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Estudo
O que representam os painéis esculpidos na torre da Praça
do Relógio? Qual o significado das vestes e símbolos
usados pelos reitores nas cerimônias de posse? Qual a origem
dos professores que se transformaram em reitores da USP ao longo
de seus 72 anos de história? Provavelmente é pequeno
o número de pessoas – mesmo entre as que circulam
cotidianamente há um bom tempo na Universidade – capazes
de responder a essas perguntas. Foi exatamente por ouvi-las repetidamente
de professores e visitantes, no período em que trabalhou
na Reitoria, que a administradora Rosana de Oliveira Oba resolveu
procurar as respostas e reuni-las no livro Universidade de São
Paulo – Seus reitores e seus símbolos, a ser lançado
nesta segunda-feira, dia 31, pela Editora da USP (Edusp). “Os
professores visitantes, especialmente os franceses, viam os quadros
com os retratos dos reitores, perguntavam sobre as vestes e as
cores, e nós não tínhamos nada para mostrar”,
conta. A intenção do livro, segundo a autora, “é resgatar
a tradição e a memória da Universidade, coisas
que infelizmente não são muito valorizadas no Brasil”.
Rosana trabalha na USP há 23 anos e entre 1998 e 1999 teve
oportunidade de realizar um estágio na Université de
Paul Sabatier, em Toulouse, na França, onde reforçou
sua convicção. “Lá, as pessoas conheciam
a história e a tradição da universidade. Aqui,
muitos ainda não sabem direito nem quais são as atribuições
das pró-reitorias”, compara. Ela também passou
doze anos no “olho do furacão” da administração
central. Nesse período, assessorou diretamente o professor
Adolpho José Melfi na Pró-Reitoria de Pós-Graduação
(de 1993 a 1998), na Vice-Reitoria (de 1998 a 2001) e finalmente
na Reitoria, do final de 2001 até 2005. Foi o ex-reitor,
por sinal, o grande incentivador do projeto, que a administradora
conciliou nas arestas do tempo da rotina pesada do gabinete e em “horas
extras” em sua casa. O trabalho “exigiu fôlego
e carinho” e foi “muito bem realizado por sua autora”,
registra Melfi no prefácio.
Raízes gregas – Procurar as informações
para compor o livro não foi uma tarefa simples, pois elas
estão dispersas. O ponto de partida da pesquisa foi o sistema
de busca Google, na internet. Consultas também foram feitas às
famílias dos reitores, às unidades e ao Museu Paulista
da USP. “Houve até o caso do pessoal de uma unidade
que nem sabia que um reitor havia saído de lá”,
exemplifica. Os dados estão apresentados de forma sucinta
e resumida. A intenção, diz Rosana, não era
de aprofundamento, até porque quem estiver interessado em
mais detalhes pode procurar as publicações coordenadas
pelo professor Shozo Motoyama, que, desde 2004, no bojo das comemorações
dos 70 anos, vem lançando livros sobre a história
da USP.
Na primeira parte, o volume traz um relato sobre
a fundação
da Universidade, em 1934, traça o histórico dos processos
de eleição para reitor – cujos mandatos inicialmente
duravam três anos, ampliados para quatro em 1969 – e
apresenta uma galeria com o retrato oficial de cada ocupante do
cargo e sua breve biografia. Rosana destaca, como um dos nomes
fundamentais para a história da USP, o professor Miguel
Reale, que foi reitor em duas oportunidades: de 1949 a 1950 e de
1969 a 1973. “O doutor Reale foi uma pessoa que fez muito
pela Universidade e pelo Brasil”, diz. Um dos últimos
textos do professor, que faleceu em abril deste ano, foi escrito
especialmente para o livro e é uma das apresentações
do volume, que traz também textos do ex-governador Geraldo
Alckmin e do ex-reitor Adolpho Melfi. “Os fundadores da USP
compreenderam que a cultura do Ocidente tem a mesma fonte européia,
que remonta às raízes gregas”, escreveu Reale.
Curiosamente, o retrato oficial do ex-reitor é o mesmo para
os dois períodos, apesar das duas décadas a separá-los.
Além de Reale, o único entre os 23 reitores a ocupar
o cargo por duas vezes foi Luís Antonio da Gama e Silva,
de 1963 a 1966 e de 1966 a 1969. Gama e Silva foi nomeado ministro
da Justiça pelo regime militar – no qual redigiu o
Ato Institucional número 5 (AI-5), em 1968 –, período
em que foi substituído pelos vice-reitores Mario Guimarães
Ferri, João Alves Meira, Hélio Lourenço de
Oliveira, Alfredo Buzaid e Oswaldo Fadigas.
Rosana detém-se especialmente na eleição da
atual reitora, Suely Vilela, primeira mulher a assumir o cargo. “A
escolha da professora Suely faz parte do processo da mulher de
crescer e mostrar competência nos mais variados setores da
sociedade”, afirma. “O professor Melfi sempre teve
mulheres em sua assessoria e costuma dizer que, quando a mulher
assume um cargo, ela luta de maneira forte por seus ideais.” Suely
Vilela foi pró-reitora de Pós-Graduação
na gestão Melfi.
Conhecimento – A parte final do livro explica as origens
e significados dos símbolos da USP, originados da Universidade
de Coimbra, em Portugal. As vestes talares usadas na posse dos
reitores são formadas por três peças: a samarra
(indicativa da abrangência de todo o conhecimento humano)
cobre a beca preta; o capelo vai sobre a cabeça e tem o
mesmo simbolismo, podendo ser utilizado apenas por reitores e doutores;
e o colar doutoral, símbolo da união e da integração
entre as unidades e os demais órgãos da Universidade
na sua tríplice missão de ensinar, pesquisar e estender
serviços.
Já aquele que talvez seja o marco mais conhecido da USP,
a Praça do Relógio, tem uma longa história.
Os estudos para sua construção foram iniciados em
1951, na época da implantação da Cidade Universitária
no Butantã, zona oeste de São Paulo, e dois anos
depois foi aprovado o projeto de Rino Levi para a torre, com a
parte escultórica confiada a Elisabeth Nobiling. A pedra
fundamental foi lançada em janeiro de 1954, dentro das comemorações
do 4o Centenário de São Paulo, mas as obras só começaram
em 1972, com inauguração no ano seguinte.
A torre é formada por duas placas paralelas, com doze painéis
que representam os mundos da fantasia e da realidade – os
seis voltados para o prédio da Antiga Reitoria representam
o mundo da fantasia e os seis da face oposta, o mundo da realidade.
A frase ao redor do espelho d’água – “No
universo da cultura o centro está em toda parte” – é de
Miguel Reale. Detalhes sobre o sino de bronze colocado ao lado
da Reitoria e o paisagismo da Praça do Relógio também
são apresentados. O livro é patrocinado pela Petrobras
e pelo Banco Santander, e em breve terá também uma
edição em inglês para ser distribuída
a universidades do exterior e a visitantes estrangeiros. O volume
não será vendido: interessados em possuí-lo
devem procurar a Edusp.
Ao sair da Reitoria, Rosana passou a trabalhar
no Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE), onde coordena
a programação
de comemoração de seus 65 anos de existência,
assunto do novo livro que já está preparando. Para
o futuro, planeja colocar no papel também a experiência
de seus doze anos na administração central da USP. “Trabalhar
lá foi uma experiência muito boa e ainda vou realizar
o sonho de escrever sobre ela”, diz. “Temos que fazer
o melhor, seja no trabalho ou na família, para que as pessoas
ao redor estejam satisfeitas e realizadas, porque a gente só tem
a ganhar, não a perder.”
Universidade de São Paulo – Seus
reitores e seus símbolos,
de Rosana de Oliveira Oba, Edusp,
140 páginas.
O lançamento será nesta segunda-feira, dia 31, a
partir das 19 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC)
da USP (rua da Reitoria, 160, Cidade Universitária, São
Paulo). Interessados em receber gratuitamente a obra devem entrar
em contato com o Cerimonial da Reitoria da USP (telefone 11 3091-3402,
e-mail cerimo@usp.br)
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