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As colonizações, a escravidão, a Inquisição, o Holocausto. Muitos foram os episódios na história da humanidade em que pequenas diferenças – sejam religiosas, políticas, raciais ou culturais – causaram enormes confrontos e sangrentos massacres. Promover e ensinar a tolerância, uma atitude capaz de evitar todos esses conflitos, é o grande objetivo do Museu da Tolerância de São Paulo, que acaba de dar mais um passo no sentido de se tornar realidade. No dia 25 de abril, em cerimônia no auditório do Museu de Arte de São Paulo (Masp), aconteceu a assembléia que aprovou o estatuto do novo museu e elegeu os membros do seu Conselho de Administração. A primeira e árdua tarefa do conselho do museu – que agora passa a existir juridicamente – será a de arrecadar fundos para erguer o edifício que abrigará o museu e tomar as providências para possibilitar sua inauguração, no máximo em 2009.

“Esta reunião de hoje tem um grande significado, porque consolida os esforços despendidos na construção de um sonho. Estamos dando um passo muito concreto”, comemorou a professora do Departamento de História da USP Anita Novinsky, idealizadora do projeto, em seu discurso de abertura da reunião, proferido pouco antes de ser escolhida pelos membros da assembléia para presidir o Conselho de Administração do museu.


Anita: paz, a única alternativa

No evento, estavam presentes personagens ilustres da luta pelos direitos humanos, como os ex-ministros Celso Lafer e José Gregori e o professor Dalmo Dallari, além do professor Alfredo Bosi e do pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da USP, Sedi Hirano, que representou a Reitoria. Esses e outros intelectuais compareceram à reunião para manifestar seu apoio ao projeto, que consideram ser de extrema importância. “Esse é um tema fundamental da agenda internacional e eu creio que o museu será uma iniciativa que nos ajudará a aprender a conviver com a diferença e com o pluralismo da condição humana”, afirmou Celso Lafer. Dallari também declarou seu apoio, acrescentando que “a intolerância é uma agressão à dignidade humana”.

Falar para o grande público – O Museu da Tolerância de São Paulo é um desdobramento dos trabalhos do Laboratório de Estudos Sobre a Intolerância (LEI) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, criado em 2002 sob o impacto dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Ele será muito mais do que apenas um espaço que abriga um acervo e o expõe para visitação. A idéia é criar um lugar de ensino e de pesquisa onde se trabalhe contra o preconceito e pela valorização da diversidade humana. “Quando criamos o LEI, voltado exclusivamente para a pesquisa, sentimos que só o trabalho científico não alcançaria os nossos objetivos”, ponderou Anita, acrescentando que o importante, hoje, é falar para o grande público e fazê-lo entender o mundo em que vive, “porque de sua posição ideológica depende muito o nosso futuro”.

O museu, primeiro do gênero na América Latina, tratará do tema intolerância de forma abrangente e deverá desenvolver estudos e exposições sobre crianças, mulheres, negros, índios, judeus, árabes e, inclusive, miséria. O lugar também será um espaço de convivência pacífica das mais diversas culturas e tradições, diz Anita. O acervo se formará aos poucos, mas ele já conta com a biblioteca particular de Anita sobre a Inquisição, uma das mais completas sobre o tema. São 10 mil livros e 100 mil documentos em microfilmes, resultado de 30 anos de pesquisas realizadas em diversos acervos da Europa e do Brasil.

Além do privilegiado terreno que a Universidade doou para sediar o museu – localizado na avenida Professor Lineu Prestes, à altura do prédio do Departamento de História e próximo ao portão do Instituto Butantan –, a USP oferece profissionais qualificados para trabalhar nessa área, além de um ambiente propício para esse tipo de atividade. É o que afirma o pró-reitor Sedi Hirano. “A USP é o lugar da diversidade e o Museu da Tolerância tem como marca a idéia de que a diversidade faz parte da cultura”, explica. Apesar de estar sediado no campus e de ser associado à USP, o museu será uma instituição autônoma e de direito privado, mas de interesse público.

O próximo passo é conseguir recursos para viabilizar a construção do espaço do museu. São 5.500 metros quadrados que custarão mais de R$ 10 milhões para serem erguidos (leia o texto abaixo). Depois restará definir em detalhes os trabalhos que serão desenvolvidos nesse espaço contra a intolerância, o autoritarismo e o ódio. Uma batalha da qual depende a sobrevivência da humanidade, segundo Anita. “Ou nós vamos ter a paz ou vamos sucumbir. Não tem outra saída”, alerta.


Um monumento à liberdade

“Um edifício exposto, aberto e livre. Coletivo e público. Por isso, monumental”, definiu a professora Anita Novinsky, idealizadora do Museu da Tolerância de São Paulo, sobre o edifício que será construído na Cidade Universitária, conforme projeto arquitetônico já aprovado. O projeto é dos arquitetos Juliana Corradini e José Alves e foi escolhido em concurso realizado em 2005, que reuniu mais de 170 trabalhos vindos de diversos Estados do País. Ele foi o eleito do júri pela sua ousadia, mas também por traduzir em linhas e formas muito da idéia e dos valores que estão por trás da criação do museu.
O simbólico está bem presente na concepção do museu. Os vidros representam a transparência, o vão livre remete à liberdade e à audácia. As rampas e escadas cruzam o vazio, segundo Anita, costurando cicatrizes que dificilmente se fecham. O ex-ministro da Justiça José Gregori, presente ao evento de aprovação do estatuto do museu, no dia 25 de abril, concorda: “O projeto é extremamente belo e muito significativo. Ele é um lema”. Segundo ele, basta olhar o edifício para saber que ele é um “milagre de equilíbrio” e, para Gregori, a tolerância é algo que diz respeito exatamente ao equilíbrio.

No projeto constam duas bibliotecas. Uma delas abrigará acervo documental, testemunhos, arquivos e fotos para consulta e pesquisa. A outra terá o acervo dedicado à literatura infanto-juvenil. Também haverá uma cinemateca e um auditório com capacidade para 400 pessoas. Galerias para exposições permanentes e temporárias, salas multimídia e salas de aula também estão previstas. O edifício reservará ainda espaço para abrigar o Laboratório de Estudos sobre a Intolerância (LEI), atualmente sediado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A obra vai custar entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões e ainda não tem previsão para ser iniciada.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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