Mapa
confeccionado em 1886, para a Exposição Colonial das Índias.
Em destaque estão as possessões inglesas pelo mundo, desenhadas
pelo ilustrador Walter Crane. "É uma jóia do ponto de vista
da
beleza iconográfica,
mas esses domínios são apenas uma projeção. Os ingleses
não dominavam, efetivamente,
todas essas regiões", afirma a
historiadora Íris kantor
No período em que o mundo conhecido ampliava suas fronteiras
e os europeus navegavam em busca de novas colônias no Novo
Mundo, os mapas representavam não só uma visão
de mundo renovada a cada navegação, mas também
uma forma de fortalecer e divulgar o desejo imperialista europeu.
Essa história é contada pelos cerca de cem mapas
e livros dos séculos 15 ao 19, que estão na nova
exposição do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), “Mapas
em movimento: a criação de mundos imaginários”,
que será inaugurada nesta segunda-feira, dia 25, às
18 horas, no IEB. Ela está incluída na programação
da 11a Semana de Arte e Cultura da USP, que se realiza de 22 a
30 de setembro.
Ao visitar a exposição, o público encontrará diferentes
ambientes. Num deles, é descrito o processo de criação,
produção e restauro desses mapas, com a apresentação
das técnicas utilizadas. Entre as atrações,
uma miniatura idêntica às antigas prensas utilizadas
para a impressão das cartografias. Nessa sala haverá também
um vídeo de quatro minutos, produzido por Billy Toledo,
estagiário do IEB, que simula a história de um mapa,
desde sua produção até a chegada ao instituto.
Em outro ambiente, os mapas viram mercadorias desejadas pelo
seleto mundo dos colecionadores. São mapas ricamente ilustrados,
que enfeitavam os gabinetes de reis e rainhas e as salas dos nobres
europeus. “Um dos objetivos dessa exposição é mostrar
que os mapas formaram uma espécie de público consumidor,
que gostava de tê-los em suas residências, em seus
palácios. Esse público gostava de imaginar como era
o Novo Mundo, a Ásia, a África. Portanto, esses mapas
foram importantes para construir o desejo imperialista dos europeus
e povoar o seu imaginário”, explica Íris Kantor,
professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e curadora da exposição,
em parceria com Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno.
Esses mapas ornamentais eram expostos nos pequenos antiquários
e museus ao lado de outros objetos arqueológicos, como medalhas
e moedas da Antigüidade. Além de objetos de decoração,
os mapas estavam envoltos numa atmosfera de prestígio e
ostentação, usados como forma de exibir o poder dos
monarcas. Muitos deles eram confeccionados sob ordem desses reis
e enviados para embaixadas nas mais distantes terras, para que
os súditos e colonos conhecessem o poder e a extensão
do império.
Íris Kantor
A exposição se encerra com os mapas produzidos por
holandeses, franceses e ingleses da Idade Moderna, como instrumento
imperialista, para a criação de um imaginário
de poderio. Esses mapas destacam cada região sob seus domínios
e foram produzidos especificamente para serem divulgados, como
forma de quebrar o monopólio português e espanhol
no Novo Mundo. Como a França, Holanda e Inglaterra chegaram
posteriormente à corrida por novas terras, elas precisavam
fazer propaganda de cada nova conquista, o que garantiu um número
muito maior de mapas desses países. “Já os
espanhóis e portugueses não se destacaram pela cartografia
impressa, e sim pela cartografia manuscrita, que não é para
ser divulgada, mas para permanecer como segredo de Estado”,
afirma Íris.
Na mesma mostra, o IEB expõe alguns livros de seu acervo.
São roteiros de viagens e crônicas onde os mapas foram
originalmente publicados, o que enriquece ainda mais os mapas,
que podem ser analisados em seu contexto original. Todos esses
documentos tornam Mapas em movimento uma verdadeira viagem à época
retratada. “Os mapas servem não só para a história
e a geografia, mas também para quem estuda ambiente, história
indígena e história da arte, por exemplo. Um mapa é uma
representação da realidade que permite entender um
pouco as intenções de quem o fez”, analisa Íris.
Justamente por essa interdisciplinaridade, o IEB se preocupa
também
com o aspecto educativo da exposição, com monitores
e visitas guiadas para escolas. “Com os mapas, quanto mais
olhamos, mais coisas captamos, mais entendemos os porquês,
e construímos assim o nosso próprio conhecimento”,
destaca Íris.
A equipe do IEB, preparando a exposição: muito além
de uma simples visão do novo mundo
A origem do acervo – Os mapas expostos pelo IEB fazem parte
de um acervo de 380 mapas da coleção do ex-banqueiro
Edemar Cid Ferreira, que foram apreendidos pelo governo e cedidos
provisoriamente ao instituto, como parte do processo de falência
do Banco Santos. Esse acervo estava guardado num galpão,
em péssimas condições. Alguns mapas estavam
até colados com fita crepe. Quando chegaram ao IEB, passaram
por um processo de restauro, foram inventariados e catalogados
e algumas peças foram selecionadas para a exposição. O destino dos mapas após a exposição ainda é incerto.
Como eles fazem parte de um processo judicial, podem ser vendidos
como alternativa para pagar os credores. “Com a exposição,
talvez ganhemos a guarda permanente do acervo. Se o Patrimônio
Público Artístico Cultural permitir que os mapas
fiquem na USP, será um ganho muito grande para os pesquisadores,
pós-graduandos e professores. Se não for possível,
gostaria que pelo menos nós digitalizássemos esses
mapas em alta resolução para que possamos ter acesso
a eles”, afirma Íris.
A exposição “Mapas em movimento: a criação
de mundos imaginários” está em cartaz até 29
de abril de 2007 no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP
(avenida Professor Mello Moraes, travessa 8, número 140,
Cidade Universitária, São Paulo), de segunda a sexta-feira,
das 9 às 18 horas. A entrada é gratuita. Mais informações
podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091-3247.
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Também nesta segunda-feira, dia 25, às 18 horas,
durante o lançamento da exposição “Mapas
em movimento”, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) promove
o relançamento de sua tradicional Revista do IEB, que chega
ao número 43. Essa edição traz como destaque
uma homenagem à professora Gilda de Mello e Souza, falecida
em dezembro de 2005. O artigo é uma análise da obra
de Gilda por dois de seus ex-alunos, Bento Prado e Otília
Arantes. “A trajetória intelectual da professora Gilda
já justifica qualquer homenagem. Primeiro por sua importância
acadêmica e, segundo, por seu trabalho suscitar importantes
discussões”, afirma Ana Lúcia Duarte Lanna,
diretora do IEB.
A revista traz ainda, entre outros artigos, uma matéria sobre
o tema terrorismo na poesia de Carlos Drummond de Andrade e capítulos
inéditos de Tesouro descoberto (1757-1776), do jesuíta
João Daniel, uma das maiores fontes de informações
da Amazônia no século 18.
O projeto de relançamento da revista incluiu uma reforma
gráfica,
que a tornou mais moderna, e a digitalização integral
dos números anteriores, que agora podem ser acessados gratuitamente
pelo site do IEB. Nesse acervo digital estão
as edições da revista produzidas ao longo de 31 anos,
desde 1966, quando foi criada, até 1997, quando foi interrompida,
por diversos motivos.
Outra novidade é a parceria com a Editora 34, que se responsabiliza
pela distribuição da revista. “A Editora 34 tem
esse perfil de publicação de revista acadêmica,
e com essa parceria buscamos uma circulação nacional
da revista, uma visibilidade que nos permita atingir o objetivo de
ser esse fórum de discussão dos estudos brasileiros
e da cultura brasileira em geral, e não só do IEB”,
conta Ana Lúcia. Informações pelo telefone
(11) 3091-1149. |