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cultura
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SYLVIA MIGUEL
Dimensões da nova
ordem mundial
Revista Estudos Avançados, que traz os possíveis cenários do Brasil no futuro, será lançada no dia 8,
com palestra do bispo da diocese da Barra (BA), Luiz Flávio Cappio, sobre a transposição do rio São Francisco


Estudos Avançados, número 56, dossiê Brasil: o país do futuro, Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, 350 páginas.

Num futuro próximo, mais precisamente até 2022, o mundo globalizado dará grande importância à utilização de fontes renováveis de energia. O Brasil terá 70% de probabilidade de consolidar sua liderança no continente sul-americano, o que não ocorrerá sem ônus, pois suas responsabilidades econômicas, políticas e relativas à segurança também aumentarão. Até 2022, haverá 60% de chances de aumentar o poderio econômico e militar da China. Em mesmo grau, a identidade política européia se afirmará, da mesma forma que se reduzirá a primazia dos Estados Unidos na economia e na política mundiais.

O que parece previsão de guru é um estudo prospectivo de fôlego para cenários futuros realizado por mais de 200 especialistas reunidos em torno de um programa recém-lançado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O primeiro dossiê desse levantamento está na revista Estudos Avançados número 56, que será lançada no dia 8 de maio, segunda-feira, às 17h30, no Anfiteatro Camargo Guarnieri. Na ocasião, o frei Luiz Flávio Cappio, bispo da diocese da Barra (BA), fará uma exposição sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco.

Pensar as possibilidades futuras é uma prática comum em países do Hemisfério Norte, haja vista, por exemplo, a quantidade de indicadores econômicos publicados semanalmente nos Estados Unidos e nos principais mercados europeus. No Brasil, essa prática ainda engatinha, embora comece a ser reconhecida pelas esferas governamentais como parte indissociável do exercício da liderança e da mobilização da sociedade para o desenvolvimento do País. Tanto que o IEA foi contratado em 2004 pelo Núcleo de Estudos Estratégicos da Secretaria de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República (NAE) para colaborar no Projeto Brasil 3 Tempos – 2007, 2015, 2022 (Br3T).

Coordenado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), uma organização civil de interesse público, o Br3T é um dos mais importantes e polêmicos programas de prospecção de cenários futuros já feitos no Brasil. Dentro daqueles marcos temporais – o primeiro ano de mandato do futuro governo (2007), a data do 20o aniversário do último plano de desenvolvimento da ONU e da avaliação das Metas do Milênio (2015) e, finalmente, o bicentenário da Independência (2022) – diversas instituições de pesquisa analisaram sete campos da vida em sociedade, incluindo a Dimensão Global e a Dimensão Institucional, ambas a cargo do IEA. Outras dimensões analisadas foram a econômica, sociocultural, ambiental, do conhecimento e territorial.

Os relatórios entregues ao NAE e ao CGEE constituíram a montagem de quatro cenários distintos para cada dimensão: o cenário desejado, correspondente à média daquilo que os pesquisadores gostariam que ocorresse; o cenário provável, contendo aquilo que acreditam que ocorrerá; e dois cenários contrastados, com variações problemáticas ou catastróficas em torno dos outros dois cenários.

Concluídos aqueles documentos, os estudiosos do IEA decidiram se debruçar sobre um ambicioso projeto, inspirado no trabalho encomendado pelo governo federal. Nascia o Brasil: o país no futuro – 2022, um programa que se propõe a produzir conhecimento e fornecer subsídios para o planejamento do futuro, a partir de um debate pluralista, realizado dentro do rigor científico. O resultado inicial do programa é justamente este primeiro dossiê publicado na edição 56 da revista Estudos Avançados.

Debates e consultas – Iniciados em agosto de 2005, os seminários que marcaram as primeiras atividades do programa do IEA se pautaram pela identificação de pontos críticos que dificultam o desenvolvimento do Brasil. Professores como Gildo Marçal Brandão, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Rewina Meyer, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Hélio Zilberstein, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), João Steiner, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), Simon Schwartzman, do Instituto do Trabalho e Sociedade do Rio de Janeiro, e José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, participaram ou coordenaram debates sobre variados temas: instituições políticas; relações internacionais e território; segurança pública e desenvolvimento urbano; economia e seguridade; conhecimento; e ambiente.

A partir de uma metodologia própria e contando com técnicas consagradas para esse tipo de levantamento – entre elas a pesquisa Delphi, a Análise e Estruturação de Modelos (AEM), o Brainwriting e outras –, o programa do IEA prossegue em 2006 com a preparação de uma segunda pesquisa Delphi que se realizará em duas rodadas. Dessa forma, será possível atualizar os cenários desenhados em 2005, além de preparar a base de dados para um programa sistemático e permanente de prospecção de cenários.

Coordenado e dirigido pelos professores do IEA Geraldo de Forbes e João Steiner, o estudo traz no “cenário desejado” para o Brasil nos próximos 16 anos “um país capaz de estabilizar o regime democrático; de ampliar a fiscalização popular nas decisões políticas (accountability); de voltar a crescer a taxas históricas pré-anos 1980; de enfrentar com sucesso as disparidades regionais e de investir na educação e no desenvolvimento tecnológico”, entre outras boas notícias.
No entanto, no artigo “O Brasil no mundo: conjecturas e cenários”, assinado pelo professor Sebastião Velasco e Cruz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Ricardo Sennes, sócio-diretor da Prospectiva Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais, o “cenário mais provável” para o País dentro do contexto globalizado será uma “desconcentração conflituosa”.

Ou seja, a redução da primazia dos Estados Unidos, o aumento do poder econômico e militar da China, a efetiva identidade política da União Européia através de uma Constituição própria e de uma Política Externa e de Segurança Comum (Pesce), a ascensão da Índia e a integração da Rússia à União Européia ocorrerão por meio de uma tensão maior entre os principais atores da política econômica internacional.

Num mundo em crise e com maiores perspectivas de intensificação da atividade terrorista, o Brasil se favorece no plano internacional de maneira a fortalecer sua importância econômica e institucional. Os acordos multilaterais diminuirão as garantias efetivas de acesso aos mercados globais para os produtos agrícolas brasileiros. Mas a busca de novos mercados, tais como China, Índia, Rússia e Oriente Médio, compensará em parte a redução de acesso via Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse ambiente permitirá o aumento das exportações brasileiras e a redução da relação dívida externa/PIB.

Além dos artigos com os quatros cenários imaginados para cada um dos temas tratados nos seminários realizados pelo IEA, a nova edição de Estudos Avançados reacende a questão da transposição do rio São Francisco, com uma entrevista de dom Luiz Flávio Cappio. O governador do Ceará, Lúcio Alcântara, e o professor Aziz Ab’Sáber, do IEA, abordam o tema em artigos assinados na seção Polêmica. Além das resenhas de livros assinadas pelo jornalista Washington Novaes e pelo economista João Machado Borges Neto, entre outros, a revista traz ainda uma homenagem à professora Gilda de Mello e Souza, falecida em dezembro passado, tema de artigo da professora Otília Beatriz Fiori Arantes, da FFLCH.

O lançamento da revista Estudos Avançados será no dia 8 de maio, segunda-feira, às 17h30, no Anfiteatro Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, em São Paulo. Mais informações pelo telefone (11) 3091-3919.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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