CriaCartas
escritas por D. Pedro II para a sua irmã, a princesa Januária,
no período da Guerra do Paraguai. Instrumentos científicos
dos séculos 18 e 19 de viajantes portugueses e espanhóis.
Fotos nunca vistas de Santos Dumont. Canetas como a Bayard Excelsior,
de 1900, ou uma Sheaffer, também de 1900. Tinteiros do início
do século passado e máquinas de escrever como a American,
de 1893, que reconstituem a história da escrita. Condecorações
das ordens da Cavalaria de Cristo, de Aviz e de São Tiago
da Espada, que vieram para o Brasil com D. João VI e foram
aplicadas durante a Colônia e do Império.
Esses
são alguns objetos que, a partir desta quarta-feira, dia
31, o Museu Paulista da USP, o conhecido Museu do Ipiranga, apresentará
na mostra “Acervos para Descobrir”. A exposição
não tem como meta uma proposta temática. Mas procura
trazer para os estudantes, professores, historiadores e o público
em geral novas referências e fontes de pesquisa. Propõe
a descoberta de muitas histórias. “Esta mostra resulta
de uma seleção de 7.660 itens que o Museu Paulista
recebeu, por decisão da Justiça, da coleção
de objetos do Banco Santos”, observa a professora Miyoko Makino,
historiadora e diretora técnica da Divisão de Difusão
Cultural do museu. O acervo foi dividido em seis categorias, que
receberam tratamentos diferenciados: biblioteca, numismática,
iconografia, objetos, textual e cartografia.”
Miyoko
explica que o público tem a oportunidade de apreciar diversos
instrumentos científicos relacionados a astronomia, cosmografia,
cálculo e desenho, geofísica e oceanografia, medição
de tempo, navegação, óptica e topografia. Interessante
também os papéis monetários, como cédulas
do Brasil e dos Estados Unidos, além de apólices,
ações e debêntures de diferentes regiões
do País.
Novas
referências – Nos últimos meses, a equipe do
museu vem se empenhando para catalogar, identificar e restaurar
cada peça. “Uma novidade que esta coleção
traz para o museu são as apólices, ações,
debêntures e outros documentos pecuniários que representam
valores monetários”, diz a numismata Ângela Ribeiro.
“Há a apólice da dívida pública
da República dos Estados Unidos do Brasil, de um conto de
réis. Esse documento é de 1907. Tem também
a ação da Brazil Railway Company, datada de 1909.”
Entre
as curiosidades, há placas, colares e insígnias que
lembram a Ordem de São Bento de Aviz, criada em 1147 por
D. Afonso Henriques, após a tomada de Lisboa dos mouros,
e a Ordem de São Tiago da Espada, fundada em 1459 por D.
Afonso V para combater os muçulmanos.
Ângela
também foi responsável pela catalogação
da coleção de objetos. “Recebemos vários
instrumentos náuticos curiosos e que ainda estamos identificando.
É muito interessante a coleção dos objetos
usados para a escrita, como pincéis, lapiseiras, canetas-
tinteiro, porta-pincéis, máquinas de escrever, um
minitelégrafo e uma copiadora que, segundo consta, pertenceu
a James Watt”, diz Ângela, referindo-se ao inventor
da máquina a vapor. Ela explica que tem também objetos
de uso pessoal, como a bengala do marechal Rondon, um conjunto de
espadas orientais e peças religiosas, como um par de anjos
de altar, além de peças de decoração.
As
diversas categorias da coleção foram avaliadas pelo
museólogo Ricardo Bogus e pela comunicadora visual Christine
Fidalgo. Para apresentá-las ao público, eles montaram
um ambiente especial no andar térreo. São três
salas onde os objetos vão ser valorizados por uma iluminação
especial, aliada a um cenário pintado de verde e azul. Todo
um clima devidamente criado para despertar a curiosidade do público.
As fotografias serão expostas sob uma iluminação
de fibra óptica, para que não amareleçam e,
no decorrer da mostra, serão trocadas por outras, para garantir
a sua preservação.
Através
dessa mostra, o Museu Paulista, na avaliação da diretora
Eni de Mesquita Samara, tem a oportunidade de salvaguardar um patrimônio
muito rico. “Esse acervo irá subsidiar muitos trabalhos
acadêmicos e muitas pesquisas. Importante lembrar que o nosso
museu é um dos mais visitados do País, recebe uma
média de 400 mil pessoas por ano. É toda uma população
que vai apreciar o acervo e aprender com a cultura e a história.” |
Imagens
que contam a história da fotografia
para
Descobrir, o Museu Paulista vai contar a história da fotografia.
Uma história que a professora e curadora Solange Ferraz de
Lima já vem apresentando através de várias
exposições e palestras, mas que, graças ao
acervo da exposição, vai ser contada segundo a variedade
de técnicas experimentadas ao longo da trajetória
da fotografia.
Enquanto
separa as fotos, Solange explica: “Agora, temos exemplos de
fotografias em papel salgado, uma técnica de 1840. É
uma fotografia em papel sensibilizado com sais de prata, exposto
à luz do sol, em contato direto inicialmente com negativo
de papel e depois com negativo de vidro”.
Com a historiadora e assistente de curadoria Shirley Ribeiro da
Silva, Solange organizou todo o acervo que surpreende pela riqueza
e variedade de imagens. “Essa coleção reúne
imagens dos principais fotógrafos que atuaram no Brasil,
como Leuzinger, Marc Ferrez, Gutierrez e Gaensly. E, por outro lado,
prioriza retratos de escritores, músicos e políticos
famosos.”
Solange apresenta a Cascatinha da Tijuca, no Rio de Janeiro, uma
paisagem que foi divulgada por diversos fotógrafos. Porém,
feita em platinopia, uma técnica de 1873, ela se destaca
pela nobreza. “Esse processo fotográfico foi aplicado
por William Willis. Utiliza sais como camada formadora de imagens,
que, após a exposição sob luz violeta, resulta
em platina metálica que confere à imagem uma durabilidade
muito maior.”
Outro
exemplo curioso é o retrato em formato de cartão de
visita que ajudou a popularizar a fotografia no século 19.
“Temos aqui muita gente famosa, desde D. Pedro II até
o cientista Louis Pasteur, o escritor Émile Zola e o compositor
italiano Rossini.” Muito bonita também é a foto
de Sarah Bernhardt, feita em albumina e colorida à mão
com suaves tons de rosa. “O papel albuminado foi o processo
fotográfico mais utilizado no século 19”, ensina
Solange. “Apresentado pelo fotógrafo francês
Louis-Désiré em maio de 1850, é resultado dos
experimentos de Talbot com o papel salgado. Durante o século
19, havia somente duas fábricas de papel no mundo, localizadas
na Europa, que estavam aptas para fabricar papéis para ser
albuminados.” Quando o público vir as imagens que Solange
e Shirley selecionaram para a mostra, ficará surpreso com
o caminho que a fotografia percorreu até chegar à
praticidade das máquinas digitais. “Neste mundo das
imagens, a fotografia, ao longo dos seus 150 anos, ocupa um lugar
muito especial, pois ela está em diversos circuitos e cumpre
muitas funções distintas”, comenta Solange.
“A forma prática com que se fotografa hoje é
resultante de muitos anos de aperfeiçoamento técnico.
A data oficial da invenção da fotografia é
1839, na França, quando Louis Jacques Mandé Daguerre
divulgou o daguerreótipo. Ou seja, uma peça única,
como uma pintura, só que infinitamente mais barata e acessível.
Porém, em poucos anos, a partir de 1850, os avanços
químicos permitiram o estabelecimento de uma matriz e, a
partir daí, a fotografia passou a ter linguagem, gênero
e usos próprios. Os processos fotográficos sempre
tiveram como horizonte a melhoria da qualidade e da permanência
da imagem a um custo operacional o mais baixo possível. Daí
chegamos à praticidade das máquinas digitais.”
Fotos:
divulgação / Cecília Bastos |