
Música, dança e texto
em Blush, que estréia no Brasil
Tanto a dança contemporânea quanto suas
raízes serão tema da 3a edição do Dança
em Pauta, evento promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil
a partir desta quarta. A principal atração é
a volta da renomada bailarina e coreógrafa Marilena Ansaldi
aos palcos, figura fundamental na guinada que a dança deu
na década de 70. Em um cenário em que a dança
contemporânea já se delineava, com a fundação
do Ballet Stagium em 1971 e do Grupo Corpo, de Minas Gerais, em
1975, Marilena e seus colegas já davam ares renovadores ao
Corpo de Baile Municipal. A partir do espetáculo Isso ou
Aquilo (que completa 30 anos) a bailarina, que chegou a dançar
no Teatro Bolshoi, da Rússia, revolucionou a dança
clássica ao desenvolver uma linguagem moderna e afinada com
o teatro. Essa foi a forma de ela se expressar na época
da ditadura, em um espaço que fervilhava de experimentações,
a região do Bixiga, comenta a curadora da mostra, Ana
Francisca Ponzio, enfatizando que Marilena não encenava há
12 anos.
Na abertura da mostra, Marilena está com roteiro próprio
em Desassossego, dirigida pelo já companheiro de trabalho,
Marcio Aurélio, que produziu o espetáculo especialmente
para o Dança em Pauta. Em performance solo, a artista interpreta
trechos de O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, que traz
uma espécie de diário íntimo de seu semi-heterônimo,
como o autor mesmo considerou. Outros sete espetáculos serão
apresentados ao longo de junho (sempre de quarta a domingo), com
criações de Minas Gerais e Rio de Janeiro, além
de dois grupos estrangeiros: a alemã Cia. Toula Limnaios
e o de Costa Rica, Diquis Tiquis, dando continuidade à proposta
de revelar a produção da América Latina, tão
pouco divulgada entre os países vizinhos. El Ojo Del Crepúsculo
aproveita-se de uma janela, onde se pode ver o crepúsculo
do dia, para falar sobre a intimidade de criação e
destruição do ser humano, enquanto a alemã
Short Stories revela a arte de jovens criadores ao retratar de forma
simples e curta os relacionamentos humanos.
Na produção nacional, a relação dança-teatro
é usada pela diretora da Cia. Nova Dança 4, Cristiane
Paoli-Quito, no espetáculo Experimentações
Inevitáveis, uma colagem de fragmentos de diversos textos
com impressões pessoais dos próprios artistas em cena.
Já a mineira Cia. Mário Nascimento mistura a dança
às músicas de Fábio Cárdia em Rebento,
ao tratar de morte e imortalidade de idéias, e o paulista
Wesley DAlessandro mostra sua multiplicidade no solo Sonho
Só, sobre as variações inusitadas que um sonho
pode gerar. Inspirado na obra de Ítalo Calvino (Seis Propostas
para o Próximo Milênio), a Cia. Ana Vitória
apresenta Sobre o Começo e o Fim... e + Simples, esta última
uma montagem mais livre, baseada na mesma obra, feita dois anos
depois. E Tudo Movia à Minha Volta..., de Zélia Monteiro
e Cia., interage sem hierarquia com a música e as artes plásticas
para falar sobre peso e leveza.
Linguagem
cinematográfica
Seguindo a linha de relacionar a dança às outras artes,
acontece uma mostra audiovisual novidade deste ano. Além
de filmes com trechos do espetáculo Isso ou Aquilo, na época
de estréia, e entrevistas de Marilena Ansaldi pertencentes
ao acervo da TV Cultura , o espaço será dedicado
a difundir a videodança no Brasil. Serão cerca de
46 títulos de uma produção expressiva, como
a da pioneira bailarina Ana Lívia, que desde 1973 produz
vídeos de dança. O destaque é o lançamento
no Brasil de Blush, do consagrado coreógrafo belga Win Vandekeybus.
Lançado este semestre na Europa e exibido no último
Festival de Cannes, o filme retrata uma miscelânea de sentimentos
por meio não só da dança, mas também
da música e do texto, gerando cenas belas e, às vezes,
fantasiosas.
Desassossego,
de Marilena Ansaldi, é apresentada na abertura, desta quarta
a sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Centro
Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, Centro,
tel. 3113-3651). Ingressos a R$ 10,00, com meia-entrada. Programação
completa no www.bb.com.br/cultura.
Outras
performances
O
Studio 3 Espaço de Dança, a Cia. Sociedade
Masculina, e convidados apresentam-se somente neste final
de semana, com uma programação intensa no Teatro
Sérgio Cardoso. Sexta, a partir das 21h30, as performances
Dalida (Studio 3), que faz uma homenagem à artista
Yolanda Gigliotti, famosa por suas participações
em musicais, e Saga da Cia. Sociedade Masculina, inspirada
nas sensações daqueles que abandonam a terra
natal e chegam à cidade grande , dividem a noite
com as apresentações Mahala e Melodia Sentimental.
No sábado, às 21h, após uma reapresentação
de Saga, a Cia. Sociedade Masculina faz outras duas performances:
Laços, sobre as possibilidades de entrelaçamento
entre cinco corpos de acordo com a música, executada
ao vivo, e Chorando, que inspirado em canções
que falam de amores perdidos e mulheres não conquistadas,
encena as lamentações masculinas. No domingo,
a partir das 18h, é a vez dos solos. Começando
com um dos maiores nomes da dança contemporânea,
Ruth Rachou, a coreografia de Ausência fala sobre uma
senhora obcecada pelo ritual do casamento e seus detalhes;
já em Um Olhar... a premiada bailarina Beth Risoléu
interpreta as relações entre os interiores consciente
e inconsciente da mente feminina; e para fechar a noite, o
coreógrafo argentino Luis Arrieta apresenta seu solo
Tango, inspirado na canção de Rodolfo Mederos.
Os ingressos são populares, R$ 5,00, com meia-entrada.
O Teatro Sérgio Cardoso fica na r. Rui Barbosa, 153,
tel. 3288-0136.
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