A mais recente obra de Carlos Fajardo, um dos mais importantes
artistas plásticos da contemporaneidade, não foge
ao seu estilo polissêmico de arte. Conhecido por misturar
pintura com escultura, fazer uso da arquitetura e da fotografia,
o próprio artista não gosta de nomear sua arte. Seu
novo trabalho, uma instalação, montada na sala principal
do Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma), que inaugura
mais quatro exposições nesta quinta.
Em um jogo montado com cerca de 64 espelhos e luzes coloridas, os
visitantes vão fazer parte da obra ao serem iluminados e
suas imagens refletidas pela sala. Com a instalação
não existe a relação dentro e fora entre público
e obra, como acontece na escultura, aqui as pessoas são parte
integrante e ativa da obra. É isso que me atrai na instalação:
a relação se dá no aqui e agora. O trabalho,
segundo seu autor, traz idéias de ligação com
as artes do espaço, com sua arquitetura e o imaginário.
A imagem, a presença, o reflexo, são temas que vêm
sendo trabalhados ao longo de suas últimas obras. As sombras,
provocadas pelas luzes coloridas, também interessam muito
ao artista, que cita o estudo semiótico dos signos do filósofo
norte-americano Charles S. Peirce para destacar sua importância.
Na teoria do filósofo, intitulada Índice, a sombra
é um registro da presença; e a presença humana
na obra remete à relação do aqui e agora, tão
desejada por Fajardo.
Fotografias
As cenas registradas pelas lentes da fotógrafa alemã
Gitta Seiler, são comuns na Clínica Juventa, em São
Petersburgo, na Rússia, apesar de não serem muito
comentadas. Lá, meninas muitas vezes menores de 18
anos fazem abortos de forma legalizada e gratuita; a clínica
é um dos primeiros lugares recomendados nessas situações.
Fato também comum no país, sendo que a maioria das
meninas é de classe baixa e não tem nenhuma orientação
sexual, chegando a fazer de dois a três deles antes de constituir
família.
Na série de retratos Aborted (Abortado), Gitta
também se dedica a registrar momentos do cotidiano de uma
jovem menina da Alemanha (aliás, a fotógrafa registra
mulheres jovens desde trabalhos anteriores). Com este título,
Gitta joga com dois significados: abortado pode tanto se referir
ao bebê retirado do ventre quanto à expressão
em alemão que significa barco à deriva, abandonado.
Apesar de as fotos serem de pacientes da clínica ou da jovem
alemã, elas podem ser identificadas como se fossem registros
sem rosto. O trabalho não é sobre
esta ou outra pessoa, mas sobre quaisquer outras 10 ou 20 meninas
que poderiam estar na mesma situação, comenta
a artista, e enfatiza que seus trabalhos têm, mais do que
um caráter político, uma representação
social.
As
exposições serão inauguradas nesta quinta,
às 20h, no Centro Universitário Maria Antonia (r.
Maria Antonia, 294, tel. 3255-5538), com temporada até 12
de junho. Visitação de segunda a sexta, das 12h às
21h, e sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.
Entrada franca. No mesmo local também entram em cartaz três
individuais: do fotógrafo Hilton Ribeiro com imagens do litoral
sul paulista, e outras duas dos artistas Marcelo Silveira e Guilherme
Machado, que propõem uma nova ocupação do espaço.
|