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crédito: Daniela Linhares

Estudo O que representam os painéis esculpidos na torre da Praça do Relógio? Qual o significado das vestes e símbolos usados pelos reitores nas cerimônias de posse? Qual a origem dos professores que se transformaram em reitores da USP ao longo de seus 72 anos de história? Provavelmente é pequeno o número de pessoas – mesmo entre as que circulam cotidianamente há um bom tempo na Universidade – capazes de responder a essas perguntas. Foi exatamente por ouvi-las repetidamente de professores e visitantes, no período em que trabalhou na Reitoria, que a administradora Rosana de Oliveira Oba resolveu procurar as respostas e reuni-las no livro Universidade de São Paulo – Seus reitores e seus símbolos, a ser lançado nesta segunda-feira, dia 31, pela Editora da USP (Edusp). “Os professores visitantes, especialmente os franceses, viam os quadros com os retratos dos reitores, perguntavam sobre as vestes e as cores, e nós não tínhamos nada para mostrar”, conta. A intenção do livro, segundo a autora, “é resgatar a tradição e a memória da Universidade, coisas que infelizmente não são muito valorizadas no Brasil”.

Rosana trabalha na USP há 23 anos e entre 1998 e 1999 teve oportunidade de realizar um estágio na Université de Paul Sabatier, em Toulouse, na França, onde reforçou sua convicção. “Lá, as pessoas conheciam a história e a tradição da universidade. Aqui, muitos ainda não sabem direito nem quais são as atribuições das pró-reitorias”, compara. Ela também passou doze anos no “olho do furacão” da administração central. Nesse período, assessorou diretamente o professor Adolpho José Melfi na Pró-Reitoria de Pós-Graduação (de 1993 a 1998), na Vice-Reitoria (de 1998 a 2001) e finalmente na Reitoria, do final de 2001 até 2005. Foi o ex-reitor, por sinal, o grande incentivador do projeto, que a administradora conciliou nas arestas do tempo da rotina pesada do gabinete e em “horas extras” em sua casa. O trabalho “exigiu fôlego e carinho” e foi “muito bem realizado por sua autora”, registra Melfi no prefácio.

Raízes gregas – Procurar as informações para compor o livro não foi uma tarefa simples, pois elas estão dispersas. O ponto de partida da pesquisa foi o sistema de busca Google, na internet. Consultas também foram feitas às famílias dos reitores, às unidades e ao Museu Paulista da USP. “Houve até o caso do pessoal de uma unidade que nem sabia que um reitor havia saído de lá”, exemplifica. Os dados estão apresentados de forma sucinta e resumida. A intenção, diz Rosana, não era de aprofundamento, até porque quem estiver interessado em mais detalhes pode procurar as publicações coordenadas pelo professor Shozo Motoyama, que, desde 2004, no bojo das comemorações dos 70 anos, vem lançando livros sobre a história da USP.

Na primeira parte, o volume traz um relato sobre a fundação da Universidade, em 1934, traça o histórico dos processos de eleição para reitor – cujos mandatos inicialmente duravam três anos, ampliados para quatro em 1969 – e apresenta uma galeria com o retrato oficial de cada ocupante do cargo e sua breve biografia. Rosana destaca, como um dos nomes fundamentais para a história da USP, o professor Miguel Reale, que foi reitor em duas oportunidades: de 1949 a 1950 e de 1969 a 1973. “O doutor Reale foi uma pessoa que fez muito pela Universidade e pelo Brasil”, diz. Um dos últimos textos do professor, que faleceu em abril deste ano, foi escrito especialmente para o livro e é uma das apresentações do volume, que traz também textos do ex-governador Geraldo Alckmin e do ex-reitor Adolpho Melfi. “Os fundadores da USP compreenderam que a cultura do Ocidente tem a mesma fonte européia, que remonta às raízes gregas”, escreveu Reale.

Curiosamente, o retrato oficial do ex-reitor é o mesmo para os dois períodos, apesar das duas décadas a separá-los. Além de Reale, o único entre os 23 reitores a ocupar o cargo por duas vezes foi Luís Antonio da Gama e Silva, de 1963 a 1966 e de 1966 a 1969. Gama e Silva foi nomeado ministro da Justiça pelo regime militar – no qual redigiu o Ato Institucional número 5 (AI-5), em 1968 –, período em que foi substituído pelos vice-reitores Mario Guimarães Ferri, João Alves Meira, Hélio Lourenço de Oliveira, Alfredo Buzaid e Oswaldo Fadigas.

Rosana detém-se especialmente na eleição da atual reitora, Suely Vilela, primeira mulher a assumir o cargo. “A escolha da professora Suely faz parte do processo da mulher de crescer e mostrar competência nos mais variados setores da sociedade”, afirma. “O professor Melfi sempre teve mulheres em sua assessoria e costuma dizer que, quando a mulher assume um cargo, ela luta de maneira forte por seus ideais.” Suely Vilela foi pró-reitora de Pós-Graduação na gestão Melfi.

Conhecimento – A parte final do livro explica as origens e significados dos símbolos da USP, originados da Universidade de Coimbra, em Portugal. As vestes talares usadas na posse dos reitores são formadas por três peças: a samarra (indicativa da abrangência de todo o conhecimento humano) cobre a beca preta; o capelo vai sobre a cabeça e tem o mesmo simbolismo, podendo ser utilizado apenas por reitores e doutores; e o colar doutoral, símbolo da união e da integração entre as unidades e os demais órgãos da Universidade na sua tríplice missão de ensinar, pesquisar e estender serviços.

Já aquele que talvez seja o marco mais conhecido da USP, a Praça do Relógio, tem uma longa história. Os estudos para sua construção foram iniciados em 1951, na época da implantação da Cidade Universitária no Butantã, zona oeste de São Paulo, e dois anos depois foi aprovado o projeto de Rino Levi para a torre, com a parte escultórica confiada a Elisabeth Nobiling. A pedra fundamental foi lançada em janeiro de 1954, dentro das comemorações do 4o Centenário de São Paulo, mas as obras só começaram em 1972, com inauguração no ano seguinte.

A torre é formada por duas placas paralelas, com doze painéis que representam os mundos da fantasia e da realidade – os seis voltados para o prédio da Antiga Reitoria representam o mundo da fantasia e os seis da face oposta, o mundo da realidade. A frase ao redor do espelho d’água – “No universo da cultura o centro está em toda parte” – é de Miguel Reale. Detalhes sobre o sino de bronze colocado ao lado da Reitoria e o paisagismo da Praça do Relógio também são apresentados. O livro é patrocinado pela Petrobras e pelo Banco Santander, e em breve terá também uma edição em inglês para ser distribuída a universidades do exterior e a visitantes estrangeiros. O volume não será vendido: interessados em possuí-lo devem procurar a Edusp.

Ao sair da Reitoria, Rosana passou a trabalhar no Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE), onde coordena a programação de comemoração de seus 65 anos de existência, assunto do novo livro que já está preparando. Para o futuro, planeja colocar no papel também a experiência de seus doze anos na administração central da USP. “Trabalhar lá foi uma experiência muito boa e ainda vou realizar o sonho de escrever sobre ela”, diz. “Temos que fazer o melhor, seja no trabalho ou na família, para que as pessoas ao redor estejam satisfeitas e realizadas, porque a gente só tem a ganhar, não a perder.”

crédito: Daniela Linhares

Universidade de São Paulo – Seus reitores e seus símbolos, de Rosana de Oliveira Oba, Edusp, 140 páginas. O lançamento será nesta segunda-feira, dia 31, a partir das 19 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (rua da Reitoria, 160, Cidade Universitária, São Paulo). Interessados em receber gratuitamente a obra devem entrar em contato com o Cerimonial da Reitoria da USP (telefone 11 3091-3402, e-mail cerimo@usp.br)


 

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