Com intensa produção, o 5o Congresso Ibero-Americano
de Educação Ambiental realizado de 5 a 8 de
abril em Joinville (SC) contou com a presença de 5
mil participantes de 22 países, entre eles Brasil, Espanha,
Cuba, México, Argentina, Peru, Panamá e Nicarágua.
Foram apresentadas centenas de exposições orais, pôsteres,
comissões temáticas, oficinas, mini cursos, grupos
de trabalho, conferências e mesas-redondas.
Na plenária final, dia 8, os participantes do encontro aprovaram
duas cartas, duas declarações, duas moções
e a criação de 15 redes temáticas, para a continuidade
do debate sobre educação ambiental. Também
foi proposta a criação de uma legislação
específica para a educação ambiental nos países
ibero-americanos que ainda não a têm, bem como a inclusão
dessa disciplina na formação de professores.
O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis
e Responsabilidade Global texto elaborado por várias
ONGs durante a ECO-92, no Rio de Janeiro foi reafirmado pelos
congressistas, que declararam apoio ao processo internacional de
revisão e difusão do documento, pedindo que organismos
internacionais e governos se inspirem na proposta. Sugeriram a criação
de um Conselho Internacional para organização e revisão
do próprio tratado.
O congresso apontou ainda a necessidade de fortalecimento de estruturas
populares de comunicação socioambiental e de estímulo
à troca de experiências em gestão do ambiente
no âmbito das empresas e governos. Também determinou
que a próxima edição do Congresso Ibero-Americano
será sediada na Argentina, em 2009.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abriu o evento oficialmente,
sendo aplaudida em pé pelo público que lotou a arena
do assim chamado Centreventos Cau Hansen, em Joinville. Para ela,
o 5o Ibero deve traduzir em ações a sensibilidade
das pessoas para as questões ambientais. É através
da Rede Ibero-Americana de Educação Ambiental que
formaremos nossas consciências, ajudando na efetivação
de novas práticas e novas atitudes, buscando maiores cuidados
com os recursos naturais comuns a todos.
Estiveram presentes também o secretário nacional de
Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade do Ministério da Educação, Ricardo
Henriques, o coordenador da Rede de Formação Ambiental
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(Pnuma), Enrique Leff, o prefeito de Joinville, Marco Tebaldi, o
secretário de Desenvolvimento Sustentável de Santa
Catarina, Sérgio Silva, e a representante da Rede Brasileira
de Educação Ambiental, Patrícia Mousinho.
Mudança
de atitude
Em sua apresentação, a ministra Marina Silva afirmou
que o Brasil tem avançado muito na questão da educação
ambiental, estreitando as relações entre o Ministério
da Educação, os governos estaduais e municipais, a
sociedade civil, as ONGs e a comunidade científica. Nas
27 unidades da federação, temos um trabalho consistente
implantado. Estamos criando uma rede de educomunicadores e centros
de Convidas espaços que ensinam e aprendem a convivência
com o diferente e com as outras formas de existência que são
tão importantes para o equilíbrio da vida, ressaltou.
A ministra enfatizou as quatro diretrizes que norteiam o trabalho
do Ministério do Meio Ambiente: o forte envolvimento da sociedade
na implantação das políticas públicas
ambientais, o desenvolvimento sustentável, o fortalecimento
do Sistema Nacional do Meio Ambiente e a Política Ambiental
Integrada e Transversal.
Outro ponto importante abordado por Marina Silva foi a questão
da implementação da educação ambiental.
Segundo ela, desde 2003, 30 mil professores da rede pública
de ensino passaram por treinamento. Hoje isso deve estar multiplicado
no mínimo duas a três vezes. Estamos com uma parceria
muito forte com vários segmentos da sociedade.
O maior desafio, para a ministra, é transformar a consciência
ambiental em atitude prática, e isso depende muito de como
cada cidadão e cidadã incorpora tais conceitos em
sua vida diária. O trabalho do Ministério do
Meio Ambiente se baseia numa ação transpessoal, perpassando
diferentes setores do governo, disse a ministra. Queremos
que a preocupação com a sustentabilidade esteja presente
em todos os ministérios. Tanto é que o plano de desmatamento,
por exemplo, é fruto do trabalho de 13 ministérios
e fez com que o desmatamento, em 2005, caísse 31%. Estamos
com a expectativa de que esse número caia ainda mais este
ano, além de outras ações transversais.
Novo
projeto
O educador Jean Pierre Leroy, que ministrou conferência no
dia 7, alertou para a necessidade de um novo projeto de vida para
a espécie humana. Estamos vivendo o início de
uma ruptura com a história da vida da humanidade, e a grande
questão que se coloca hoje é saber se o ser humano
quer continuar a viver no fluxo da vida, no tempo biológico
da evolução, ou se quer romper com esse tempo e com
a condição de vida no planeta.
Leroy, que coordena o Projeto Brasil Sustentável, da Federação
de Órgãos para Assistência Social e Educacional
(Fase), chamou a atenção para o fato de que não
é apenas a biodiversidade que está sendo perdida.
Ele criticou o atual modelo de desenvolvimento, que trata as pessoas
de forma desigual, deteriorando a vida de populações
e culturas mais vulneráveis e tratando-as como algo descartável,
como refugo humano, o que constitui um verdadeiro genocídio
cultural. Ele defende que se faça a educação
ambiental também com os que detêm o poder, com os produtores
e os formadores de opinião, a fim de que despertem para a
sua responsabilidade para com a continuidade da vida no planeta.
Outra proposta do educador é que se repense o conceito de
sustentabilidade. Para ele, o termo está muito banalizado.
Parece que todos defendem a sustentabilidade, ainda que com
interesses e simbologias diferentes.
O 5o Ibero contou com uma oficina que abordou a Conferência
Nacional do Meio Ambiente (CNMA) um fórum de debates
que reúne representantes do governo e da sociedade e já
realizou dois encontros, em 2003 e 2005. Estava presente o coordenador-executivo
da CNMA, Marcos Sorrentino, que ressaltou a importância da
conferência para as ações do Ministério
do Meio Ambiente. A CNMA é um instrumento que assegura
o espaço democrático de acompanhamento e contribuição
da sociedade para as ações do governo na área
ambiental, definiu Sorrentino.
A
USP no 5o Ibero
A
USP participou de forma ativa do 5o Ibero. A pesquisadora
Eliany Salvatierra, do Núcleo de Comunicação
e Educação (NCE) da Escola de Comunicações
e Artes (ECA) da USP, coordenou o grupo de trabalho Comunicação
e Educação Ambiental, que em dois dias de discussão
contou com a participação de mais de 50 pessoas
interessadas em compreender o papel da comunicação
na educação ambiental. Segundo Eliany, o objetivo
do grupo foi mostrar às pessoas que elas precisam participar
e pensar políticas públicas para a educação
ambiental. Que as pessoas se sintam sujeitos e atores
das políticas públicas e não somente
meros reprodutores e receptores passivos do que é apresentado.
Outra frente de participação coube aos educadores
ambientais da Coordenadoria Executiva de Cooperação
e Atividades Especiais (Cecae) da USP, Daniela Cássia
Sudan, Ana Maria de Meira e Antonio Vitor Rosa. Na oficina
Educação ambiental e lixo: mitos e possibilidades,
eles trataram do método dos três erres
redução, reutilização e
reciclagem , discutindo a importância de mudar
o atual padrão de consumo das pessoas. Os educadores
falaram sobre a gestão de resíduos sólidos
nas universidades e ofereceram subsídios, a partir
da experiência do Projeto USP Recicla, da Cecae, para
que as instituições universitárias possam
lidar com o próprio lixo, propondo um formato participativo
de gestão compartilhada. É uma metodologia
defendida pelo USP Recicla para a educação ambiental,
diz Daniela. Vitor Rosa coordenou um grupo de trabalho sobre
a Rede Universitária de Programas de Educação
Ambiental (Rupea), reunindo experiências de universidades
brasileiras que discutem a educação ambiental
no meio acadêmico
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