Ocrescente avanço da homeopatia e o grande número
de dúvidas sobre suas práticas são algumas
das razões para ler o livro Homeopatia Medicina sob
medida, que acaba de ser lançado pelo médico Paulo
Rosenbaum.
Médico homeopata, Rosenbaum é graduado pela Faculdade
de Medicina da USP. Seu doutoramento, defendido no final de 2005,
também na Faculdade de Medicina da USP, tem como tema o conceito
de medicina do sujeito, que é a terapia centrada
no paciente de forma holística, e não apenas nos sintomas
de maneira generalizada. Essas são, segundo o autor, características
do tratamento homeopático.
Com o lançamento, Rosenbaum, que também é docente
da Escola de Homeopatia, pretende acabar com mitos e esclarecer
a terapia homeopática. Na entrevista a seguir, o médico
fala sobre as dificuldades para a aceitação da homeopatia
no meio científico e os preconceitos ainda existentes. Ele
também explica o que é a medicina do sujeito
e a contribuição da homeopatia para outros campos
da medicina. A homeopatia é uma forma de operacionalizar
a interdisciplinaridade, tão falada e tão pouco realizada.
Esse é o nosso método de trabalho, diz o médico.
JORNAL DA USP Por que a homeopatia foi considerada, durante
muito tempo, um tipo de curandeirismo?
Paulo Rosenbaum Existem motivos que são de
ordem cultural e outros de ordem socioinstitucional e política.
A homeopatia nunca conseguiu se institucionalizar dentro da universidade.
Por falta de organização dos próprios homeopatas,
por um certo belicismo existente entre os próprios homeopatas
e dificuldades de comprovação do seu saber. Essas
dificuldades persistem até hoje.JUSP Como o senhor
reage à crítica de que não há comprovação
científica dos efeitos da homeopatia?
Rosenbaum Ainda não se conseguiu provar o modo de
atuação da homeopatia. Mas, ainda que não se
saiba como acontece, existe a comprovação empírica
de que a homeopatia dá resultados, tanto in vitro (em laboratório),
como in vivo (em pacientes). Não se sabe como isso se dá,
já que são doses muito diluídas, abaixo do
limite da matéria. Acredita-se que o efeito esteja em uma
informação de natureza eletromagnética, o que
é muito provável.
JUSP
As indústrias farmacêuticas tradicionais são
um obstáculo para o uso dos remédios homeopáticos?
Rosenbaum Há barragens que não são
propriamente científicas. Existe um bloqueio do mercado tradicional,
mas o mercado homeopático é um mercado emergente.
E já movimenta algo em torno de várias centenas de
milhões de dólares. E isso incomoda as indústrias
farmacêuticas. Muitas delas estão entrando nesse mercado,
investindo em fitoterapia, percebendo a evolução,
o que era impensável há 20 anos.
JUSP
Ainda existe preconceito contra a homeopatia entre os médicos
?
Rosenbaum É necessário que se diga que
diminuiu muito. A homeopatia vem crescendo tanto na Europa como
nos Estados Unidos e mesmo no Brasil. Está conseguindo sua
inserção nas universidades. E também uma inserção
social. No dia 15 de dezembro passado, por exemplo, foi aprovada
uma lei (a Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares) permitindo trazer para o Sistema Único
de Saúde (SUS) práticas não-convencionais,
como a acupuntura e a homeopatia.
JUSP
Mas chamar de práticas não-convencionais
já não evidencia uma certa implicância?
Rosenbaum Sim. A recomendação é
que passe a se chamar esse tipo de intervenção de
medicinas integrativas, caracterizando-o como um pool
interdisciplinar, de práticas que trabalham com diversas
áreas.
JUSP
No livro, o senhor aponta essa como a grande virtude da homeopatia.
Rosenbaum Essa é a idéia de nós
realmente operacionalizarmos a interdisciplinaridade, tão
falada e tão pouco realizada. Na homeopatia esse é
o método de trabalho. A homeopatia tem que necessariamente
conversar com a antropologia, com a psicologia e com as práticas
médicas convencionais, para melhor atender o paciente como
sujeito.
JUSP O que é a medicina do sujeito
de que o senhor fala no livro?
Rosenbaum Existe uma área emergente na medicina,
que é a medicina centrada no paciente. Uma outra prática
é a medicina baseada em narrativas. Essa é a base
de trabalho da homeopatia: a história do sujeito. É
através dela que você pode compreender a doença
ou a enfermidade. O meu doutoramento é sobre a medicina do
sujeito, e ela está para além da homeopatia, é
a incorporação de outras coisas além dos sintomas
simples usados tradicionalmente.
JUSP Qual é a contribuição da
homeopatia para outros ramos da medicina?
Rosenbaum A homeopatia tem uma forma muito particular
de fazer a anamnese (conhecimento do histórico do paciente).
Faz-se uma entrevista longa, bastante detalhada, que evoca não
só a patografia, mas também a biografia. Como o paciente
é, qual seu temperamento, quais são seus hábitos.
Hoje se fala da humanização da medicina. A homeopatia
tem essa performance já incorporada na prática. Você
acolhe o discurso, traz o sujeito de volta à cena. Mantém
a medicina como o contato entre humanos.
JUSP Então a homeopatia não se pretende
única?
Rosenbaum A homeopatia não é contra
a biomedicina, é um modo diferente de conhecer o corpo. Ela
dialoga com a medicina porque o paciente precisa manter os tratamentos
de todos os lados. Qualquer tipo de benefício, sobretudo
em enfermidades graves, é bem-vindo. Hoje um dos programas
mais importantes da área de saúde do governo é
o médico da família. Seu sucesso não se dá
apenas por levar o médico até as regiões mais
distantes. É a idéia do médico individual,
que acaba conhecendo o paciente, sabendo de traços da sua
vida. Esse médico tem como interferir de maneira mais eficaz.
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