PROCURAR POR
 NESTA EDIÇÃO
  

 

 

 

 

 

 

 


O campus da USP em São Paulo: novos tempos trazem desafios para o ensino, a pesquisa e a extensão


E
m janeiro de 2004, a USP comemorou 70 anos de existência com uma série de eventos. A extensa programação de aniversário teve o objetivo de festejar sete décadas de serviços prestados ao País pela Universidade. Passado o momento de celebração, a USP se volta para pensar seu futuro. Ela discute agora como fazer para, num mundo em constante transformação, manter a qualidade do ensino e formar quadros especializados em todas as áreas do conhecimento. Pretende saber exatamente que papel deve desempenhar no futuro e como inspirar o cidadão do século 21 a buscar a excelência em seu setor de atuação.

Uma forma de refletir sobre essas questões é o livro Universidade – Formação & transformação, lançado pela Editora da USP (Edusp), numa iniciativa da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (Cecae) da USP. Organizado pelo jornalista Marcello Rollemberg – diretor do Jornal da USP –, o livro reúne entrevistas e artigos de professores com larga experiência em cargos de direção da Universidade. Ao discutir temas ligados ao ensino, pesquisa, pós-graduação e extensão universitária, a publicação faz um amplo diagnóstico do desempenho da USP e sugere alternativas para o futuro da instituição.

“Este é um trabalho de reflexão, de idéias, de sugestões”, escreve Rollemberg na apresentação do livro. “Seguir as sugestões que o compõem depende de cada um de seus leitores ou de seus analistas. O que não podemos é fechar os olhos para o mundo que nos cerca – um mundo no qual a USP tem um papel importantíssimo a desempenhar.” Entre os textos de Universidade – Formação & transformação estão artigos dos pró-reitores da USP e entrevistas com ex-reitores, entre eles Miguel Reale, José Goldemberg, Roberto Leal Lobo e Silva Filho e Jacques Marcovitch, além do atual reitor, Adolpho José Melfi (leia texto na página ao lado). O livro será lançado nesta terça-feira, dia 11, às 18h30, no auditório da Escola Politécnica da USP. O evento terá início às 9 horas, com palestras e mesas-redondas.


Formação

No livro, o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor do Departamento de Filosofia da USP, assina um artigo que trata justamente do desafio de formar profissionais numa época de rápidas e profundas mudanças. Para o professor, é preciso não confundir as missões: enquanto a Universidade tem a tarefa de formação, ao mercado cabe fazer o treinamento. A formação, diz, inclui o espírito científico – racional e crítico –, que exige aprofundamento e independência. “Não é fácil ter esta última se estivermos comprometidos com um projeto de empresa (ou de governo ou de partido).”

Para Janine, a formação é algo mais integral do que o treinamento. “Ela procura constituir um sujeito que considere seu mundo de modo não tradicional”, diz. “Daí a importância do espírito científico. Este não pode aplicar-se a apenas algumas áreas do conhecimento ou da ação. Será absurdo eu ser racional no tocante a meu emprego e irracional no que se refere a minha família.”

Mas o professor reconhece que apenas formação não basta. É necessário também preparar a pessoa para exercer seu papel na sociedade. “Aqui entra o treinamento.” Janine exemplifica dizendo que um curso de jornalismo não precisa treinar o aluno para as rotinas de uma redação, que variam rapidamente e de emprego para emprego. Cada empresa pode ensiná-las. “A Universidade pode e deve reconhecer isso. E é claro que ela pode cooperar com as empresas no treinamento, se elas o pedirem e se essa colaboração não prejudicar a principal missão pedagógica da academia, que é a formação.”

Em seu artigo, o pró-reitor de Pesquisa da USP, professor Luiz Nunes de Oliveira, dá uma sugestão bem objetiva para a Universidade: fortalecer cada vez mais a iniciação científica – os programas em que os alunos de graduação realizam projetos de pesquisa sob a orientação de um professor. Nas palavras de Nunes, trata-se da “mais valiosa das atividades que enriquecem o ensino de graduação, aquela que mais intimamente se acopla à estrutura educativa da Universidade”.

Nunes lembra que a iniciação científica ganhou impulso no Brasil com a fundação do CNPq, na década de 50. Na USP, ela era praticada antes disso, mas foi fortalecida nos anos 90, quando o CNPq criou o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). Atualmente, cerca de 3 mil estudantes da USP recebem apoio financeiro para seus estágios de iniciação científica, segundo Nunes. Desse total, 1,2 mil têm bolsas do Pibic, 600 são financiados pela Fapesp e os demais 1,2 mil obtêm patrocínio de fontes garantidas pelas unidades de ensino. “Como os estágios de iniciação científica duram, em média, dois anos, cerca de 20% dos alunos de graduação da USP têm oportunidade de se envolver com atividades de pesquisa ao longo de seus cursos”, calcula Nunes. “Estes são substancialmente melhor formados do que os demais 80%.”

O pró-reitor de Pesquisa elenca os benefícios da iniciação científica: ela permite que o estudante aproveite ao máximo a estrutura da Universidade, como laboratórios, rede de computação e biblioteca, prepara melhor os futuros pós-graduandos e confere ao aluno a capacidade de encontrar suas próprias respostas para problemas difíceis – ou seja, o estudante aprende a aprender sozinho, uma habilidade reconhecidamente importante para a chamada “sociedade do conhecimento” do século 21. “Nosso projeto de iniciação científica não está pronto e acabado”, diz Nunes. “É preciso (e sempre será) expandi-lo, aprimorá-lo, torná-lo ainda mais atraente para nossos bolsistas. Esse é um desafio para todos, e ninguém que se preocupe com a educação que a USP dá a seus alunos pode ignorá-lo.”



Saber novo


Enquanto Nunes propõe o fortalecimento da iniciação científica, o pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária, Adilson Avansi de Abreu, considera que a USP precisa se empenhar cada vez mais em transferir conhecimentos e serviços para a sociedade. “A extensão é o principal mecanismo de transferência e desenvolvimento do conhecimento novo, obtido através da pesquisa”, diz Avansi. “Assim sendo, ela complementa e realimenta a pesquisa. É no ambiente das empresas, nas escolas de primeiro e segundo graus, nas atividades agrícolas e comerciais, por exemplo, que o conhecimento novo produzido pela pesquisa terá oportunidade de se completar, promovendo o desenvolvimento econômico e social.”

Segundo Avansi, os mecanismos de extensão poderão ser ampliados ainda mais na USP à medida que professores e alunos se motivem para essa ação, já que não há limites de vagas, como ocorre com os cursos de graduação. “A extensão é o complemento indispensável da pesquisa, para sua legitimação na coletividade que gera os recursos para o seu financiamento em uma universidade pública como a USP”, acrescenta Avansi, insistindo na necessidade de as unidades investirem na extensão de serviços à sociedade. Ainda sobre extensão, o livro traz dois artigos do professor Sergio Muniz Oliva Filho, que dirige uma das unidades que mais promovem o relacionamento entre a Universidade e a sociedade – a Cecae.

As pró-reitoras de Graduação, Sonia Penin, e de Pós-Graduação, Suely Vilela, também participam de Universidade – Formação & transformação. Sonia discute o papel da Universidade na formação de profissionais e Suely analisa os cursos de mestrado e doutorado no mundo contemporâneo. Outros artigos publicados no livro são “O ensino de engenharia e a inserção social dos engenheiros”, do diretor da Escola Politécnica, Vahan Agopyan, “Educação e trabalho: como desenvolver uma relação virtuosa?”, do professor da Unicamp Marcio Porchmann, e “O olhar social na face da nova universidade”, do diretor do Hospital de Reabilitações Craniofaciais da USP, em Bauru, professor José Alberto de Souza Freitas.

Universidade – Formação & transformação, de Marcello Rollemberg (organizador), Edusp e Cecae, 260 páginas, R$ 39,00. O lançamento será dia 11, terça-feira, às 18h30 (desde as 9 horas haverá palestras e mesas-redondas), no auditório da Escola Politécnica da USP.

 

ir para o topo da página


O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]