O professor Irany Novah Moraes,
da Faculdade de Medicina da USP, morreu no dia 1º de agosto,
aos 80 anos de idade. Seu currículo,
que pode ser lido na página eletrônica do professor,
dá uma boa idéia da longa folha
de serviços prestados por Moraes à Universidade e à medicina
no Brasil. Formado em Medicina pela USP, ele se doutorou na mesma
instituição com tese na área de anatomia e
se tornou livre-docente em Clínica Cirúrgica. Bolsista
do governo francês na França, da Capes nos Estados
Unidos e da Fundação Von Humboldt na Alemanha, foi
professor titular de Cirurgia Vascular da Faculdade de Medicina
da USP, lecionou Metodização da Pesquisa Científica
na Escola de Educação Física e Esporte da
USP, chefiou o Laboratório de Investigação
Clínica em Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas
de São Paulo e coordenou o curso de pós-graduação
em Medicina do Hospital Jaraguá, também na capital
paulista. Foi médico legista em São Paulo.
Irany Moraes lançou 29 livros. Entre eles está o
Tratado de clínica cirúrgica, um monumental trabalho
publicado em dois volumes pela Editora Roca em 2005, com 2.472
páginas, que contou com a colaboração de 335
especialistas. Dividido em 19 seções, o tratado aborda
os mais variados temas ligados à clínica cirúrgica,
como fisiologia, diagnóstico, pesquisa científica,
epidemiologia, estatística e cuidados no pré e pós-operatório.
Outros livros de Moraes são Conforto da medicação
(2004), Longevidade (2004), Erro médico e a justiça
(2003), Sexologia (1998), Formação do médico
(1997) e O mal da saúde no Brasil (1995). Ele é autor
ainda de Atlas da aterosclerose (1991), Estratégia do diagnóstico
vascular (1991) e Residente de cirurgia – livro em co-autoria
que venceu o Prêmio Jabuti de 1993, na categoria Melhor Livro
de Ciências Naturais e Medicina. O professor publicou ainda
185 capítulos de livros e 121 artigos em revistas médicas
nacionais e estrangeiras, além de 210 artigos no Jornal
da USP, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Folha de S. Paulo.
Era diretor responsável da revista
virtual Cultura & Saúde.
Entre seus feitos mais notáveis está a realização
do primeiro transplante de rim em hospital particular do Brasil,
em 1968. Nesse ano, ele organizou com o nefrologista Roland Véras
Saldanha o Grupo de Transplante do Hospital da Beneficência
Portuguesa de São Paulo. Esse grupo realizou 12 transplantes,
obtendo um tempo de sobrevida de dois a seis anos, considerado “muito
bom” para a época. Em 1966 e 1967, Moraes fez o Planejamento
Operacional da Unidade Integrada de Saúde de Sobradinho,
no Distrito Federal, que passou a ser usada pela Universidade de
Brasília (UnB) como hospital-escola.
Irany Moraes: vida de serviço
Entrevista – Numa entrevista recente que
concedeu à Revista
Vascular In, o professor preferiu citar,
como o grande legado que deixa às várias gerações
que formou, a sua atividade didática. Ele disse: “Não
sei se é grande (o legado), mas ensinei uma geração
a elaborar dissertação de mestrado, tese de doutoramento
e até de livre-docência. Mantive um curso de metodologia
científica por 14 anos na pós-graduação
da Faculdade de Medicina da USP. Os alunos de todas as disciplinas
de pós eram encaminhados pelos orientadores a fazer essa
disciplina. Houve anos em que os candidatos eram tantos que se
tornou necessário desdobrar a turma”.
Na mesma entrevista, Irany Moraes deixou um alerta para os jovens
médicos. “Que tomem atenção para três
pontos fundamentais”, ele lembrou, professoralmente. “Primeiro:
a velociade da informação, o progresso do mundo globalizado
gera tal quantidade de conhecimento que torna cada vez menor o
tempo de vida médio da verdade científica. Assim,
há de se aprender a raciocinar com dados em evolução.
Segundo: como não se pode ensinar ‘bom senso’,
acredito que o crescente número de reclamações
de erro médico na Justiça sensibilize o jovem a ter
prudência e não cair nas armadilhas que o destino
coloca no caminho do exercício profissional. Ele deve só fazer
o que sabe e não improvisar. Terceiro: a competência
e a ética serão a garantia do êxito profissional.”
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