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Nos últimos anos a genética tem sido uma das áreas do conhecimento que mais tem avançado. As descobertas científicas nesse campo, somadas às de outros, como a informática e novos materiais, têm contribuído direta ou indiretamente em outras áreas, incluindo a medicina e suas diferentes especializações, como a oftalmologia, que tem vivido a utilização cada vez mais freqüente de novas tecnologias, e grandes promessas para o futuro, como o desenvolvimento de olhos artificiais capazes de devolver a visão para muitas pessoas.

Boa parte dessas novidades tem sido desenvolvida em institutos especializados e, no caso do Brasil, principalmente nas universidades, com o apoio de seus hospitais. Entretanto, apesar desse boom, vital para o crescimento do conhecimento, o professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas (HC), Newton Kara José, alerta que o aspecto fundamental tem que continuar sendo a valorização do atendimento. “A Universidade se baseia no tripé de atividades ensino, pesquisa e extensão, do qual o atendimento faz parte”, lembra. “Apesar da importância das novidades, não podemos nos distanciar do ideal de prestar um atendimento humano e de alta qualidade para todos, como forma de melhorar a vida das pessoas e de garantir o acesso às novidades.”


Newton Kara José: “Não podemos deixar de atender à população”

Segundo o professor, é o que a Faculdade de Medicina e o HC têm feito por meio de suas freqüentes campanhas ou mutirões de catarata, doença que, além de ser a segunda maior causa mundial de perda de visão, é a primeira no caso das pessoas acima dos 60 anos. “Os mutirões começaram em 1986 e seu modelo de atendimento rápido e de qualidade, visando a desafogar as filas de espera pelo procedimento cirúrgico, passou a ser adotado em outras áreas da medicina”, conta. “Por isso fomos surpreendidos com a notícia, recentemente divulgada pelo Ministério da Saúde, do fim da política federal de financiamento para os mutirões. Após 20 anos de trabalho para popularizar a cirurgia de catarata, incluindo a sensibilização da população, o treinamento de médicos, a busca de parceiros e o atendimento de milhares de cidadãos, creio que se trata de um dos projetos que melhor souberam aplicar os recursos públicos.”

O Ministério anunciou que os procedimentos cirúrgicos realizados pelos diferentes tipos de mutirões (catarata, próstata, retinopatia diabética e varizes) serão incorporados à Política Nacional de Procedimentos Cirúrgicos Eletivos de Média Complexidade Ambulatorial e Hospitalar.

No HC, os mutirões atendiam uma média de 5 mil a 10 mil pessoas por fim de semana, num trabalho que envolvia mais de 200 médicos na realização de exames clínicos e marcação de procedimentos, quando necessário, o que resultava em cerca de 600 cirurgias por mês, média que colocava o hospital como o segundo do mundo com relação à quantidade. “Apesar de sermos o segundo em quantidade, cerca de 7 mil cirurgias só no ano passado, somos o primeiro em qualidade”, garante Kara José. “Esperamos conseguir manter o projeto, mas vamos aguardar os desdobramentos da medida.”


Miguel Giannini: aprendendo com os pacientes

A catarata é uma doença que ocorre devido à opacidade do cristalino (uma espécie de lente natural do olho), o que gera a sensação ao paciente de estar olhando por meio de um vidro opaco ou amarelado. Apesar de ser curável, em muitos casos, a catarata afeta milhões de pessoas em todo mundo, notadamente os mais pobres, devido às suas poucas possibilidades de acesso aos serviços de saúde.

A Clínica Oftalmológica do HC também participa de outras iniciativas, como a Campanha Olho no Olho. Trata-se do atendimento de crianças do ensino fundamental da rede pública por meio de consultas que visam a detectar ametropias – deficiências refrativas como a miopia, hipermetropia e astigmatismo – e doar óculos como forma de tratá-las. “Muitas crianças, normalmente vindas de famílias com poucos recursos materiais, acabam não tendo seus problemas detectados. Quando são muito graves, podem gerar dificuldades de aprendizado, evasão escolar, exclusão social e de grupos, podendo, inclusive, ser confundido com sintomas de problemas mentais, como o retardamento”, explica Kara José. “Em quatro meses já conseguimos atender cerca de 21 mil estudantes, sem alterar a rotina do hospital, graças aos nossos profissionais e ao apoio dos governos federal e estadual, de empresas e ONGs, o que também mostra a enorme capacidade de trabalho do HC em prol da comunidade.”

Estética e saúde – Um dos apoios obtidos pelo HC foi a participação do esteta ocular Miguel Giannini, famoso por ter entre seus clientes políticos, como o presidente Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de muitos artistas e atores que, por força da profissão, precisam se preocupar com a estética. “Fiquei muito feliz por ter podido participar da iniciativa que, além do atendimento de saúde, também trabalha com questões como o resgate da auto-estima e a conscientização da criança sobre a importância dos estudos, muitas vezes deixados de lado em função das dificuldades visuais”, conta Giannini. “O mais importante é que acontecimentos como esse nos levam a perceber o quanto temos a aprender, a rever conceitos e, no final de tudo, a crescer como seres humanos.”

Após os alunos passarem pela consulta com o médico, Giannini realizava seu atendimento estético, buscando a interação com a criança para deixar clara a importância dos óculos. “Se a pessoa tem que usar, que seja, então, de forma harmoniosa com os traços de seu rosto e com sua personalidade, gerando bem-estar e auto-aceitação”, explica o esteta, que ficou mundialmente conhecido por ser capaz de adequar os óculos às características físicas, profissionais e de personalidade das pessoas que o procuram. Além disso, o especialista recentemente lançou em Paris, na França, uma coleção própria, que leva seu nome e valoriza elementos da cultura nacional, como cores e tecidos específicos. “Miguel Giannini tem sido um parceiro fundamental da iniciativa”, conta Kara José. “A paciência dele para ensinar as crianças, principalmente as que têm dificuldades para aceitar o uso dos óculos, é incrível.”

Para Giannini, não se trata apenas do atendimento à criança, mas à família, que chega normalmente cansada de passar por tantos problemas, privações e exclusão. “Uma vez atendi a uma criança e sua mãe, que quis interferir em meu trabalho. Recebi mal o fato e a botei para correr”, conta. “Mas, depois, percebi que não se tratava disso. No fundo, o que aquela mãe, excluída, acostumada a sofrer diariamente, queria era proteger seu filho tentando garantir o melhor para ele. Quando ela e o menino voltaram para pegar os óculos, pedi desculpas e percebi o quanto aquela situação e meu erro me ensinaram.”

Além do atendimento a uma média de 300 a 400 crianças por final de semana, em 2005 Giannini também doou boa parte dos óculos para os estudantes, num total de 8.699. Além do HC, o empresário também contribuiu com doações para o Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), num total de 6.895 óculos de idosos e 300 para crianças, Asilo para Idosos Ondina Lobos (32 pares), Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, a Apae (20 pares), Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês (74 pares), Projeto Amazonas, com 158 pares para índios e ribeirinhos, e Fraternidade Assistencial do Embu, com 200 óculos (em parte financiados pelo governo).

Segundo Kara José, graças às parcerias, o custo final de cada óculos girou em torno de R$ 35. “Se as pessoas se conscientizarem de que com tão pouco podemos fazer muito, este país se tornará mais humano e, portanto, um lugar melhor para se viver.”


Estudos confirmam prevalência da hipermetropia

Estudo de uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob a coordenação de Carlos Alexandre de Amorim Garcia, pesquisou a incidência de ametropias (principais tipos de deficiências refrativas) nos jovens e crianças do Estado. A campeã foi a hipermetropia, responsável por 71% dos casos diagnosticados, seguida pelo astigmatismo (34%) e pela miopia (13,3%). Além disso, quase metade dos míopes (48,5%) e pouco mais de um terço dos hipermetropes (34,1%) têm astigmatismo. Para chegar a esses resultados, a equipe analisou por meio de um exame chamado refratometria os olhos (2.048) de 1.024 estudantes matriculados no ano letivo de 2001, que foram divididos em quatro grupos por faixa etária – de 5 a 10 anos, 11 a 15 anos, 16 a 20 anos e 21 anos ou mais.


O artigo, publicado na edição de maio/junho de 2005 dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, periódico editado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, reforça as conclusões obtidas por outras equipes de pesquisadores que mostram a hipermetropia como sendo a ametropia mais comum no Brasil, ao contrário do que muitos imaginam. O estudo, assim como de seus antecessores, bate de frente com resultados de muitos trabalhos realizados por pesquisadores de outros países, sobretudo os orientais, que apontam a miopia como a mais freqüente das ametropias. Segundo os pesquisadores, a prevalência de ametropias na literatura científica é conflitante, principalmente com relação à miopia e à hipermetropia, pois, dependendo do país, a prevalência de uma é superior à de outra. As diferenças de resultados apontam que a constituição das populações de cada país deve influenciar nessa questão.

A hipermetropia ocorre quando um olho é mais curto do que o normal, o que faz com que as imagens sejam focadas atrás da retina (estrutura responsável pela recepção das imagens). Resultado: a pessoa tem dificuldades para enxergar nitidamente os detalhes mais próximos. A miopia é o contrário: o portador possui olhos muito alongados, o que faz com que as imagens sejam focadas antes da retina, gerando problemas para visualizar tudo que está muito distante.

No astigmatismo a imagem se forma em pontos distintos da retina, criando uma imagem “borrada”, tanto para longe quanto para perto. Isso ocorre porque a córnea possui uma curvatura irregular, mais oval que redonda. Esse desajuste faz com a luz se espalhe por vários pontos em vez de ficar focada em apenas um. Outro dado encontrado pela equipe é que a hipermetropia aparece com uma freqüência muito alta entre as faixas etárias mais baixas, bem superior do que a registrada em outros estudos. Entretanto, de acordo com o artigo, é impossível afirmar que há um decréscimo da hipermetropia e um crescimento da miopia com a idade sem a realização de novos estudos que comprovem a relação entre a incidência
de ametropias e a idade dos portadores.


Exame da USP ajuda a combater glaucoma


Remo Susanna Júnior: margem de acerto do novo método de diagnóstico do glaucoma chega a mais de 70%

O glaucoma é a primeira causa de cegueira no mundo. A afirmação é do professor Remo Susanna Júnior, da Faculdade de Medicina da USP. De difícil diagnóstico, pois muitas vezes a pessoa não sente nenhum sintoma, estima-se que algo em torno de 2% a 4% da população mundial seja portadora da doença, ou cerca de 40 milhões. Desses, um quinto do total (8 milhões) pode ter os dois olhos atingidos. “Além disso, o problema é de duas a três vezes mais freqüente em pessoas de origem africana”, conta Susanna, considerado um dos maiores especialistas sobre o tema e criador de uma nova forma de diagnóstico, o Early Diagnosis Program (EDP), capaz de identificar o comprometimento do nervo óptico e de glaucoma mesmo em pacientes que apresentam baixa pressão nos olhos.

“O problema é que antes o glaucoma era diagnosticado apenas por pressão intra-ocular, um método simples, mas inexato”, conta. “Médicos brasileiros e de outros países estão sendo treinados para utilizar a nova tecnologia, que aumenta a margem de acerto para mais de 70%.” Isso não significa que outros exames devam ser descartados, como o campo visual, retinografia e curva tensional, mas que a novidade pode ser incorporada como mais uma ferramenta para auxiliar o trabalho
dos oftalmologistas.

A novidade, apresentada há cerca de dois anos, está sendo adotada em diversos países, incluindo Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Japão, França, Itália, Espanha, Dinamarca e Portugal, entre outros. Além do novo exame, Susanna também desenvolveu um implante capaz de diminuir a pressão dos olhos de muitos pacientes ameaçados de perder a visão. Apesar de ter aberto mão da patente, o implante ainda não é fabricado no Brasil e os similares importados custam em torno de US$ 400 a US$ 700, preço proibitivo para os mais pobres. Com custo cerca de cinco vezes menor, o invento – um tubo que retira o humor aquoso do interior do olho e o distribui para outras partes do órgão, que o absorvem, diminuindo a pressão – depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para poder ser fabricado e distribuído em larga escala.

Segundo Susanna, cerca de 1,2 milhão de portadores de glaucoma pode vir a perder um dos olhos. “Pessoas com casos de glaucoma em parentes próximos, principalmente pais, têm de 10 a 20 vezes mais chances de vir a desenvolver a doença. E se a pessoa chegou a usar corticóides em algum momento da vida as chances aumentam de acordo com as doses administradas desses remédios, podendo chegar a um aumento de 50% nos casos de utilização de altas doses, comuns, por exemplo, no tratamento de alguns tipos de reumatismo”, diz. “Quanto mais cedo o glaucoma for descoberto, mais chances os portadores têm de evitar a perda da visão por meio de um tratamento específico.”


Os cuidados com as crianças

O teste do pezinho foi introduzido por lei no começo dos anos 80 para detectar algumas doenças, como a fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito, enquanto estratégia para o rápido estabelecimento de tratamentos, os quais podem evitar diversas complicações, entre elas o retardamento mental. A partir disso, especialistas e pais de crianças têm defendido o estabelecimento de outro teste em bebês, o reflexo vermelho, capaz de verificar se a criança nasceu com problemas de visão, entre eles a retinopatia da prematuridade, catarata congênita e glaucoma congênito, todos capazes de levar à perda da visão. Além dessas doenças, o procedimento pode ajudar a detectar retinoblastomas, tumores que podem causar a morte da criança. Existem leis municipais em São Paulo e no Rio de Janeiro que exigem a realização do exame, que consiste em apontar uma luz para o rosto da pessoa como forma de ver se o reflexo da pupila é vermelho e simétrico.

Em entrevista concedida recentemente ao jornal Folha de S. Paulo, a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ana Luisa Höfling-Lima, afirma que os bebês precisam ser avaliados no berçário como forma de serem tratados e, caso necessário, operados logo, evitando, no futuro, que não enxerguem.

Mas problemas mais comuns, como o estrabismo, também precisam ser levados a sério, principalmente pelos pais, mais capazes, pelo tempo que passam com a criança, de perceber sintomas como quando os olhos viram com uma freqüência maior que o normal, não importa em que direção. Caso o problema não seja detectado, a criança pode ficar estrábica e, como os olhos, assim como outros órgãos, ainda estão em desenvolvimento, o cérebro pode passar a ignorar boa parte das informações vindas do olho com problema, comprometendo seu desenvolvimento. Além dos exames no berçário e com um ano de idade, muitos especialistas são unânimes em afirmar que é fundamental levar a criança ao oftalmologista antes do início de sua alfabetização e não o contrário, como normalmente ocorre.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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