Os produtos
nanotecnológicos apresentados
na feira em
São Paulo:
evento busca difundir
a nova
tecnologia
na indústria
Uma
calça que não molha, lâmpada que dispersa fumaça,
tecido auto-esterilizante. Todas essas inovações
inimagináveis há dez anos já podem ser encontradas
no exterior, graças ao desenvolvimento da nanotecnologia.
Considerada uma das grandes revoluções tecnológicas
da humanidade, a nanotecnologia visa à criação
de novos materiais e ao desenvolvimento de produtos e processos
através da manipulação de átomos e
moléculas, em uma escala invisível a olho nu.
As novidades desse setor foram tema da
2a Feira e Congresso Internacional de Nanotecnologia (Nanotec Expo
2006), realizada de 6 a 8 de novembro. “A
feira tem a preocupação de trazer as novidades em nanotecnologia,
de difundi-las na classe industrial como um todo e também
na comunidade científica, além de ser uma ponte entre
essas comunidades, que não têm muito contato”,
disse Ronaldo Marchese, idealizador do evento.
Um nanômetro, medida utilizada para essas partículas,
corresponde a 1 bilionésimo de metro. Nessa escala, os materiais
passam a obedecer aos princípios da física quântica,
ainda não completamente compreendida pelo homem. “A
propriedade da matéria pode mudar completamente na escala
nanométrica. Ela adquire novas características, como
um elemento isolante que passa a ser um bom condutor de energia”,
exemplifica Frank Crespilho, aluno de doutorado da USP em São
Carlos.
Realidade – Se na Europa e na China esses produtos podem
ser encontrados em grandes redes de mercados, no Brasil a classe
industrial ainda tenta entender o que é nanotecnologia.
Formado em sua grande maioria por micros e pequenas empresas, o
setor industrial brasileiro não vê na tecnologia um
elemento fundamental para o desenvolvimento dos seus produtos,
destaca Marchese. “O meio empresarial está ainda engatinhando,
embora a comunidade científica já esteja avançada.
A indústria ainda acredita que a nanotecnologia é algo
do amanhã. Mas ela já é uma realidade do mercado
global e o Brasil está fora dela.”
Para Marchese, a solução para as pequenas empresas
está não no investimento direto em desenvolvimento
tecnológico, mas na agregação à sua
produção de matérias-primas com nanopartículas. “Se
você pode ter uma calça normal e uma com ação
bactericida pelo mesmo preço, fica óbvia a escolha.
A nanotecnologia é para qualquer empresa. Quem não
pode investir, que incorpore”, sugere.
Por ser uma escala extremamente pequena, a nanotecnologia permite
uma grande evolução tecnológica a baixos custos. “Por
isso há uma grande corrida para ver quem vai ter o domínio
tecnológico na área de nanotecnologia. Se antes se
usava um quilo, agora se usa um miligrama”, quantifica o
doutorando Crespilho.
Segundo a revista Forbes, as mil maiores empresas do mundo já investem
pesado em nanotecnologia. Estudos apontam que, em 2005, esse mercado
girou em torno de US$ 82 bilhões. As estimativas para 2014
apontam investimentos de US$ 2,6 trilhões. “Quem participará desse
crescimento? Os produtores estrangeiros que têm e investem
nessa tecnologia”, afirma Marchese, preocupado com o atraso
da indústria brasileira na área. Foi justamente com
o objetivo de educar o setor industrial que a Nanotec promoveu
o 2º Congresso Internacional de Nanotecnologia, que discutiu
as questões práticas do setor, como aquisição
de patentes, parcerias com universidades e contratos de nanotecnologia.
Crespilho: na escala nanométrica, propriedades da matéria
se transformam Biossensores – A Nanotec foi também uma oportunidade
para empresas e universidades mostrarem ao público seus
projetos na área. A USP foi um dos destaques, com o maior
número de projetos, cerca de 70. Dentre estes estão
os biossensores, dispositivos nanoestruturados utilizados para
identificar e quantificar a presença de moléculas
em ambientes ou mesmo no corpo humano, para a realização
de diagnósticos. “Podemos identificar uma contaminação
na água ou criar nanodispositivos que podem ser colocados
dentro de uma veia ou embaixo da pele e fazer um monitoramento
remoto de um composto”, exemplifica Crespilho.
Assim, uma pessoa com diabetes pode ter o açúcar
do sangue constantemente medido por um dispositivo nano e monitorado
por seu médico, sem a necessidade de tirar amostras de sangue
ou aparelhos específicos. “São os Lab-on-chip,
laboratórios dentro de um chip. Só que, para montar
um laboratório em um chip, precisamos de nanoestruturas,
que permitam trabalhar numa escala tão pequena”, diz
Crespilho.
Numa parceria com o Grupo Santista, o Instituto de Física
de São Carlos da USP desenvolve um tecido com nanopartículas
de prata e de quitosana (composto encontrado no exoesqueleto de
crustáceos), que, incorporadas à fibra, têm
efeito bactericida. “São roupas inteligentes, auto-esterilizantes,
o que será perfeito para uniformes. Já estão
em fase de implementação e nos próximos dois
anos, ou até antes, estarão no mercado”, estima
Crespilho.
No estande da feira reservado à importadora, o destaque é o
tecido hidrofóbico, que, graças às nanopartículas,
não absorve líquidos. “Você pode tomar
chuva ou derramar vinho que continua seco”, explica Amanda
Veríssimo, aluna do Instituto de Química da USP.
Para os fumantes, a surpresa está na lâmpada que consegue
limpar o ambiente, levando toda a fumaça do ar a grudar
nas paredes. “A lâmpada tem um eletrodo de nanopartícula
de prata que ioniza a fumaça, inserindo energia e desequilibrando
o sistema. Assim, a fumaça busca uma superfície neutra
para descarregar essa energia extra”, explica Gustavo Gonçalves,
também aluno do Instituto de Química.
Por serem invisíveis a olho nu, as nanopartículas
não alteram a aparência dos produtos, exigindo um
rígido controle e fiscalização por parte dos órgãos
responsáveis. “Sempre fui a favor de se saber tudo
sobre uma nanopartícula antes de lançá-la
no mercado, sua propriedade e seus efeitos no ambiente e na saúde.
E se alguém tem alergia a alguma partícula? Será que
alguma nanopartícula pode ter o mesmo efeito do chumbo e
se acumular no organismo, trazendo malefícios?”, indaga
Crespilho, lembrando que, seguindo uma tendência mundial,
o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização
e Qualidade Industrial) já possui um centro de nanometrologia,
equipado para medir e analisar esses produtos.
Enquanto isso, as indústrias buscam alternativas para a
comprovação de seus produtos. Uma importadora nacional
fez uma parceria com o Laboratório de Nanotecnologia do
Instituto de Química da USP para obter laudos de cerca de
40 produtos chineses nanoestruturados. “A importadora não
queria pôr no mercado produtos que não foram testados.
Para nós, é uma chance de comparar os produtos que
já existem no mercado com o que estamos produzindo em laboratório.
E já estamos vendo que os nossos são melhores”,
diz o professor Henrique Toma, chefe do laboratório.
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Impactos e tendências da TV digital
Discutir tecnologias e geração de conteúdos
para a TV digital, além de seus impactos sobre o ensino a
distância. Esse é o objetivo do seminário “Impactos
e Tendências da TV Digital no Brasil”, que será realizado
no próximo dia 23 de novembro, a partir das 9h30, no auditório “Professor
Francisco Romeu Landi”, que fica no Edifício Engenheiro
Mário Covas, sede da administração da Escola
Politécnica da USP.
Promovido pela Coordenadoria de Comunicação Social
(CCS) da USP, em parceria com o Portal Universia, Santander Banespa,
Escola Politécnica, Agência USP de Inovação
e Coordenadoria de Tecnologia da Informação da USP
(CTI), o evento contará, em sua abertura, com a presença
da professora Suely Vilela, reitora da Universidade, Wanderley Messias
da Costa, coordenador da CCS, Ivan Sandoval Falleiros, diretor da
Poli, e Alina Correa, diretora do Universia Brasil, entre outros.
Serão duas mesas. A primeira será dedicada ao conteúdo
e tecnologia para a TV digital, onde serão abordadas questões
relativas à implantação do Sistema Brasileiro
de TV Digital (SBTVD-T), interatividade, programação,
marcos reguladores, inclusão social e acesso público.
Entre os palestrantes, está confirmada a presença do
professor Marcelo Knorich Zuffo, da Escola Politécnica da
USP, um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento das
pesquisas brasileiras na área. A segunda será dedicada à educação
a distância, com destaque para o relato de experiências
que poderão fornecer subsídios para o desenvolvimento
de novas iniciativas.
O evento terá como público-alvo docentes, alunos,
assessores e pesquisadores das áreas de comunicação
e tecnologia das universidades, faculdades e institutos de pesquisa
de São
Paulo. São 200 vagas no total, sendo 30 para estudantes.
Informações
e inscrições no Portal
Universia.
Dois dias antes do evento os participantes poderão enviar
suas perguntas para o Portal
da USP, que também
fará a transmissão ao vivo. Mais informações:
(11) 3179-0685.
ANDRÉ CHAVES DE MELO
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