Entre os dias 17 e 20 de junho, a cidade de Piracicaba abrigou
a quinta edição do Simpósio Internacional
e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira
(Simtec). Mais do que as melhorias tecnológicas no processo
de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar,
outros dois assuntos predominaram nas apresentações
técnicas: co-geração, já adotada por
algumas usinas para a obtenção de energia elétrica,
e o desenvolvimento de novos métodos para a produção
de etanol a partir do bagaço da cana.
A produção de eletricidade na usina está tão
em moda que o Simtec abrigou ainda um simpósio simultâneo
voltado às oportunidades de geração de energia
elétrica utilizando a queima do bagaço e da palha
da cana, o Simcoger. “Uma das finalidades do simpósio é mediar
e disponibilizar as informações para o setor sucroalcooleiro.
No momento a demanda energética é pela eletricidade”,
destaca José de Jesus Vaz, coordenador-geral do Simtec.
Análises comparativas sobre a geração de energia
elétrica a partir da queima do bagaço e da palha
da cana já apresentam viabilidade e garantem retorno de
investimentos. O Grupo Dedini, maior indústria de base do
Brasil, assinou contrato no valor de R$ 80 milhões com a
empresa Sykué Bioenergya para a construção
de uma usina geradora de eletricidade a partir do capim-elefante.
A cultura foi escolhida devido à sua alta capacidade de
receber energia solar e transformar em matéria celulósica,
através de um ciclo de produção completamente
limpo, renovável e economicamente viável.
A planta será construída na Usina de São Desidério,
na Bahia, e inicialmente sua capacidade será de 30 megawatts,
limite mínimo de produção para o investidor
receber os benefícios para cobrir os custos da transmissão,
que chegam a 10% no valor final da conta. “O projeto foi
elaborado respeitando a legislação brasileira quanto à geração
de eletricidade no mercado livre. Por isso, o grupo pretende investir
em outras unidades, para alcançar seu objetivo de 300 megawatts”,
explica Ana Maria Diniz, representante da empresa.
O encerramento do simpósio contou com a presença
de Marcos Sawaya Jank, recém-empossado presidente da União
da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), que
se mostrou entusiasmado com os novos investimentos na área
de co-geração, tecnologia que passou a denominar
de bioeletricidade. “O governo acabou de anunciar investimentos
para a usina nuclear de Angra 3, que vai custar R$ 7,2 bilhões
para produzir 1.300 megawatts. Hoje, o setor sucroalcooleiro produz
5 mil megawatts e exporta 2 mil para a rede elétrica, com
potencial para chegar a mais de 20 mil megawatts”, afirmou
o presidente da entidade que congrega e representa mais de 100
unidades produtoras de açúcar e álcool. Jank
reforçou que a Unica pretende instalar pelo menos quatro
escritórios de representação, em vários
pontos do mundo, para liderar as discussões sobre a certificação
do setor canavieiro e especificações para o etanol.
Segundo José de Jesus Vaz, as discussões sobre o
mercado da bioeletricidade contribuirão para o crescimento
do setor e para a economia do País. “O setor pode
chegar à produção correspondente a três
Itaipus, ou seja, 20% da necessidade brasileira”, explicou
o coordenador. “Por que o Brasil tem de investir em hidroelétrica
no rio Madeira, em termoelétrica a carvão, supersuja,
e em usina nuclear, com os riscos que todos nós conhecemos,
quando há, em São Paulo, um mundo de biomassa para
gerar eletricidade?”, questionou.
Criado em 2003, graças ao impulso que o setor sucroalcooleiro
tomou nos últimos anos, quando o mundo passou a entender
as matrizes energéticas como fundamentais para a sobrevivência
do planeta, a quinta edição do Simtec 2007 tinha
uma expectativa de fechar negócios em torno de R$ 350 milhões,
número que foi superado por inúmeros convênios
e acordos selados pelos participantes, atingindo a cifra de um
R$ 1 bilhão só no evento, com perspectivas de R$
4 bilhões nos próximos quatro anos.
Fapesp – Um exemplo expressivo das negociações
firmadas durante o Simtec ocorreu entre a Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
e a Dedini Indústrias de Base, que aproveitaram a oportunidade
para anunciar o fechamento de uma cooperação científica
no valor de R$ 100 milhões. O acordo prevê o financiamento
de estudos conjuntos, em universidades e institutos de pesquisa,
na busca de novas tecnologias para a produção de
etanol de cana-de-açúcar.
De acordo com José Luiz Olivério, vice-presidente
de operações da Dedini, o convênio permitirá pesquisas
conjuntas entre as universidades e a empresa. “O mais natural é que
o trabalho se desenvolva nos centros de pesquisa das universidades
com participação dos profissionais da empresa. Mas,
se houver projetos que necessitem da construção de
protótipo, os pesquisadores da universidade poderão
ir para a usina.”
Válido por cinco anos, o convênio terá aporte
financeiro de R$ 50 milhões de cada uma das partes e os
projetos serão definidos em conjunto entre a Dedini e os
pesquisadores das universidades e instituições paulistas
envolvidos nas pesquisas. “O século 20 foi marcado
pelo ‘ouro preto’ e poluente. O século 21 será marcado
pelo ‘ouro verde’”, afirmou o governador do Estado,
José Serra, que esteve na abertura do evento e prestigiou
a assinatura do convênio.
Essa foi a maior parceria assinada até o momento entre a
Fapesp e uma empresa privada. “O acordo com a Dedini foi
uma escolha lógica, já que é uma das principais
empresas do mundo na área de tecnologia industrial para
a produção de etanol”, afirmou o presidente
do Conselho Superior da fundação, Carlos Vogt.
O diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito
Cruz, destacou o aumento das atividades empresariais ligadas ao
setor de produção do etanol no País. “Hoje,
o etanol é um assunto de interesse mundial e temos que privilegiar
o fomento à pesquisa tecnológica, para que ajude
a manter o Brasil entre os principais produtores e exportadores
de álcool.”
Além do sucesso econômico do Simtec, durante os quatro
dias o evento recebeu perto de 22 mil pessoas. Segundo Vaz, a larga
superação das previsões de negócios
reflete o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro. “Neste
ano, os empresários visitaram a feira com o real propósito
de investir. Nas edições anteriores houve muita pesquisa
e especulação de negócios, mas ainda existia
receio de instabilidade do setor. Agora os visitantes vieram para
fechar negócios e adquirir novas tecnologias”, explicou.
Durante o Simtec, foram realizados paralelamente três outros
eventos tecnológicos: o Simpósio de Biotecnologia
em Etanol e Biodiesel (Simbio), o Simpósio sobre Co-geração
de Energia (Simcoger) e o Simpósio sobre Manutenção
e Tecnologias Industriais (Simantec), promovendo cerca de 35 palestras.
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