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A paixão pelo futebol, também no
Haiti, desde a infância; transporte público em Porto Príncipe,
homenageando o craque brasileiro Ronaldo; e a euforia da multidão
na compra dos ingressos para a partida que marcou o país
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O
“Jogo da Paz”
Estréia nesta sexta o documentário
de Caíto Ortiz e João Dornelas, que retrata a passagem
da seleção brasileira pelo Haiti, em agosto de 2004
- por Luiza Sobré
Pode
uma partida de futebol entre uma nação triste e pobre
e os craques do futebol mundial transformar tiros em conversas políticas?
Podem 90 minutos interromper guerras e conflitos? São essas
respostas que o documentário O Dia em que o Brasil Esteve
Aqui tenta responder. Os diretores Caíto Ortiz e João
Dornelas filmaram a partida realizada no dia 18 de agosto de 2004,
em Porto Príncipe, capital do Haiti, chamada de o “Jogo
da Paz”, um amistoso entre a seleção brasileira
e a haitiana. A idéia do jogo nasceu do atual governante
do país, o primeiro-ministro Gerard Latortue, para quem apenas
o futebol brasileiro, e craques como Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho,
teriam o poder de trégua. E foi no pequeno estádio
Sylvio Cantor, com capacidade para apenas 13 mil pessoas, que se
viveu um raro instante político e esportivo, numa terra em
guerra civil, sob uma “tranqüilidade” mantida pelas
forças de paz da ONU (Organização das Nações
Unidas).
As
cenas demonstram como o fascínio pelos pentacampeões
do mundo deixou o gramado para unir aquele povo, dominando as residências
de paredes caiadas e esgoto a céu aberto. O jogo, vencido
pela seleção brasileira por 6 a 0, se tornou o mais
importante evento esportivo no país depois da participação
do Haiti na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, quando o centroavante
da seleção haitiana, Emmanuel Sanon, fez um gol diante
da Itália do invicto goleiro Zoff. Gol esse que virou ícone
de um povo que adora o futebol tanto quanto adora o Brasil. Trinta
anos depois, a presença da seleção brasileira,
muito mais que um instante de futebol, tornou-se um marco político,
o dia em que o Brasil esteve ali. O mais respeitado cronista esportivo
do país, Patrice Dumont, traz uma colocação
sobre o futebol brasileiro: “Existe o hard power e o soft
power. O Brasil simboliza o soft power”, fazendo alusão
ao poder que os craques brasileiros têm em jogar bola e a
conseqüente admiração haitiana.
“É
uma relação físico-emocional do haitiano com
o brasileiro e vai além do futebol, que passa pelo jeito
de ser brasileiro”, informa o diretor. “Na ocasião
o primeiro-ministro fez uma declaração dizendo que,
antes de o Brasil mandar tropas de paz, deveria mandar jogadores
da seleção brasileira. Na frase dele estava implícito
que o País deveria mandar o Ronaldo para o Haiti, jogador
que mudaria muita coisa.” Em seguida os assessores do Planalto
e do Itamarati apresentaram a sugestão ao presidente Lula,
que abraçou a idéia. Havia um amistoso marcado, na
mesma data, contra a Itália, em Nova York, para comemorar
os dez anos do tetracampeonato (que aconteceu em 1994), mas mudaram
esta data e em pouco mais de um mês fizeram a idéia
acontecer.
Repercussão
– “O jogo em si é bem isso, uma peça
de marketing incrível para aquilo que o governo queria e
não obteve sucesso, que era o assento permanente no Conselho
de Segurança da ONU”, acredita Caíto Ortiz,
acrescentando que é triste saber que no fundo é só
um interesse na política externa. Na opinião do professor
de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da USP Leonel de Almeida Mello, trata-se
de uma aproximação ideológica, onde se busca
criar algum consenso na relação com a sociedade para
reduzir a coerção que as forças externas exercem
sobre a sociedade haitiana. Entretanto, César Augusto Lambert,
doutorando do Núcleo de Análise Interdisciplinar de
Políticas e Estratégia (Naippe) da USP, acredita que
o jogo foi um momento emblemático, com uma participação
diferencial do Brasil na missão de paz.
Na
época, as notícias que saíram foram muito ufanistas,
“eles estão superagradecidos”, mas todos os jornalistas
brasileiros, sem exceção, chegaram e partiram do país
junto com a seleção brasileira, como informa o diretor.
“Passaram apenas cinco horas no Haiti. Alguns poucos chegaram
dois, três dias antes da partida e foram embora após
o jogo, o que prejudicou a cobertura”. Ao contrário
do grupo envolvido com o documentário, que chegou dez dias
antes do jogo e ficou mais cinco após. “O depois, na
minha opinião bem representado no filme, foi uma rebordosa.
O povo haitiano se indagava se não seriam salvos pelos jogadores
brasileiros, se não resolveriam todos os problemas”,
acrescenta. Tratando-se de um povo muito carente, havia todos os
elementos para que acreditassem, de fato, na solução
para aquele momento histórico. “Houve muita decepção
da população, com dois tipos claros: o intelectual
haitiano decepcionado e aquelas pessoas menos politizadas, acreditando
que o Brasil, ao passar pelo país, não deu muita atenção
à população.”
Filmagens – Quando surgiu a idéia do documentário,
havia um intervalo de 20 dias, aproximadamente, para decidir se
o fariam ou não. Isto porque se tratava de um acontecimento
único e não planejado. Como conta Caíto Ortiz,
“foi no calor das emoções, o governo comprou
a idéia, a CBF (Confederação Brasileira de
Futebol) apoiou e, resolvemos fazer o filme”. Foram para o
Haiti, os dois diretores, o roteirista, o fotógrafo, um responsável
pela captação de som, todos com uma câmera mini-DV,
contando com a ajuda de uma produtora haitiana que, segundo Ortiz,
foi fundamental no processo de produção.
Na trilha sonora, a música do Haiti acabou entrando por acaso.
O fotógrafo Cristiano Wiggers, na viagem de volta ao Brasil,
comprou no aeroporto dois CDs de música haitiana, que comemoravam
o bicentenário de Porto Príncipe (que aconteceu no
início de 2004). E eram músicas antigas do país,
das décadas de 30, 40, mais poéticas do que as atuais.
“Seria importante não abordar o povo como vitimizado.
E eles são muito interessantes, alegres. O maior ganho com
o filme foi retirar o estereótipo do pobrezinho”, diz
Ortiz. E conseguiram uma trilha que encaixa bem, entrando no Haiti
com uma imagem do exército brasileiro – uma surpresa
para os diretores, que se impressionaram com sua conduta. Havia
uma esperança por parte dos soldados em relação
ao povo, uma afeição. “Apesar de se dizer que
é uma tropa de paz, e que deve manter a paz, ela não
está lá para realizar o trabalho da polícia,
o que é o maior entrave de toda a história, uma vez
que a polícia haitiana é muito violenta, decorrente
da ditadura vivida pelo país.”
O
documentário foi lançado na Mostra Internacional de
Cinema de 2005 e coincidiu com um momento político delicado
no país caribenho: as eleições presidenciais
estavam marcadas para o final de 2004. Foram as primeiras desde
a queda de Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro do mesmo ano. O
sufrágio chamou a atenção dos Estados Unidos,
interessados em controlar o Haiti, das forças de paz da ONU
e de observadores internacionais. E a nação voltou
então a atrair a atenção do mundo.
A
estréia do filme O Dia em que o Brasil Esteve Aqui será
nesta sexta, simultaneamente em São Paulo, Rio de Janeiro,
Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília. Aqui,
acontece no Espaço Unibanco de Cinema (r. Augusta, 1.475,
tel. 3288-6780), com ingressos de R$ 12,00 a R$ 15,00. O filme também
foi doado para a televisão estatal do Haiti. |
Direção
de fotografia
Madame Satã, de Karin Aïnouz, com fotografia de
Walter Carvalho |
Começa
nesta quarta a mostra “Arte em Movimento – A Fotografia
no Cinema”, reunindo 20 longas-metragens, entre clássicos
e filmes contemporâneos, que ressaltam o papel do diretor
de fotografia. Na abertura serão exibidos O Atalante (França,
1934), de Jean Vigo e fotografia de Boris Kaufman (15h), Tudo Sobre
Minha Mãe (Espanha, 1999), de Pedro Almodóvar e fotografia
do brasileiro Affonso Beato (17h); e Encouraçado Potemkin
(ex-URSS, 1925), de Sergei Eisenstein e fotografia de Eduard Tissé
(19h). Ainda na programação, clássicos como
Pickpocket (França, 1959), de Robert Bresson, Acossado (França,
1960), de Jean-Luc Godard, Gritos e Sussurros (Suécia, 1972),
de Ingmar Bergman, e O Leopardo (Itália, 1963), de Luchino
Visconti. Curadoria do cineasta e jornalista Gustavo Galvão.
No dia 16 de maio será realizada uma palestra com o diretor
de fotografia Walter Carvalho (Central do Brasil, Lavoura Arcaica
e Madame Satã, este último integrante da mostra),
que vai discutir seus métodos de trabalho. Até 21
de maio, no Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado,
112, Centro, tel. 3113-3651). Ingressos: R$ 4,00 e R$ 2,00 (Cinepasse
válido para todas as sessões, R$ 8,00 e R$ 4,00).
Programação completa no site www.bb.com.br/cultura.
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Truffaut
e a Nouvelle Vague
A
mostra “François Truffaut: Clássicos da Nouvelle
Vague”, que acontece a partir de quarta na Sala Cinemateca,
dá continuidade ao ciclo iniciado no ano passado com diretores
do movimento. Na abertura, estão os filmes Domicílio
Conjugal (1970), sobre Antoine Doinel, que tem seu casamento abalado
com Christine ao se envolver com uma bela japonesa (17h10) ; Os
Pivetes (1958), curta sobre um grupo de garotos que persegue um
casal de namorados, seguido de Beijos Proibidos (1968), em que Antoine
Doinel, ao final do serviço militar, consegue um emprego
em um hotel graças à intervenção do
pai de sua noiva (19h05); e O Amor em Fuga (1979), uma das mais
românticas aventuras de Antoine Doinel, que ao se separar
de Christine rememora seu passado (21h15). Ainda na programação,
Os Incompreendidos, A Mulher do Lado, Na Idade da Inocência
e O Amor aos Vinte Anos (episódios Antoine e Colette e A
Noite Americana). Até 15 de maio, na Sala Cinemateca (Largo
Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana, tel. 5084-2177). Ingressos:
R$ 8,00 e R$ 4,00.
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Futebol
no Cinema
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Essa
mostra do Cinusp – que tem como objetivo traçar a relação
entre o futebol e o cinema, ou ainda, a questão da representação
desse esporte nas telas – exibe nesta semana mais dois filmes,
além de curtas-metragens. Garrincha – A Estrela Solitária
(2005), de Milton Alencar, baseado na biografia escrita por Ruy
Castro, retrata a vida do craque, confrontando o mito do futebol
mundial ao homem humilde do interior; será exibido logo depois
do curta Gaviões (1982), de André Klotzel, que retrata
o fanatismo da torcida uniformizada do Corinthians (terça
e quarta, às 19h, e quinta e sexta, às 16h). E o longa
estrangeiro O Milagre de Berna (Alemanha, 2003), de Sonke Wortmann,
conta a história de um garoto de 11 anos que adora futebol
e, na Alemanha de 1954, tenta acompanhar cada momento dos últimos
jogos que decidirão a final da Copa do Mundo na Suíça,
mas a relação com seu pai não está fácil,
pois ele acaba de retornar da Rússia, onde ficou 11 anos
como prisioneiro de guerra e traz consigo sérios problemas
emocionais, dificultando a convivência com todos da família;
exibido depois de Uma História de Futebol (1998), de Paulo
Machline, baseado em depoimento de um companheiro de infância
de Dico, mais tarde Pelé (quarta, às 16h, e quinta
e sexta, às 19h). No Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, Colméia,
favo 4, tel. 3091-3540). Programação completa em www.usp.br/cinusp.
Entrada franca. |
Mostra
Marquês de Sade
O autor
francês Marquês de Sade, por causa de uma vida notavelmente
escandalosa, passou mais de 27 anos na prisão. A mostra “Marquês
de Sade”, com curadoria de Reinaldo Cardenuto Filho e Eliane
Robert Moraes, traz filmes que retrataram sua vida, adaptações
de obras e produções inspiradas nos temas explorados
pelo escritor. Estão na mostra: Satyricon (Itália,
1970), de Federico Fellini, que conta a história de dois
jovens, na Roma Antiga, que passam por uma série de experiências
sexuais (quarta, às 20h); Via Láctea (França/Alemanha/Itália,
1969), de Luis Buñuel, no qual dois homens fazem a mística
peregrinação de Santiago de Compostela, na Espanha,
se deparam com todo tipo de heresia e acabam encontrando o Marquês
de Sade (quinta, às 20h); e Contos Proibidos do Marquês
de Sade (EUA, 2000), de Philip Kaufman, que aborda a história
do marquês, que, isolado do mundo em um sanatório,
elabora seus contos com auxílio de uma camareira (sábado,
às 18h), O Centro Cultural São Paulo fica na r. Vergueiro,
1.000, Paraíso, tel. 3277-3611. Mais detalhes da programação
no site www.centrocultural.sp.gov.br.
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