O Protocolo de Kyoto estabelece o ano de 2012 como a
data-limite para a redução de emissões de gás
carbono (CO2). No Japão, nos Estados Unidos e na União
Européia, onde se desenvolvem programas para a produção
de biocombustíveis, a utilização do álcool
anidro poderia ser uma opção. O produto, adicionado
à gasolina, reduz a emissão de CO2 na atmosfera. Foi
pensando nessa situação que o economista Sérgio
Rangel Figueira delineou cenários para o consumo de álcool
utilizado como combustível por esses países
fundamentais para o mercado internacional. Como o Brasil é
pioneiro e tem potencial para expandir sua produção,
Figueira analisa as possibilidades das exportações
brasileiras no setor.
Cumprir as diretrizes do acordo é uma das motivações
para os programas bioenergéticos japonês e europeu.
Já os Estados Unidos se preocupam em diminuir sua dependência
de petróleo e substituir o MTBE (metil tributil etano), produto
que se adiciona à gasolina. A substância é responsável
por poluir o lençol freático e seu uso está
proibido em 17 Estados norte-americanos. O estudo é a base
da tese de doutorado apresentada por Figueira na Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. O
pesquisador utilizou um modelo econométrico que calcula
o futuro como se as articulações econômicas
continuassem a se desenrolar no ritmo dos anos anteriores.
Cenário internacional
Desde a década de 80 os Estados Unidos têm um
programa de produção de etanol a partir do milho.
E atualmente a demanda por fontes energéticas alternativas
menos poluentes tem sido maior, conta o economista, lembrando
que o Congresso norte-americano aprovou, em 2005, o programa de
combustível renovável (biodiesel e etanol). Há
também as iniciativas para melhorar a qualidade do ar em
regiões urbanas, ressalta o pesquisador. No entanto,
a utilização do etanol naquele país está
vinculada ao lobby dos produtores de milho, que têm capacidade
para abastecer a demanda interna. Além disso, há
acordo de importação do etanol com países do
Caribe, lembra. Da maneira que o programa está
estruturado, os Estados Unidos não serão um mercado
aberto para o Brasil.
Quanto à União Européia, existe uma diretiva
para os países pertencentes ao bloco possuírem proporção
mínima de 2% do total dos combustíveis de transporte
colocados no mercado até dezembro de 2005. Em 2010, a proporção
deverá ser de 5,75%. Mas cada país decidirá,
de acordo com o interesse de seus agricultores e suas relações
comerciais, qual alternativa escolherá e de onde virá
o produto. A Suécia já importa álcool
brasileiro e existe uma possibilidade de o mercado alemão
abrir as suas portas. Figueira acredita que, dentro de dois ou três
anos, a política energética européia estará
melhor delineada.
O economista relata que o Japão tem interesse em implantar
uma mistura de 35% de etanol na gasolina e o produto deverá
ser importado. Isso não representa um problema, já
que o país é um tradicional importador de fontes primárias
de energia. Os agricultores japoneses não têm condições
de ofertar o álcool necessário, lembra. De acordo
com Figueira, tudo vai depender de o Brasil se mostrar capaz de
suprir a demanda japonesa. A necessidade de importação
de etanol pelo Japão e a decisão de importar o produto
brasileiro são coisas vinculadas, visto que o Brasil é
hoje o único produtor com real capacidade de exportação
em grande escala.
Apesar dos novos horizontes que se abrem, o maior mercado potencial
para os produtores brasileiro ainda é o interno. Com
a frota de carros bicombustíveis em constante expansão,
se o preço do álcool hidratado (substituto da gasolina)
se mantiver até 70% do preço da gasolina (pois se
gasta mais álcool do que gasolina por quilômetro rodado),
a tendência é o consumidor brasileiro aumentar a demanda,
acredita o pesquisador.
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