadora e professora da FAU/USP. São seis capítulos: logo no primeiro, aparece o planejamento territorial que antecedeu o planejamento urbano no Estado de São Paulo; o segundo mostra a

posição estratégica do porto de Santos na exportação de café no artigo "O engenheiro Estevan A. Fuertes e seu Plano Sanitário para Santos (1892-1895); no terceiro, a questão da higiene é o foco, mostrando as propostas de Geraldo Paula Souza para São Paulo, no quarto surgem as contradições nos espaços lúdicos da cidade. no quinto, a São Paulo de 1946-1957 e sua representação na música, e no último, o artigo "São Paulo Debate o Moderno, 1956-1968: Um projeto de pesquisa".

 

 

 

O conceito de tolerância

Textos de Paulo Freire, alguns inéditos, estão reunidos na coletânea Pedagogia da Tolerância (Editora Unesp, 329 págs., R$ 35,00), com organização e notas de Ana Maria Araújo Freire, sua mulher. O texto de abertura sintetiza o conceito de tolerância em Freire, que, apesar de ser curto e inacabado, foi escrito a partir da notícia da morte do índio Galdino Jesus dos Santos, destacando a virtude da convivência humana, ou nas palavras do autor “na

tolerância virtuosa não há lugar para discursos ideológicos, explícitos ou ocultos, de sujeitos que, julgando-se superiores aos outros, lhes deixam claro ou insinuam o favor que lhes fazem por tolerá-los”. Há ainda textos sobre temas como a educação indígena, a alfabetização de adultos e reforma agrária, além de cartas e depoimentos que demonstram na prática o reconhecimento e respeito ao outro.

 

 

 

Nação brasileira

Bernardo Ricupero retoma a clássica discussão sobre a formação da nação brasileira em O Romantismo e a Idéia de Nação no Brasil – 1830-1870 (Editora Martins Fontes, 287 págs., R$ 37,50). O livro tenta responder nas palavras do próprio autor “por que a nação foi uma preocupação do romantismo brasileiro e, se ao longo período de maior influência romântica, ela começou a ser estabelecida no Brasil”, em contrapartida à criação do Estado brasileiro. Para isso, parte do período

que vai de 1830 a 1870, mostrando como se estabeleceu a identidade comum, a criação de símbolos e a elaboração de um dialeto político cultural. Ricupero aborda ainda a inspiração nos românticos franceses,citando, por exemplo, o francês Ferdinand Denis, iniciador da crítica literária no Brasil: “A América, enfim, deve ser livre em sua poesia como no seu governo”.

 

 

 




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