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Todos os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) são acompanhados e avaliados por especialistas brasileiros e do exterior, mas o Centro de Estudos do Genoma Humano, ligado ao Instituto de Biociências da USP, além da avaliação institucional, considerou interessante discutir seus projetos com outros pesquisadores convidados do exterior. A idéia foi sugerida há um ano pelo professor Hernan Chaimovich, ex-pró-reitor de Pesquisa, e posta em prática pela atual pró-reitora, professora Mayana Zatz, que também responde pelo Centro de Estudos do Genoma Humano.

foto: cecília bastosA escolha dos cientistas levou em conta que o Cepid tem um grupo de pesquisa que trabalha com genes relacionados a doenças neurológicas e com doenças que levam ao retardo mental, e ainda uma linha de investigação de células-tronco. Daí o convite aos especialistas dessas áreas, professores Paul Hagerman, da Universidade da Califórnia, em Davis (Estados Unidos), especialista em doenças neurológicas e mentais, e Keith Campbell, da Universidade de Nottingham (Inglaterra), embriologista conhecido como “pai da ovelha Dolly”, por ter criado a técnica que deu origem ao primeiro animal clonado a partir de uma célula adulta, em 1997. Ambos mantiveram contatos com professores e alunos de pós-graduação e fizeram palestra aberta ao público (com inscrição prévia) no dia 21 de março, quarta-feira, no auditório do Instituto de Biociências da USP. No dia seguinte visitaram as instalações do Centro de Estudos do Genoma Humano.

foto: cecília bastos
Mayana Zatz e a apresentação no Instituto de Biociências
da USP: Centro de Estudos do Genoma Humano está na vanguarda da pesquisa em genômica no País e no mundo

Mayana Zatz disse que o convite inicial era para discutir projetos apenas com alunos e pesquisadores do Cepid Genoma Humano, mas seria uma pena perder a oportunidade de ampliar o acesso à exposição desses cientistas de renome e com uma “experiência fantástica” no currículo. Eles concordaram e a capacidade do auditório se esgotou rapidamente. No dia 22, quinta-feira, foi a vez de a pró-reitora fazer uma exposição sobre as linhas de pesquisa levadas adiante no Cepid e ouvir propostas e sugestões dos professores convidados.

Antes da palestra, Campbell disse acreditar que será possível fazer clonagem humana, mas ele é contra, pois já se sabe, por experiências como a de Dolly, que os embriões de animais têm muitas anomalias. Há pessoas que defendem a clonagem humana, visando a casais estéreis ou homossexuais, mas a verdade é que não existe razão médica para fazê-lo. Isso em relação à clonagem reprodutiva, uma vez que o pesquisador considera importante continuar fazendo pesquisas com fins terapêuticos: fabricar tecidos ou usar células embrionárias, de embriões descartados. Nesse caso, sim, disse, podem haver aplicações médicas.

foto: francisco emolo
Centro de Estudos do Genoma Humano também
faz divulgação científica

Será que clonagem animal é transgenia? A que Campbell fez, no caso da ovelha Dolly, não é. No entanto, observou, pode-se usar o mesmo método (transferência nuclear, quando o núcleo de uma célula é fundido a um óvulo sem núcleo e levado a se dividir como um embrião) para fazer modelos transgênicos, isto é, tirar o gene de um modelo e colocar em outro, obtendo-se um terceiro.

Em manifestação de fevereiro deste ano, Campbell havia dito: “Acho que se nós pudermos fazer animais resistentes a doenças, não precisaremos ter tantos antibióticos ou outros tratamentos. Os animais transgênicos, na prática, são um método de produção agrícola orgânico”.

Extensão – O Centro de Estudos do Genoma Humano, além de atuar no campo da pesquisa com 15 pessoas, sendo dois médicos, faz também atendimento a pacientes, repassando para a população os resultados de novas tecnologias, especialmente as adquiridas em testes genéticos. O Núcleo de Aconselhamento Genético abrange o diagnóstico, a identificação de portadores em situação de risco e orientação sobre o que pode ser feito para garantir ao paciente uma vida saudável.

No segundo semestre do ano passado, o centro iniciou uma nova linha de atuação: o tratamento psicanalítico, dirigido pelo psicanalista Jorge Forbes, com resultados “espetaculares”, segundo avaliação da pró-reitora Mayana. A equipe de Forbes trabalha com a idéia de “desautorizar o sofrimento”, pois é sabido que portadores de doenças neuromusculares costumam se entregar facilmente ainda no diagnóstico, esquecendo-se de que é possível “reinventar um modo de viver sem dor nem sofrimento”. A dor, por exemplo, pode vir de uma má postura, e isso pode ser facilmente corrigido.

foto: cecília bastos
Campbell e Hagerman na USP: clonagem só para fins terapêuticos

É preciso levar em conta que existem cerca de 30 formas de doenças neuromusculares e que desde o ano 2000, antes mesmo da existência do Cepid, muitos pacientes com doenças de origem genética já vêm sendo atendidos na USP. Até agora, aproximadamente 50 mil pessoas passaram por algum tipo de atendimento. Com problemas neuromusculares são pelo menos 25 mil. Inicialmente, a proposta do centro era apenas fazer o diagnóstico de casos, mas, considerando a carência de centros especializados no Brasil, a professora Mayana fundou a Associação Brasileira de Distrofia Muscular (Abdim), que tem sede ao lado da entrada principal da Cidade Universitária e atende pacientes aos sábados.

No momento, Mayana e equipe aguardam a provável chegada de uma criança de família nordestina, não com distrofia muscular, mas com problemas de excesso de peso, ganhando um quilo e meio a cada mês. Aos 15 meses de idade, o menino pesa 25 quilos. A professora soube do caso pela mídia e em seguida escreveu uma carta a um jornal de São Paulo, informando que o centro da USP tem um serviço coordenado pela professora Cília Koiffmann, que estuda obesidade e pode ajudar aquela família. A carta foi publicada e a equipe de Mayana está alerta. Segundo a professora, a síndrome de Prader-Willi pode ser a responsável pela obesidade exagerada da criança e o diagnóstico precoce está aí para ajudá-la. Pacientes com essa síndrome, além da compulsão pela comida, têm metabolismo baixo e engordam desmedidamente. Os riscos para a saúde são grandes, pois o coração não agüenta tanto excesso de peso.

Políticas – Na divisão de trabalho no Centro de Estudos do Genoma Humano, cabe à professora Eliana Dessen coordenar a parte referente à educação e divulgação, e à professora Rita Passos Bueno, a parte de transferência de tecnologia. Eliana construiu a “célula gigante”, do tamanho de uma sala, utilizada para mostrar a milhares de alunos de escolas de São Paulo como uma célula é por dentro e como ela funciona. Agora, a peça se encontra na Estação Ciência, centro de difusão científica e cultural da USP, localizada no bairro da Lapa. Como parte da divulgação, o centro inclui palestras e cursos, inclusive para professores e jornalistas.

Os cientistas se preocupam igualmente com as políticas públicas e já conseguiram vitórias expressivas, como convencer os parlamentares sobre a necessidade de uma lei de biossegurança para o País. Mayana Zatz esteve pessoalmente no Congresso Nacional defendendo a pesquisa com células-tronco para fins terapêuticos, além de mostrar que “planta transgênica não mata”.

A pró-reitora de Pesquisa se empenha ainda na defesa da permanência, na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), do professor Walter Colli, que por duas vezes dirigiu o Instituto de Química da USP. Mayana considera Colli um grande pesquisador e defende o processo de votação por maioria simples naquele órgão.

Na pauta da Pró-Reitoria constam outros itens: uma lei de incentivo à pesquisa nos moldes da Lei Rouanet – destinada à cultura –, com isenção de impostos para quem investir em pesquisa; ampliação do quadro de pessoal técnico na USP, uma vez que a demanda vai muito além do que existe hoje; e abertura da Universidade, suas instalações e laboratórios aos alunos da escola pública. A professora Mayana Zatz também elogia a proposta do governo do Estado de dar salário diferenciado aos servidores, pelo critério de mérito, e sugere que a medida comece a ser implantada pelas escolas.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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