A partir
de janeiro de 2007, todos os servidores não-docentes
da USP receberão um acréscimo de uma referência
em seu salário – o equivalente a 5% de aumento. O
reajuste faz parte do acordo para o encerramento da greve de funcionários
que paralisou parcialmente alguns setores da Universidade. Iniciado
no dia 8 de junho, o movimento teve alcance limitado a serviços
como os restaurantes, as creches e os ônibus circulares,
além de órgãos sediados na Prefeitura do campus
da capital e na Antiga Reitoria, cujos prédios estavam bloqueados
por piquetes. Nas unidades de ensino e pesquisa, o funcionamento
foi praticamente normal, até porque as assembléias
de professores realizadas pela Associação dos Docentes
da USP (Adusp) deliberaram pela não-adesão à greve.
Nos campi do interior, também houve paralisação
parcial em Ribeirão Preto, Piracicaba e São Carlos. O
acordo para o fim da greve foi fechado no dia 30 de junho, ao
longo de diversas reuniões do Sindicato dos Trabalhadores
da USP (Sintusp) com a reitora Suely Vilela. A reitora assegurou
que não descontará os dias parados e garantiu que
não haverá punição às lideranças
sindicais ou grevistas. “Eventuais procedimentos adotados
pelos diretores de unidades quanto ao assunto serão tratados
juntamente com a Reitoria”, diz o comunicado assinado por
Suely Vilela. A reposição dos dias parados será feita
em relação ao trabalho-atividades, e não
aos dias-horas. As unidades voltaram ao funcionamento normal
na segunda-feira da semana passada (dia 3).
O
reajuste – considerado uma vitória pelos diretores
do Sintusp – ficou para janeiro porque a lei eleitoral
proíbe
que sejam concedidos aumentos ao funcionalismo público às
vésperas das eleições. Os 5% se somarão
aos 2,55% (divididos em duas parcelas: a primeira incorporada
aos salários desde maio, a segunda a ser paga em agosto
ou setembro, dependendo da arrecadação estadual)
oferecidos pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais
Paulistas (Cruesp), no início das negociações
salariais da data-base dos servidores das universidades.
Orçamento – Uma nova etapa da mobilização
dos servidores deve ocorrer ao final das férias acadêmicas,
em agosto. A intenção é pressionar os
deputados para aprovar aumento de verbas para as universidades
na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2007.
O cenário
atual possui elementos que lembram a situação
do ano passado, quando a LDO trouxe novos índices para
o financiamento do ensino público paulista: de 30% para
31% das receitas totais destinadas à educação
em todos os níveis,
incluindo 10% do ICMS cota-parte para as universidades (em
lugar dos atuais 9,57%) e 1% para o Centro Paula Souza, que
tem cerca de 113 mil alunos nas faculdades de tecnologia e
escolas técnicas
estaduais. O texto foi vetado pelo então governador
Geraldo Alckmin (PSDB), e as verbas para a educação
só foram
determinadas após acordo na Assembléia para a
votação
da Lei Orçamentária, que ocorreu apenas no
final de fevereiro deste ano.
O
impasse entre as bancadas do governo e da oposição
impediu até agora a aprovação do projeto da
LDO de 2007 na Comissão de Finanças e Orçamento
da Assembléia, de onde o texto segue para votação
em plenário. As reuniões da Comissão não
têm ocorrido por falta de quórum. A bancada governista
tem também obstruído a prorrogação
do prazo de inclusão de emendas – milhares delas foram
propostas por vários setores da sociedade em 27 audiências
públicas que a Comissão realizou pelo Estado no primeiro
semestre.
Para o deputado Renato Simões (PT), vice-presidente da Comissão,
nem a bancada governista dispõe dos votos suficientes
para fazer passar sua proposta – de manutenção
dos 9,57% para as universidades – nem a soma dos
oposicionistas com os deputados independentes alcança
número para
aprovar um novo índice, que, segundo tem sinalizado
o relator da LDO, deputado Edmir Chedid (PFL), poderia
ser de 10,5%. “Com
o PT não há acordo em 9,57%, enquanto o PSDB
não
quer acordo em nada além de 9,57%”, afirmou
Simões. “A
votação é altamente polêmica.”
Na
semana passada, novamente não houve avanço na reuniões
do Colégio de Líderes e da
Comissão
de Finanças. Outro obstáculo no caminho é a
condição imposta pela bancada da situação
de só votar a LDO se a oposição
aprovar as contas do último ano do governo Alckmin,
o que os oposicionistas não estão dispostos
a fazer – a
ponto de o deputado Fausto Figueira (PT) ter protocolado,
na presidência
da Assembléia, representação solicitando
a rejeição das contas do exercício
de 2005. Também engrossa essa mistura complicada
o fato de que o governador, agora, é do mesmo
partido do presidente e do relator da Comissão
de Finanças. “A
preocupação
política do PFL é que uma coisa é aprovar
um aumento de verbas e ter o veto do governador do PSDB,
e outra é o
veto de um governador do PFL”, diz o presidente
da Adusp, César Minto, para quem é grande
a chance de o governador Cláudio Lembo também
não chancelar novos porcentuais
eventualmente referendados na Assembléia.
A
LDO define metas e programas nos quais o Executivo deve se basear
para elaborar o Orçamento do Estado para o ano seguinte,
que deve ser enviado à Assembléia até o
dia 30 de setembro. A Assembléia não
pode entrar no recesso de julho enquanto não
aprová-la. Com o atual impasse,
a pauta da Casa está parada, e o debate sobre
o projeto deve ficar para agosto. Na pior das hipóteses, “há até possibilidade
de não haver deliberação”,
alerta o presidente da Comissão, deputado
José Caldini
Crespo (PFL).
Transparência – Em
várias oportunidades, representantes
de diversos segmentos da educação
pública
estiveram na Assembléia reivindicando o
aumento de verbas. Uma delas – a última
audiência
pública
da Comissão de Finanças e Orçamento,
no dia 21 de junho – contou com a presença
dos vice-reitores da USP, Franco Lajolo, e da Unesp,
Herman Voorwald. Em sua fala, Lajolo rebateu argumentos
comumente utilizados pela bancada governista de
que as verbas destinadas às universidades
públicas
constituiriam uma “caixa-preta”, cuja
aplicação
seria feita sem suficiente transparência. “Os
recursos da USP são bem utilizados e os
dados são transparentes
e estão à disposição”,
afirmou. “Isso
se deve à conquista da autonomia universitária,
em 1989, o que deu responsabilidade às universidades
paulistas e permitiu a sua excelência e visibilidade
nacional e internacional.”
Franco
Lajolo foi endossado pelo vice-reitor da Unesp. “Quem
conhece a gestão das universidades, como
eu conheço,
sabe que não cabe questionar a aplicação
dos recursos. Com erros e acertos, depois da autonomia
as universidades têm feito uma gestão
extremamente responsável”,
disse Voorwald. “Nos anos 90 a Unesp cresceu
25% com o mesmo porcentual do ICMS”, exemplificou,
dizendo que garantir mais verbas “é fundamental
para a manutenção
e consolidação da expansão”.
Para
Francisco Miraglia, coordenador do Fórum das Seis – que
reúne os sindicatos de docentes e servidores da USP, Unesp,
Unicamp e Centro Paula Souza –, a manutenção
dos 9,57% representa “o estrangulamento das universidades
e o sacrifício da capacidade já instalada”. “É preciso
haver um reajuste real em cima dos 9,57%, e depois somar os índices
para expansão e incorporações”, disse
na audiência. O Fórum defende
11,6% do ICMS para as universidades.
Cruesp
e Fórum têm se reunido desde maio para tratar
do reajuste salarial dos servidores e de outros temas. Questões
estruturais sobre isonomia na carreira, salários e aposentadorias
serão debatidas a partir de agosto por uma comissão
a ser formada por representantes das duas partes. Nova reunião
entre o Cruesp e o Fórum estava agendada para a tarde da
sexta-feira da semana passada (dia 7), após o fechamento
desta edição do Jornal da USP. Os coordenadores do
Fórum devem entregar nesta terça (dia 11) ao procurador-geral
de Justiça do Ministério Público de São
Paulo, Rodrigo Rebello Pinho, uma ação contra o desconto
da parcela do ICMS destinada aos programas habitacionais do Estado
do cálculo da cota-parte destinada ao financiamento das
universidades. O fim do desconto é reivindicado também
pelos reitores.
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