Ciclistas na Cidade Universitária:
conflitos com usuários do campus
o Conselho do Campus proibiu, a partir desta segunda-feira,
dia 25, o uso das vias de circulação do campus da
Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira por ciclistas-atletas
sem vínculo com a USP. A proibição se estende
de segunda a sexta-feira. Os ciclistas-atletas poderão utilizar
o campus apenas aos sábados, das 5 às 14 horas, e
nos dias de competições esportivas autorizadas pela
Prefeitura da Cidade Universitária.
Cada vez mais, o campus tem recebido grupos organizados, que vêm
treinar para as modalidades de mountain bike, speed (ciclismo de
estrada), bicicross e triatlon ou apenas para manter a saúde
em dia. Esse fato tem gerado um aumento de incidentes desagradáveis
entre os ciclistas e a comunidade USP. Segundo a Prefeitura do campus,
são constantes as reclamações de docentes,
funcionários e alunos, dirigidas diretamente à Prefeitura,
à Ouvidoria Geral da USP e ao Ministério Público
Estadual, relativas aos grupos de ciclistas-atletas que têm
utilizado as vias da Universidade.
O Conselho do Campus da capital considerou que os ciclistas-atletas,
ao utilizarem as vias de tráfego, colocam em risco a segurança
de pedestres, além da sua própria, bem como causam
transtornos ao fluxo de veículos e de pessoas em geral. Segundo
o ouvidor-geral da USP, professor Ruy Laurenti, as ocorrências
registradas pela Guarda Universitária incluem desentendimentos
entre ciclistas, pedestres, motoristas e condutores de ônibus
circulares. As queixas são quantitativamente consideráveis,
variando de uma a três por semana, afirma o ouvidor.
Para o diretor da Divisão de Operações e Vigilância
da Cidade Univeristária e membro do Conselho do Campus, Ronaldo
Elias Pena, o conselho usou todos os recursos possíveis antes
de determinar a proibição. Em 2004 tentamos
várias vezes manter diálogo com os atletas para montar
um cadastro, mas, pela falta de organização e interesse
da parte deles, não fomos procurados. O problema chegou a
um nível que só tomando uma atitude intransigente
para tentar uma mudança que agrade a todos, afirma.
Os conflitos no trânsito, entre motoristas de carro, ônibus
e ciclistas são comuns, segundo Pena, principalmente nas
rotatórias. A USP não possui um local apropriado
para a prática esportiva de atletas que correm com suas bicicletas
e, na maioria das vezes, quando estão em grupo, passam a
cometer muitos abusos, afirma. Pena ressalta que a Divisão
de Operações e Vigilância fará bloqueios
dos grupos de ciclistas para averiguação e contará
com a ajuda da Polícia Militar.
Abusos
e agressões
Pena confirma que os incidentes com os ciclistas-atletas são
constantes. Um deles aconteceu com uma senhora que dirigia na Cidade
Universitária. Ao diminuir a velocidade para fazer a conversão
numa rotatória, ela impediu a passagem das bicicletas. Isso
foi suficiente para que os ciclistas danificassem seu carro e passassem
a agredi-la verbalmente. E mais: ameaçaram virar o carro,
que levava uma criança, aos prantos.
Numa outra ocasião, o prefeito da Cidade Universitária,
Wanderley Messias da Costa, recebeu em seu gabinete uma comissão
de motoristas de ônibus da Prefeitura, que se recusava a sair
para o trabalho em virtude dos abusos praticados pelos ciclistas.
Costumeiramente os motoristas são agredidos verbalmente
pelo fato de cortarem a frente dos ciclistas que insistem em andar
acima da velocidade permitida em determinados locais, causando inclusive
riscos de atropelamentos, ressalta Pena.
Num e-mail enviado à Ouvidoria Geral da USP no dia 4 de abril,
um funcionário do Instituto de Eletrotécnica e Energia
(IEE) relata mais incidentes. Ele começa dizendo que ciclistas
e praticantes de corrida a pé têm se sentido maioria
e, independentemente de sua identidade com a Universidade e com
o ambiente universitário, abusam dos espaços destinados
à circulação de veículos. Eu mesmo,
muitas vezes, fui vítima, sendo ameaçado com gestos
e palavras obscenas, assim como outros motoristas que tentam trafegar
pelas ruas da Cidade Universitária.
O funcionário considera que há um desvio sério
das razões pelas quais as vias do campus existem. Pelo
que imagino, essas vias foram construídas para dar acesso
aos professores, alunos e funcionários da Universidade, que
com muito sacrifício e dedicação mantêm
a USP como a principal produtora de ciência e tecnologia do
País, diz o servidor em sua mensagem. Sinto-me
duplamente agredido quando um grupo de ciclistas ou corredores desconhecidos
se sentem proprietários da rua e, como uma máfia ou
gang de marginais, ameaçam membros da comunidade uspiana,
que, muitas vezes em sacrifícios de finais de semana, tentam
entrar em seus departamentos para dar continuidade a uma pesquisa
ou continuar um experimento que poderá garantir, no futuro,
a manutenção do mérito da USP como a melhor
universidade do País.
O ouvidor-geral Ruy Laurenti conta que, há poucas semanas,
um funcionário que estava próximo ao Prédio
da Reitoria encontrou um grupo de ciclistas urinando nas dependências
do prédio. Quando o funcionário alertou-os para não
fazerem isso, os ciclistas acenaram com gestos e falaram obscenidades.
Sabemos que é uma minoria que faz isso, mas é
um fato que vem colocando em risco a segurança de pedestres
e transtornando o fluxo de veículos, diz Laurenti.
É
preciso organizar o espaço
Paulo
de Tarso, presidente da Associação Sampa Bikers
e freqüentador do campus como ciclista-atleta, discorda
da medida do Conselho do Campus, que proíbe a presença
dos ciclistas-atletas na Cidade Universitária durante
a semana.
Para ele, não deveria ser proibido, mas sim haver uma
organização do espaço público,
para que todos pudessem usufruir dele. Deveria ser feita
uma redefinição de percurso para cada atividade.
Com um bom policiamento, todos respeitariam as regras.
Tarso afirma que não se pode dizer que só os
ciclistas são agressivos. Motoristas de ônibus,
carro e moto são muitas vezes piores. Sem contar que
os praticantes de corrida, ao invés de praticarem na
calçada, ocupam as ruas também, o que causa
uma grande confusão. Em caso de proibição,
tem que proibir tudo: carro, ônibus, moto e praticantes
de corrida.
Outro ciclista é o publicitário Eduardo Andrietta,
que faz treinamento com a equipe da Medley Triatlon quatro
vezes por semana na USP. Ele também considera a proibição
equivocada. Deveria suspender quem faz as agressões
e não generalizar. Sem contar que os motoristas de
carro e de ônibus também não respeitam
e avançam o carro sobre as bicicletas, relata.
Michel de Luca, Tito Angelusse e Eduardo Selebrani, da equipe
de treinamento MPR, propõem que a USP faça um
credenciamento de todos os ciclistas-atletas, como ocorre
em outros países do mundo. O ciclista Rodolfo Luiz
Gomes concorda com o credenciamento e ainda sugere que se
faça uma carteirinha e um banco de dados
completo dos atletas, e que cada bicicleta tenha um número.
Também sugere que os atletas paguem uma mensalidade
e com esse dinheiro a Universidade faça melhorias no
asfalto e demais dependências. Eu sou um exemplo
de que não há respeito nenhum do motorista.
Já passei por situações muito difíceis
com motoristas abusados, reclama.
Para as equipes de atletas das assessorias esportivas Trilopez,
Lemiar e Run and Fun, é preciso esclarecer melhor o
porquê da proibição. Também pedem
um cadastramento dos atletas, assim como um diálogo
com os responsáveis da USP, para que possam todos chegar
num consenso razoável. Este é o único
espaço de treinamento para quem compete triatlon. É
bom deixar claro que a maioria dos ciclistas é de profissionais,
como médico, dentista, professor, engenheiro e veterinário,
e tem nível para manter um diálogo e chegar
num possível acordo, ressaltam
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