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crédito: Daniela Linhares

Os pacientes infantis do Hospital Universitário (HU) da USP ganharam grandes aliados. São os alunos voluntários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que dedicam algumas horas do seu dia para brincar, contar histórias, conversar e divertir as crianças internadas. A ação dos voluntários acontece na Brinquedoteca do hospital e também na área ambulatorial, onde as crianças ficam esperando o atendimento médico. São seis horas semanais, entre segunda e quinta-feira, no período da manhã ou da tarde. Cada voluntário dedica no mínimo duas horas por dia à tarefa.

O Projeto de Integração Social foi uma ação piloto que teve início em abril e contou com uma turma de 25 voluntários. Coordenado por Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, professora da FFLCH, foi planejado em três fases. A primeira tem a finalidade de acompanhar crianças e adolescentes de 2 a 15 anos de idade, ajudando-os com reforço escolar, de modo a compensar a ausência às aulas do ensino fundamental e médio. Dessa forma os estagiários estabelecem uma ligação entre as crianças e a sala de aula, quando elas se encontram impossibilitadas de freqüentá-la. As crianças menores podem participar da atividade de contação de histórias. “Apresentamos não apenas os contos infantis tradicionais, já conhecidos, mas também os mitos brasileiros e os contos de origem indígena e africana”, ressalta Maria Vicentina.

A segunda fase do projeto organizou uma caixa-estante com os livros e revistas infanto-juvenis doados durante a Semana de Recepção aos Calouros da FFLCH, no início do ano letivo. A partir dessa minibiblioteca, uma das ações será promover o acesso à leitura tanto para os pacientes internos quanto para a população externa.

Já a terceira etapa será a realização de uma feira de estudantes, no segundo semestre deste ano, contando com a participação de empresas que concedem estágios para os alunos de graduação da FFLCH – algo em torno de 530 instituições. “É um evento para discutir a participação dos estudantes em atividades práticas de estágio”, explica Maria Vicentina.

Os benéficos efeitos da iniciativa já se fazem sentir. Daniela Ribeiro Linhares, técnica de apoio educativo da Brinquedoteca, destaca que o aumento de pessoas trabalhando com as crianças ajuda muito na recuperação, porque passam a receber mais atenção e isso faz com que elas melhorem seu relacionamento interpessoal, conversem mais e, principalmente, saiam do leito. “Elas se sentem acalentadas e esse carinho e atenção é uma força muito grande para que seu quadro clínico melhore”, ressalta.

Daniela afirma ainda que a existência de uma pessoa para orientar a criança nas atividades da Brinquedoteca só trouxe resultados positivos, pois a educação não se limita aos muros da escola. “Com os estagiários, reforçamos a idéia de que, através do lúdico, é possível conhecer melhor a criança no aspecto social e pessoal, observando sua postura ao brincar, o relacionamento com a família e as outras crianças, a criatividade, seus desejos e anseios.”

Emoção – Celso Tadeu Borzani, aluno do terceiro ano do curso de Geografia da FFLCH, um dos estagiários, concorda com Daniela ao relatar a experiência que vivenciou com Ingrid, que fez um ano de idade na UTI do HU e estava desenganada pelos médicos. “Comecei a visitá-la na UTI, conversava com ela, fazia massagem em seus pezinhos, lia livros. Um certo dia, chego para vê-la e ela tinha ido para o quarto. Estava toda alegre na cama. Fiquei emocionado e percebi o quanto podemos fazer com pequenos atos de doação”, emociona-se o estudante.

Borzani conta que conheceu a menina Joyce, de 12 anos, que sempre estava de cara brava. Nunca queria conversar com ninguém e não saía da cama, mesmo podendo. “Eu tentava sempre bater papo com ela, até que um dia ela veio conversar e até chorou. Sugeri irmos para a Brinquedoteca, mostrei as coisas que podiam ser feitas. Na hora de ir embora, disse que ficaria magoado de vê-la na cama quando voltasse para o hospital. Quando voltei, lá estava ela toda faceira na Brinquedoteca, se divertindo e partilhando brincadeiras com os outros pacientes. Para mim, isso foi uma grande satisfação e uma realização pessoal. Pensei: estou ajudando alguém, que bom.”

“Sempre gostei de crianças”, reflete Julio César Bazanini, estudante do segundo ano de História. O envolvimento de Bazanini foi intenso com as crianças. Ele conta que principalmente os meninos, que sentem muito a falta da figura masculina do pai ou de um irmão, se identificaram muito com ele e vice-versa. “Brincamos de coisas que meninos normalmente fazem, como correr e pular. Eu me senti próximo deles e notei muita diferença nas atitudes deles com o passar dos dias.” Profissionalmente, Bazanini acha importante experiências práticas como essas, porque têm muito a ver com educação em espaços informais, que podem ser transferidas para a sala de aula.

Para a assistente social do HU Maria Bernadete Tanganelli Piotto, a experiência visa a muito mais coisas do que só o atendimento às crianças. Segundo ela, esse projeto mostra o funcionamento de um hospital para os alunos de graduação e permite que estes realizem atividades socioeducativas fora do ambiente escolar. “O HU é um hospital de ensino e pesquisa e queremos que mais unidades da USP se aproximem de nós e nos ajudem a realizar nossa missão da melhor forma possível.”

Maria Bernadete acredita que realizar atividades recreativas e educativas, com brinquedos, fantoches e livros, facilita a permanência da criança no hospital, tornando a internação mais humanizada e socializada. “Assim não rompemos a atividade social que a criança tem quando está fora do hospital.”
A experiência piloto terminou no primeiro semestre e teve uma excelente avaliação. O grupo foi muito elogiado pelos médicos, pedagogos e pais dos internados. “É importante para o aluno da FFLCH entender que ele tem um potencial muito grande e que provou capacidade ao trabalhar com um público-alvo com o qual não estava acostumado a interagir”, ressalta Maria Vicentina.
Para este segundo semestre, o projeto continua em atividade, e já vai contar com recursos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, para suprir as necessidades imediatas, como uma estagiária fixa e aquisição de materiais de consumo necessários para a prática escolar e de jogos adequados às idades dos pacientes atendidos.


 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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