Aprovado
em definitivo na Assembléia Legislativa no dia 12 de julho,
o texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para
o Estado de São Paulo em 2006 depende agora da sanção
do governador Geraldo Alckmin. A grande mudança que a proposta
traz em relação ao ensino superior é o aumento
de 9,57% para 10% da cota-parte do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) destinada à manutenção
das universidades estaduais. O porcentual seria calculado sem o
desconto da verba destinada ao fundo estadual da habitação,
como ocorre atualmente.
O governador tem 15 dias úteis para se pronunciar, podendo
sancionar a lei, permanecer em silêncio ou vetá-la.
Se o Executivo não se manifestar, o presidente da Assembléia
tem dez dias para promulgá-la. Em caso de veto, a lei volta
para o Legislativo, que terá uma única sessão
para deliberar sobre o tema. A derrubada do veto exige maioria absoluta
(48 votos). Feito isso, a Assembléia envia o veto de volta
ao Executivo. Se o governador não promulgar a lei em 48 horas,
quem o fará é o presidente da Assembléia, também
no prazo de 48 horas. Esperamos que o governador sancione
o texto sem vetos, mas se houver algum nós vamos lutar para
derrubá-lo, diz o professor César Augusto Minto,
presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp).
De acordo com estimativas do presidente da Comissão de Finanças
e Orçamento da Assembléia Legislativa, deputado José
Caldini Crespo (PFL), o aumento representa um acréscimo de
cerca de R$ 300 milhões por ano para o funcionamento da USP,
Unesp e Unicamp.
Expansão
Esse aumento será de grande importância para
as universidades, sobretudo tendo em vista a expansão,
afirma o reitor da USP, Adolpho José Melfi. O reitor se diz
otimista com a aprovação da LDO pelo governador e
revela que ele e seus colegas da Unesp e Unicamp têm conversado
com deputados, tanto do governo quanto da oposição,
para sensibilizá-los a atuar em prol da manutenção
do texto. No quadro de problemas que as universidades estão
vivendo, qualquer recurso adicional seria de extrema importância
para que tivéssemos mais segurança de que a expansão
já em andamento e outras que vierem terão sua continuidade
assegurada, diz Melfi.
O professor Adilson Carvalho, da Coordenadoria de Administração
Geral (Codage) da USP, chama a atenção para um possível
problema de interpretação no parágrafo 2º
do artigo 4, que determina que o porcentual de acréscimo
correspondente a 0,43% deverá ser destinado à
expansão de vagas no ensino superior público, que
também poderá ser custeado pela destinação
de recursos suplementares. Se esse acréscimo
estiver vinculado somente à expansão, vai ser destinado
única e exclusivamente para esse fim. Ou seja, de um lado
o governo dá e de outro tira, porque poderia cancelar outras
verbas reservadas para expansão, inclusive para a USP Leste,
pondera o professor.
Para o reitor Adolpho Melfi, o enunciado não implica destinação
exclusiva para esse fim, mas está no texto para justificar
o aumento e dar uma orientação quanto à sua
aplicação, sem prejuízo de outros recursos
que possam ser alocados. As verbas que o governo tem destinado para
a expansão são, sobretudo, para investimentos, não
incluindo o custeio (onde se inserem as despesas com pessoal, por
exemplo).
Tanto o reitor quanto Adilson Carvalho comemoram a retirada do artigo
29 do texto original, que autorizava o Tesouro do Estado a deduzir
do orçamento das universidades o repasse da parcela do empregador
ao Instituto de Previdência de São Paulo (Ipesp), que
as instituições questionam e não vêm
pagando há vários anos. O pagamento das aposentadorias
não é feito pelo Ipesp, mas sai do orçamento
das instituições, que entendem que sofreriam duplo
encargo. Recolhendo dos servidores, estamos pagando muito
mais do que recebemos, porque o Ipesp só paga a pensão
quando o servidor morre. Se a Fazenda fosse autorizada a fazer essa
dedução, seria um grande problema para nós,
diz Carvalho. Desde a gestão do reitor Flávio
Fava de Moraes (1993-1997) a USP pediu que fosse feito um ajuste
de contas para saber quanto pagamos para o Ipesp e quanto ele devolve
em pensões, e até hoje não obtivemos resposta,
completa Melfi.
Quadro
político
A campanha por mais verbas para o ensino superior público
em São Paulo é uma bandeira que o Fórum das
Seis que congrega os sindicatos de docentes e funcionários
da USP, Unesp e Unicamp considera histórica e pela
qual, nos últimos anos, os servidores vêm se batendo
na Assembléia. Neste ano, pela primeira vez os reitores e
os sindicalistas estiveram juntos para reivindicar o aumento. Numa
audiência com o presidente do Legislativo, Rodrigo Garcia
(PFL), e outras lideranças, no dia 14 de junho, os representantes
das universidades defenderam as emendas para acréscimo nos
recursos e a retirada do artigo 29.
Em 1989, ano da autonomia universitária, USP, Unesp e Unicamp
passaram a ser mantidas com 8,4% do ICMS. Em 1992, esse porcentual
foi para 9% e, em 1995, subiu para os atuais 9,57%. Nestes dez anos
sem aumento, cresceram os custos de financiamento com a expansão
de vagas, o incremento das pesquisas e as aposentadorias. Com
a aprovação da LDO, podem vir mais recursos para o
ensino, a pesquisa e a extensão. Isso coroa as ações
das universidades públicas no esforço pela ampliação
de vagas e na discussão de novas formas de inclusão,
afirma Herman Voorwald, vice-reitor e assessor-chefe da Assessoria
de Planejamento e Orçamento da Unesp.
Reitores
e representantes dos servidores da USP, Unesp e Unicamp se uniram
para conseguir a aprovação, na Assembléia Legislativa,
do aumento da parte do ICMS destinada às universidades. No
quadro de problemas que as universidades estão vivendo, qualquer
recurso adicional seria de extrema importância, diz
o reitor da USP, Adolpho José Melfi
USP
ajuda a consolidar leis
A
Assembléia Legislativa assinou, no dia 4 de julho,
termo de cooperação com a Fundação
Arcadas, ligada à Faculdade de Direito da USP, com
o objetivo de realizar o projeto de consolidação
das leis paulistas. O projeto surgiu porque o Estado tem hoje
cerca de 11 mil leis, muitas das quais obsoletas ou contraditórias,
o que dificulta o trabalho dos profissionais da área
e a consulta por parte da população.
Um exemplo curioso é a lei, ainda em vigor, que
permite que o professor castigue moderadamente
os seus alunos em classe. Evidentemente, isso é incompatível
com a Constituição e com o Estatuto da Criança
e do Adolescente, comenta Enrique Ricardo Lewandowski,
desembargador e professor titular da Faculdade de Direito.
Espera-se que a consolidação facilite
o cotidiano dos operadores do Direito magistrados,
membros do Ministério Público e advogados
e dos cidadãos, que, afinal, são os destinatários
das leis, diz.
Segundo Lewandowski, a USP participará no apoio
dos trabalhos, contando com professores, técnicos e
alunos da Universidade. Além da Faculdade de
Direito, outras unidades participarão, principalmente
o Departamento de Informática da Reitoria. O processo
começará com a digitação de todas
as leis em vigor, editadas a partir da proclamação
da República. A idéia é separá-las
por assuntos, como meio ambiente, segurança pública,
funcionalismo e tributos, entre outros. De acordo com o professor,
dependendo dos recursos disponíveis, acredita-se
que em cerca de dois anos o trabalho esteja concluído.
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