Férias de julho para muitos pais é uma
grande preocupação. O que fazer com as crianças?
Mas quem procura sempre acha algo. A cidade está repleta
de atividades para preencher o dia-a-dia das crianças. Dentre
elas, o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP promoverá
várias Oficinas de Arqueologia e Etnologia para crianças
de 5 a 10 anos. As oficinas são divididas por idade, de 5
e 6 e de 7 a 10 anos, em dias separados e horários diferentes.
São atividades gratuitas, com vagas limitadas a no máximo
16 e no mínimo 5 crianças por oficina.
A Oficina de Arqueologia vai trabalhar noções de escavação.
Através de pequenas caixas de madeira com areia e alguns
fragmentos de fósseis, as crianças vão aprender,
a partir da simulação, como os arqueólogos
manipulam os vestígios encontrados. Escondido entre
a areia grossa, a criança escava, encontra o fragmento e,
com um pincel, vai limpando a superfície até tudo
ficar aparente. Depois ela quadricula a caixa com um barbante para
delimitar exatamente onde se encontra o fragmento e entender todas
as peculiaridades do espaço pesquisado. Aí desenha
tudo o que foi encontrado num papel quadriculado, explica
Camilo de Mello Vasconcellos, educador do MAE. Para o arqueólogo,
é importante o local onde se encontra a peça, pois
só assim consegue entender a relação do espaço
com as atividades desempenhadas pelo homem em diferentes épocas.
Arco
e flecha
Já a Oficina de Brinquedos e Brincadeiras vai trabalhar com
noções de cultura e tradição dos índios,
através dos brinquedos usados pelas crianças indígenas,
procurando mostrar as diferenças entre a cultura branca e
a indígena, passando valores de respeito à diversidade.
Segundo Judith Mader Elazari, também educadora do MAE, será
utilizada parte do kit pedagógico de objetos etnográficos
usado para capacitar professores, com o tema Os brinquedos
e a socialização da criança indígena.
Com o arco e flecha nambiquara, a boneca carajá, o
cesto cargueiro panará, o ralador enaenáuenê-naue,
o pião e o apito caiabi, mostraremos às crianças
que a maior parte dos brinquedos indígenas relaciona-se,
estreitamente, com as tarefas que as crianças serão
chamadas a exercer quando adultas, tendo, portanto, finalidades
práticas e educativas dirigidas a cada sexo. Para meninos,
os pais e avós fabricam canoas, arcos e flechas em miniatura;
para as meninas, panelinhas, torradores, tipóias e bonecas,
afirma Judith.
A partir dessa oficina de brinquedos, as crianças vão
construir outros brinquedos com sucata, como caixas de papelão,
garrafas pet e potes de iogurte; vão também usar tintas,
argila e tudo o que a imaginação permitir. Outra proposta
dos educadores é dar alguns exercícios práticos,
em que a criança vai encontrar, escondidos entre a areia,
fragmentos de um vaso cerâmico, o qual ela terá que
reconstituir, peça por peça.
Para Judith, atividades como essas, de manuseamento de material,
despertam a observação e a curiosidade dos jovens.
O fato de manusear um objeto ocasiona uma postura responsável
quanto ao material patrimonial do museu. São trabalhadas
várias habilidades: a intelectual, a observação,
a classificação e a relação, explica.
O objetivo principal dessas atividades é trabalhar
a questão da diversidade cultural, observa Carla Gibertoni
Carneiro, outra educadora do MAE. Procuramos trabalhar ludicamente
as questões de arqueologia num contexto menos formal, que
não tem relação com o contexto escolar.
Cada atividade é realizada durante duas horas. Há
o momento do lanche, fornecido pelo próprio museu, e depois
ocorre a visita à exposição Formas de
Humanidade, do MAE, guiada pelos educadores.
As
Oficinas de Arqueologia e Etnologia do MAE serão realizadas
nos dias 5 de julho, das 14h às 16h (para crianças
de 7 a 10 anos), 14 de julho, das 14h às 16h (para crianças
de 5 e 6 anos), 20 de julho, das 10h às 12h (crianças
de 5 e 6 anos), e 26 de julho, das 10h às 12h (crianças
de 7 a 10 anos). É preciso marcar o horário com antecedência
e fazer a inscrição pelo telefone.
Educadores do MAE ensinam noções de arqueologia para
as crianças: diálogo entre culturas
Fragmentos
de culturas
Abaixo,
alguns objetos indígenas que serão apresentados
nas oficinas do MAE.
Cesto
cargueiro panará. Os panará localizavam-se
às margens do rio Peixoto Azevedo, no Mato Grosso,
e atualmente encontram-se no Parque Xingu. São conhecidos
como índios gigantes devido à estatura
dos homens, com média de 1,80 metro de altura. O cesto
é manufaturado de taquarinha, em lâminas que
são trançadas e fixadas com fios de algodão.
A alça trançada é confeccionada com fios
de seda de buriti, com pingentes de miçangas, coco
de tucum e penas de arara. O cesto no tamanho original é
de confecção masculina e utilizado para transportar
o que colhem na roça e o que coletam quando percorrem
grandes distâncias do seu território. O uso do
cesto é feminino na tarefa diária da família,
com a participação de meninas na colheita da
mandioca e de outros produtos da roça.
Boneca
karajá. Os karajás ocupam uma área
junto ao rio Araguaia, concentrando-se principalmente na ilha
do Bananal, no Tocantins. A boneca é feita de cerâmica
por meio da técnica de modelagem. A decoração
da face e corpo segue a tradição, representando
os círculos faciais que são a marca
desse grupo. A pintura corporal é feita de linhas pretas
obtidas do jenipapo macerado e misturado com cinza da casca
de cega machado. O vermelho provém do pigmento
do urucum preparado com óleo de noz do babaçu.
Ralador
enawene-Nawe. A aldeia está localizada à
margem esquerda do rio Iquê, no noroeste do Mato Grosso.
O ralador é um equipamento de uso doméstico,
confeccionado de madeira leve em cuja superfície estão
incrustados espinhos de palmeira tucum. Esse instrumento é
utilizado para ralar a mandioca e o milho. É manufaturado
pelo homem e usado pelas mulheres. A criança desde
cedo participa das atividades domésticas. Acompanha
a mãe à roça para colher e transportar
a mandioca e auxilia no preparo da farinha ralando a mandioca
e o milho.
Arco
e flecha nambikuara. Essa sociedade indígena localiza-se
em Rondônia. O arco é manufaturado da piuva ou
da palmeira siriva. Cortada a madeira de acordo com o tamanho
do arco desejado, ela é desbastada com o uso do machado
e da faca. Para o polimento utilizam a folha da lixeira. A
ponta serve de escora onde o cordame feito de fibras da palmeira
tucum é fixado com um nó. A porção
central do arco é a empunhadura onde a corda é
fixada com um trançado. A flecha é feita de
uma haste de taquarinha e, na extremidade, a emplumação
é de pena do gavião real; as penas são
amarradas e fixadas com cerol de abelha. A ponta é
rombuda e corresponde ao nó da taquarinha servindo
para dar segurança para a criança.
Pião
e apito kayabí. Os kayabí ocupavam a região
do rio Tapajós, no Mato Grosso. O pião é
conhecido como pião silvador e é confeccionado
com o coco inajá ou de cabaça; em um orifício
é fixada uma vareta onde um cordão de algodão
é enrolado e preso a uma haste de madeira que ao puxar
faz o pião girar. O apito é um objeto lúdico
de sopro, manufaturado com a noz do tucum, com dois furos.
Sopra-se em um dos orifícios para produzir o som, que
varia quando o outro furo é tocado.
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