Uma
substância usada em medicamentos contra doenças pulmonares
o antioxidante N-acetilcisteína (NAC) tem efeito
protetor na evolução da insuficiência renal
crônica. A descoberta, feita em testes com ratos na Faculdade
de Medicina da USP, pode levar pacientes com problemas nos rins
a viverem mais tempo sem hemodiálise. Os estudos também
apontam que o NAC, combinado com outras drogas, melhora a pressão
arterial e previne problemas cardíacos. O efeito do
NAC é conhecido na redução da incidência
da insuficiência renal em pacientes que tomam contraste para
exames, aponta o médico Antonio Carlos Seguro, professor
da Faculdade de Medicina e coordenador da pesquisa.
Os ratos tiveram 5/6 dos rins extraídos para induzir a insuficiência,
e parte deles recebeu a droga após a lesão. Nos
animais em que o NAC não foi administrado, houve redução
de filtração renal de 0,85 mililitros por minuto por
100 gramas de peso corpóreo (ml/min/100g), após quatro
meses, para 0,16 ml/min/100g. Nos ratos em que a substância
foi administrada, o índice foi de 0,45 ml/min/100g.
O medicamento também foi eficaz em casos de insuficiência
renal já existente. O NAC foi dado dois meses depois
da lesão e a filtração subiu de 0,25 ml/min/100g
para 0,45 ml/min/100g em dois meses, destaca Seguro. As
experiências apontam que a droga pode prolongar em alguns
anos o tempo de evolução da insuficiência renal
para um quadro em que seja necessária a hemodiálise.
Proteção
O médico ressalta que problemas renais aumentam a produção
de substâncias oxidantes, os radicais livres. O antioxidante
NAC diminui de duas a três vezes o nível de oxidantes,
reduzindo o estresse oxidativo. A insuficiência renal
também aumenta a produção de aldosterona, que
piora lesões nos rins, coração e vasos sanguíneos.
O NAC reduziu de quatro a cinco vezes os índices de
aldosterona, trazendo um efeito protetor nesses órgãos.
A combinação do NAC com outras drogas também
foi testada para aumentar sua proteção. A insuficiência
renal provoca hipertensão e, em muitos casos, os pacientes
morrem devido a problemas cardíacos, diz Seguro. O
uso da droga com espironolactona, utilizada como diurético
e para insuficiência cardíaca, melhorou não
apenas a filtração, mas também a pressão
arterial.
Segundo o médico, o melhor efeito aditivo do NAC foi obtido
com o enalapril, droga anti-hipertensiva usada nos Estados Unidos
para reduzir perda de proteína na urina, a proteinúria.
Porém, essa substância não melhorava a
filtração dos rins, observa. Nos testes
com ratos, o enalapril com o NAC fez a filtração subir
de 0,26 para 0,55 ml/min/100g e a pressão arterial caiu de
167 para 117mmHg, próxima ao normal.
Seguro afirma que a próxima etapa da pesquisa é a
realização de testes com seres humanos durante dois
anos, no setor de Nefrologia do Hospital Universitário (HU)
da USP. O projeto depende da aprovação do comitê
de ética do hospital, e será pedido financiamento
à Fapesp. Os estudos têm a participação
da biomédica Maria Heloisa Massola Shimizu, da bióloga
Magali de Araújo, do médico Luis Fernando Menezes
e da professora Terezila Coimbra, da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto (FMRP) da USP.
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