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O
Partido dMônica Herman Caggiano, professora de Direito Constitucional
com especialização em Direito Político e Econômico
da Faculdade de Direito da USP, acredita que a campanha eleitoral
obrigatória no rádio e na televisão iniciada
semana passada pode reverter a situação dos candidatos
a presidente da República, que no momento, de acordo com
pesquisas, é largamente favorável, principalmente
no Nordeste, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do
PT, que tenta a reeleição. Segundo ela, um bom trabalho
de conquista, aliado à simpatia e credibilidade, é a
esperança do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. “Um
dos dados que captei ao longo dos anos nas pesquisas e nos livros,
e trabalho nisso desde 1974, é que o eleitor forma o seu
convencimento ao longo da campanha guiado por vários fatores,
entre eles a credibilidade do candidato”, afirma Mônica.
No entanto, observa que qualquer tendência do eleitorado
só poderá ser notada depois de passados pelo menos
20 dias do início da propaganda gratuita nos meios de comunicação.
Bem diferente é a opinião do jurista Dalmo de Abreu
Dallari, também da Faculdade de Direito da USP, para quem
Alckmin não tem nenhuma chance, sobretudo no Nordeste, “porque
não tem mensagem, não tem perfil de quem se identifique
com o eleitorado local e regional”. Ele acredita que Lula
será reeleito ainda no primeiro turno, porque “tem
uma história de vida e de trabalho pela justiça social”.
Num ponto, Mônica e Dallari concordam: o presidente da República
saiu ileso das denúncias de corrupção que
atingiram setores do governo e o Legislativo.
Limpeza geral – Autora de
várias obras, entre elas
Direito parlamentar e direito eleitoral (Manole, 2004) e Finanças
partidárias (1983), Mônica Caggiano garante que o
eleitor brasileiro não se deixa influenciar facilmente por
promessas ou por amizade. “Há muito voto enrustido
e costuma ser revelado apenas na abertura das urnas”, disse. “Age
mal quem canta vitória antecipada, espetáculo que
tenho observado várias vezes.”
Segundo a professora, os fatores de convencimento
do eleitor variam, dependendo se a eleição é majoritária
(presidente da República, governador, senador) ou proporcional
(deputados). Nas eleições majoritárias conta
muito a credibilidade do candidato, ao passo que nas proporcionais
o fator determinante é o benefício, “aquele
plus”, que o candidato trouxe ou é capaz de trazer
para a sua região. O grau de preparo intelectual conta pouco,
mas o passado do candidato é decisivo: se ficou provado
que se entregou à corrupção, está fora.
De acordo com a professora de Direito Político e Econômico,
o expurgo de corruptos pelo voto ficou patente em eleições
municipais em São Paulo em 1992 e 2000. “O resultado
parecia uma limpeza étnica.”
No caso de Lula, que mantém alto nível de aprovação
apesar de ter sido acusado de omissão nos casos de corrupção,
a professora disse que, em princípio, o povo sabe julgar. “A
figura do presidente ficou acima de qualquer suspeita”, observou,
acrescentando que na ocasião Lula trocou todo o quadro do
governo, numa atitude que é clássica, não
no presidencialismo, mas no parlamentarismo. Em época de
crise cai o governo, muda-se o primeiro-ministro. No governo do
PT, o “primeiro-ministro” teria sido o deputado José Dirceu.
“Se o eleito não tem bom desempenho em quatro anos,
coloca-se outro, novamente pelo exercício do voto”,
observou. “Eleição é para isso mesmo,
para o controle de quem foi eleito.” Além do voto, outros
meios de controle são o Parlamento, o Ministério Público
e o Judiciário. Externamente, exerce papel importante, segundo
Mônica, a imprensa.
As denúncias e investigações no âmbito
do Congresso Nacional prenunciam o afastamento pelo voto de centenas
de parlamentares. O resultado das eleições de outubro
será um rico material de pesquisa para a professora da USP,
mas, antes, ela espera nível elevado na campanha, a fim
de que o eleitor tenha opção qualificada e evite
o voto de protesto, que em tempo de escândalos é muito
comum, segundo constatou. Mônica não gostou do que
ouviu numa propaganda oficial na televisão, que exortava
o eleitor a escolher bem “o seu empregado”, isto é,
o presidente da República. Presidente não é empregado.
O empregado pode ser destituído a qualquer hora e não
lhe compete tomar decisões pelo “patrão”;
mas é isso que o presidente da República deve fazer,
e não apenas pelos que o elegeram. Daí a necessidade
de haver mútua credibilidade e confiança entre
eleitor e eleito.
O que anima Mônica Caggiano é o interesse cada vez
maior dos jovens pelas coisas da política e pelo voto. A
professora disse que se baseia em números da Justiça
Eleitoral, que revela aumento do número de jovens entre
16 e 18 anos que se alistaram este ano. Até pouco tempo
havia grande desinteresse. PSOL – Sobre o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e sua
candidata a presidente da República Heloísa Helena,
Mônica Caggiano disse que, como espectadora do quadro político-partidário,
vê com respeito o partido e a candidata, que é uma
profissional da política, consciente do que pleiteia e se
mantém fiel aos objetivos do PT da época em que integrava
os seus quadros. Observou que no Brasil é comum os políticos
mudarem de rumo e de partido, “na direção da
conquista”. Reconhece que ainda não analisou o estatuto
do PSOL, mas observa na senadora muita coragem e bom discurso. “No
entanto, discurso é uma coisa, a prática outra.” Daí que
será necessário estudar melhor o seu programa e acompanhar
a sua atuação e de sua equipe para ver no que darão.
Para o PSDB e o candidato Geraldo Alckmin,
a candidatura de Heloísa
Helena foi interessante, porque pelo menos está garantindo,
segundo Mônica, a realização do segundo turno.
Para Dalmo Dallari, o fator economia trabalha
em favor de Lula. Embora o presidente tenha feito excessivas
concessões ao
poder econômico, é certo que conseguiu estabelecer
equilíbrio na área e favorecer com a sua política
social as camadas mais pobres da população. Outro
fator que, segundo Dallari, pesa em favor da candidatura do petista é a
abertura da universidade para os mais carentes, por intermédio
do ProUni (Universidade para Todos). Com relação
aos escândalos, o jurista considera que nada foi provado
contra Lula, apenas “insinuações e agressões
grosseiras”.
Sobre José Serra, candidato do PSDB ao governo de São
Paulo, Dallari afirma que se trata de homem público que,
como Lula, saiu ileso de acusações de corrupção
e teve atuação elogiável no governo federal,
quando ministro da Saúde. O fato de haver renunciado ao
mandato de prefeito da capital paulista para concorrer ao governo
do Estado teria sido absolutamente normal, um caso entre muitos
na política brasileira, se não houvesse antes prometido
cumprir o mandato integralmente e até registrado a promessa
em cartório. Como ocorreu, Dallari considera que “foi
uma deslealdade com o eleitor”.
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