Atividades propiciam chance de voltar aos estudos
Jane e Mércia são professoras experientes que sabem,
como por instinto, lidar com as crianças que correm pela
sala de aula. Agora elas partem em busca da teoria por trás
da experiência acumulada com os anos. De professoras a alunas,
elas são duas das cerca de mil participantes do Programa
de Educação Continuada (PEC), desenvolvido pela Faculdade
de Educação (FE) da USP em parceria com a Secretaria
de Educação de São Paulo.
De 15 a 20 de janeiro, elas vieram à USP para a semana presencial,
na qual participaram de oficinas e mesas-redondas e visitaram os
institutos culturais pertencentes à Universidade, como a
Estação Ciência e o Museu Paulista. Jane Marli
Silva e Mércia Regina Simion inscreveram-se no PEC por indicação
de colegas. “Todos comentavam e nós tínhamos
esperança de conseguir nos inscrever. Era nosso objetivo
continuar os estudos, e o PEC é a oportunidade perfeita”,
conta Jane.
A professora trabalha há vinte anos em um Centro de Educação
Infantil (CEI) na zona leste da cidade, e foi no PEC que não
só expandiu seus conhecimentos como aprendeu a trabalhar
com o computador, que hoje é ferramenta fundamental na sua
rotina. “Eu não sabia fazer nada no computador. Depois
que tive as aulas no programa decidi comprar um”, conta. Para Mércia, que trabalha há cinco anos no mesmo
CEI, participar do programa é a realização
de um sonho. Cursando o programa há um ano, ela vê claramente
as melhorias no seu relacionamento com as crianças e até com
colegas de trabalho. “Há muitas coisas que nós
fazíamos, mas não sabíamos bem o porquê.
Agora vemos cada atividade com outros olhos, valorizamos as brincadeiras
e sabemos os benefícios que elas trazem para nossos alunos”,
conta. Para Jane e Mércia, assim como para grande parte dos participantes,
essa é uma chance única de voltar aos estudos, atualizar-se
e tentar uma especialização na área. Marieta
Nicolau, coordenadora do projeto, orgulha-se da dedicação
e do empenho das alunas no programa. “O nome USP é muito
importante para elas, é um motivo de orgulho. Para as mais
velhas, soa como um prêmio por todos os anos de carreira,
e para as mais novas é um despertar para o conhecimento”,
afirma. Volta à infância – O objetivo da semana presencial
na USP é que os professores façam na prática
as atividades recreativas que depois ensinarão a seus alunos. “O
professor é muito beneficiado quando recupera o exercício
da memória e volta-se ao estudo. Não adianta propor
um projeto aos alunos sem o ter vivenciado”, afirma Joyce
Bisca, uma das professoras da oficina de artes da natureza.
Nessa atividade, as “professoras-alunas”, como gostam
de se chamar, aprendem a extrair matéria-prima de elementos
facilmente encontrados na natureza, como pedaços de madeira,
flores e folhas. Ao som de uma música relaxante e sob um
leve aroma de ervas, elas são convidadas a pintar com pigmentos
naturais e a criar bonecas a partir de pequenos galhos. “Aqui
elas aprendem uma atividade que incentiva a criatividade da criança”,
explica Wanet Luna, professora da oficina.
Nesse mesmo espírito de volta à infância, os
alunos da oficina de brincadeiras são levados ao pequeno
jardim na frente dos prédios da FE. O professor entrega
a cada um deles um jabolô, uma espécie de ioiô com
duas varetas que desafia a coordenação motora dos
novos alunos. Entre eles está o professor de Educação
Física Fábio Eduardo Clemente. Um dos raros homens
a participar do programa, Clemente inscreveu-se para complementar
suas aulas e, num futuro próximo, tentar uma pós-graduação
em Gestão de Escolas. Seu objetivo é tentar o cargo
de coordenador, ou mesmo de diretor. “No começo, achei
que o conteúdo não teria nada a ver com meu trabalho,
mas já aplico o que aprendi nas minhas aulas”, explica. Banho cultural – Nos dois anos de curso, os alunos são
acompanhados por tutores que os auxiliam nas aulas diárias.
Os locais são cedidos pela Secretaria de Educação,
e cada um freqüenta o pólo mais próximo de sua
casa. Periodicamente devem entregam trabalhos aos orientadores
da USP, além de pequenas atividades enviadas pela internet
para assistentes da própria FE. Todos os custos são
bancados pela Prefeitura. “Nos pólos, eles vêem
questões fundamentais para a educação, como ética,
políticas públicas e meio ambiente. Já na
semana presencial, têm aulas bem práticas com jogos,
danças, artes. É um banho cultural”, descreve
Marieta Nicolau.
Em sua terceira turma, o PEC já formou milhares de professores
do ensino público infantil e fundamental, que levaram o
conhecimento aprendido com as apostilas e videoaulas diretamente
para seu trabalho. “Nossa meta maior é melhorar a
qualidade do ensino público. Se cada professor leva essa
melhora para quarenta alunos, são cerca de quarenta mil
crianças beneficiadas por turma formada no PEC”, contabiliza
Myriam Krasilchik, ex-diretora da FE e idealizadora do projeto.
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