Sem pesquisa de ponta não há desenvolvimento e crescimento.
Porém, a consciência da importância de investir
em produção científica é um grande
desafio. Um desafio que a Revista USP – publicação
da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP – coloca
em debate no dossiê Financiamento da pesquisa no Brasil (edição
número 73), reunindo textos de especialistas de diversas áreas
que, além de fazer um levantamento da atual situação
da pesquisa brasileira, traz reflexões que apontam direções
para que ela cresça e se desenvolva.
“É comum ouvir intramuros da Universidade de São
Paulo que a USP responde por uma porcentagem que varia de 25% a
30% de toda a pesquisa feita no Brasil”, observa o editor
Francisco Costa. “É dado inegável, pois dá a
medida do alcance do trabalho da mais importante universidade do
País e uma das três maiores da América Latina.”
Costa acredita que o tema da revista não se volta apenas
para os acadêmicos e pesquisadores. A meta é transcender
esse público e atingir a todas as pessoas esclarecidas da
sociedade. “Num país como o nosso, que tem lutado
desesperadamente para se desenvolver, a questão ‘quem
financia a pesquisa’ adquire uma relevância especial.”
Nesta última década, o Brasil passou a responder
por 1,8% da produção científica internacionalmente
indexada. “Para se ter uma idéia desses números,
basta dizer que cerca de 50% de todos os artigos científicos
publicados na América Latina são assinados por pesquisadores
brasileiros”, esclarece Costa. “Ao lado disso, temos
a afirmação unânime dos autores que participam
deste dossiê de que a pós-graduação
no País continua dependendo fundamentalmente da universidade
pública e continua restrita à região Sudeste.”
O papel das universidades – No artigo “Notas preliminares
sobre financiamento à pesquisa no Brasil”, o professor
Hernan Chaimovich, do Instituto de Química da USP, e Paula
Melcop, assessora da Academia Brasileira de Ciências (ABC),
explicam que a obtenção de dados sobre financiamento à pesquisa
no Brasil não é um assunto trivial até nas
instituições que as apresentam publicamente. “Os
problemas surgem quando se pretende investigar, por exemplo, as
contribuições públicas e privadas investidas
em pesquisa numa universidade, desagregadas por unidade ou por área
do conhecimento, ou quando se comparam fontes diferentes dos mesmos
dados.”
Segundo Chaimovich e Paula, o Brasil vem construindo uma matriz
de financiamento bem diferenciada. “É premente a construção
de um observatório de financiamento à pesquisa no
qual os dados possam ser validados, integrados e compartilhados
para estudo, análise e formação de políticas
públicas”, observam. “No Brasil, como em muitos
outros países, a pesquisa se realiza, sobretudo, nas universidades.”
Os autores apresentam os indicadores que revelam o impacto crescente
da ciência no Brasil. Nesse contexto, lembram que a USP pode
decidir se transformar numa universidade de pesquisa de classe
mundial. “Um projeto nessa direção poderia
ser, por exemplo, começar a se perguntar quais as medidas
estruturais necessárias para que essa universidade comece
a aparecer entre as cem melhores universidades do mundo na próxima
década.” Porém, para tanto, sugerem duas hipóteses
de mudança. Argumentam: “O surgimento crescente de
programas interdisciplinares com missões específicas
nas agências de financiamento demanda tanto uma presença
institucional na decisão de programas quanto a operação
de pesquisa crescentemente interdisciplinar. Uma outra decorrência
evidente dos números apresentados se refere à estruturação
do segmento da universidade que raras vezes assumiu a sua importância
para a operação dessa instituição,
isto é, o segmento dos docentes responsáveis por
um aporte financeiro que chega a ser quase um quarto do total orçamentário”.
Produtor de ciência – A Revista USP traz um panorama
favorável da produção científica de
nível internacional. O artigo “O desempenho da Ciência
e Tecnologia no Brasil – Uma análise a partir dos
dados do CNPq” reforça que nos últimos dez
anos aumentamos a nossa liderança na América Latina.
Os pesquisadores Manoel Barral Neto, da Universidade Federal da
Bahia, José Roberto Drugowich de Felício, da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
da USP e Erney Plessmann de Camargo, presidente do CNPq, destacam
que o conhecimento e a inovação se tornaram prioritários
para o desenvolvimento econômico. “Os países
emergentes vêm buscando acompanhar as exigências da
nova estrutura econômica aumentando o investimento em pesquisa
e desenvolvimento (P&D).” Citam a Coréia do Sul
e a China como exemplos de países que se tornaram altamente
competitivos graças à inovação tecnológica
decorrente da incorporação de novos conhecimentos
e tecnologias aos seus processos produtivos.
No artigo “A pesquisa no Brasil: o papel do capital empreendedor”,
os pesquisadores Guilherme Emrich e Adelaide Maria Coelho Baêta
lembram a importância da criação do CNPq, a
primeira agência de fomento à pesquisa que, a partir
de 1951, deu início à construção de
espaços e estratégias institucionais para que a prática
científica se firmasse coletivamente no País. “Hoje,
numerosos grupos de pesquisa vinculados a cerca de 230 instituições
de ensino e pesquisa contribuem para o acervo do conhecimento e
atestam o nível de competência alcançado. A
universidade e os centros de pesquisa públicos são
notadamente os pilares de pesquisa em nosso país.”
O artigo aponta a importância do fortalecimento da pesquisa
e seu desenvolvimento nas empresas, porém ressalta que é importante
a participação do governo, através de uma
legislação adequada, que estimule os pesquisadores
e, em especial, os empreendedores. “Capacitar o empreendedor
para o mercado internacional é um aspecto importante para
o desenvolvimento de uma mentalidade de parceria em que os empreendedores
e investidores possam cooperar na busca de seus objetivos”,
sugerem os autores. “Outro aspecto relevante é a governança
nos negócios, isto é, a transparência e a confiabilidade
que fazem parte do ambiente de negócios necessários à atuação
do capital empreendedor.”
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