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Claire Sekkel e Roberto Hryniewicz do Laep: “O preconceito atua de forma não refletida, não passando pela experiência“


A experiência e a reflexão são duas armas poderosas para combater o preconceito, em todas as suas formas – racial, religioso ou social. Sem um contato direto com o outro, as pessoas tendem a agir segundo pré-juízos. A opinião é da professora Claire Sekkel, coordenadora do Laboratório de Estudos do Preconceito (Laep) do Instituto de Psicologia da USP. “O preconceito atua de uma forma não refletida, não passando pela experiência. Ou seja, não temos uma experiência de vida próxima a uma pessoa negra, deficiente ou pobre, mas já temos um pré-julgamento, uma predisposição para agir de uma determinada forma em relação a ela”, afirma a professora.

Claire destaca que colocar juntos indivíduos diferentes – como ocorre atualmente nas escolas, que incluem alunos especiais nas aulas regulares – não é garantia suficiente de superação do preconceito. “Tem que haver um investimento numa reflexão e numa construção de valores, desconstruindo o já preestabelecido e criando novos valores”, acrescenta a professora, que comprovou na prática suas idéias, quando dirigiu a Creche Oeste da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) da USP, na Cidade Universitária (leia o texto ao lado). O estagiário do Laep Roberto Romeiro Hryniewicz complementa que reconhecer-se como um indivíduo preconceituoso é o primeiro movimento para uma mudança de valores. “O brasileiro tem a idéia de que no Brasil não há preconceito. Isso é a base para não nos confrontarmos, não nos questionarmos.”

Temas como esses são o objeto de pesquisa do laboratório coordenado por Claire. Criado em 1998 pelos professores José Leon Crochik e Ligia Amaral, o laboratório tem buscado pesquisar o preconceito nas diversas manifestações culturais. Tem como objetivo a pesquisa, além de ser um espaço para o desenvolvimento de algumas ações voltadas para o combate ao preconceito através da experiência. “Temos um trabalho no cursinho da Psicologia, de orientação de ações concretas no sentido da educação inclusiva”, explica Claire. Ela observa que o laboratório parte do princípio que todas as pessoas têm algum entendimento do que seja preconceito, “mas não temos uma compreensão mais profunda de como o preconceito funciona, de onde ele vem, o que o provoca, e como ele atua nas relações”.

A idéia é que os pesquisadores possam desenvolver suas pesquisas de forma independente, mas existe um fórum que valoriza a discussão das pesquisas. Cabe ao Laep ajudar a pensar as pesquisas, a estabelecer metas, conhecer os resultados e se apropriar desses resultados para que as pesquisas fiquem mais integradas e fortaleçam as ações que sejam demandadas das várias instâncias sociais. Está em construção a criação de um site que terá o papel de ser um espaço para os interessados encontrarem informações, pesquisas e tudo o que estiver acontecendo no laboratório. No segundo semestre estão previstos vários seminários sobre o preconceito, com o objetivo de discutir diferentes aspectos do preconceito.

Cultura

A origem do preconceito está na cultura e nas determinações da pessoa. Para entender o preconceito, é preciso entender as raízes culturais e a personalidade do indivíduo que adere ao preconceito, afirma Claire.

Existem hoje diferentes alvos de preconceito. Por exemplo, o homossexual, o judeu, o árabe, o deficiente, o pobre (alvo preferencial) e o negro, diz a professora. “Todos são alvo de preconceito justamente por serem pessoas que se contrapõem a um tipo ideal denominado pela nossa cultura brasileira, que é determinada pelas culturas dominantes desde a época da nossa colonização.” O suposto tipo ideal é o homem, branco, heterossexual, bonito e cristão. O mesmo vale para a mulher. Essas são algumas características de um tipo valorizado socialmente com o qual as pessoas confrontam o outro e buscam verificar se ele corresponde ou não a esse tipo ideal, segundo Claire.

A determinação do tipo ideal se constitui a partir de valores estabelecidos pela classe dominante, que determina também o que se deve valorizar e o que se deve buscar, lembra a coordenadora do Laep. “O discurso hegemônico estabelecido pela classe dominante se propaga em todas as classes sociais. Um exemplo bem claro disso é a coincidência do desejo de uma pessoa de classe social baixa e de uma de classe dominante – elas desejam as mesmas coisas. Hoje em dia o que é muito valorizado são a forma física, determinado padrão estético, bens materiais, ter um carro, um apartamento, as mesmas músicas, fazer viagens. Há todo um universo de objetos desejados ligados a valores.”

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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