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Jornal da USP
Élide: discreta e dinâmica |
Na
terA Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) perdeu uma professora
dedicada. Élide Monzeglio morreu aos 79 anos, no dia 21 de
maio, devido a um derrame repentino. Mais de 60 pessoas compareceram
ao velório, na capela do Cemitério da Consolação,
e ao enterro. “Pelo número de pessoas que estavam ali,
todas muito próximas à professora, a maioria de alunos
e funcionários, tive a impressão de que todo o trabalho
dela valeu a pena”, disse o professor Julio Katinsky, ex-diretor
da FAU.
Élide trabalhava na FAU desde 1958, quando entrou como professora
assistente. “Com o tempo, foi fazendo uma grande carreira”,
conta a amiga Maria Bonafé, que foi orientada por Élide
no curso de doutorado. Maria conheceu Élide quando cursava
a graduação na FAU, nos anos 70. “Élide
era uma professora maravilhosa. Muito dedicada aos alunos, preparava
as aulas com cuidado e passava de carteira em carteira para acompanhar
o trabalho de cada um”, lembra.
A sensibilidade de Élide para lidar com os alunos lhe rendeu
a orientação de muitos trabalhos de pós-graduação
e a participação em várias bancas. “Ela
chegava a ter 20 orientandos de uma vez, quando a maior parte dos
professores tem 5 ou 6”, diz Maria, “porque conseguia
orientar os alunos em suas diversidades. Era capaz de trabalhar
com artistas plásticos, engenheiros e arquitetos.”
A professora Maria Ruth Sampaio, também da FAU, afirma que
sempre admirou sua dedicação aos alunos. “Eles
eram sua família.” Para Eliete Arruda, que foi secretária
de Élide, “ela era uma pessoa muito dinâmica”.
Formada como professora de pintura e desenho pela Faculdade de Belas
Artes, em São Paulo, foi na FAU que Élide continuou
sua carreira acadêmica, com doutorado e mais tarde a livre-docência,
ambos sobre a interpretação da cor e do espaço
na arquitetura. Chegou a dar cursos na pós-graduação
na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, além
das aulas ministradas na pós-graduação da FAU.
Sua disciplina mais recente tratava da sistemática da pesquisa
na linguagem do desenho.
Foi presidente da Comissão de Pós-Graduação
da FAU em três gestões, membro do corpo editorial da
revista Sinopses e vice-diretora da FAU por duas vezes, uma delas
entre 1994 a 1997, na gestão do professor Julio Katinsky,
entre outros cargos de administração. “Fez um
belo trabalho quando foi presidente da Comissão de Pós-Graduação.
Tinha uma grande dedicação na organização
do curso, que na década de 80 era o único curso de
pós-graduação em arquitetura no País”,
explica Katinsky. “Élide sempre foi discreta, assumiu
a posição de professora e viveu para ajudar os outros”,
diz. Em 1997 Élide se aposentou, mas continuou orientando
e dando aulas.
Os inúmeros trabalhos feitos por Élide ou de que participou
estão à disposição nas bibliotecas da
FAU, mas nunca foram publicados. Para Katinsky, publicar esse material
agora, além de ser uma homenagem à professora, seria
importante para transferir à sociedade o conhecimento que
ela ajudou a produzir.
Nascida na cidade de São Paulo em 19 de abril de 1927, Élide
sempre morou na mesma cidade. Filha única de pais italianos,
perdeu o pai cedo, com 18 anos. Foi na família que desenvolveu
sua sensibilidade artística, segundo Maria Bonafé.
Seu pai trabalhava como desenhista e gravador. Com a mãe
desenvolveu o dom musical. Élide tocava bandolim. Chegou
a participar da Bienal do Museu de Arte Moderna (MAM) de São
Paulo nos anos de 1955 e 1957, mas deixou a pintura de lado na década
de 70. “Élide tinha quadros maravilhosos que nunca
mostrava para ninguém”, diz Maria Bonafé. Élide
não era casada e não teve filhos.
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