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O seminário Brasil, Rússia, Índia, China em 2015: fazendo escolhas estratégicas, promovido pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em 16 de agosto passado, abordou a evolução recente da Rússia, as relações estabelecidas entre Brasil e Índia e os avanços da China no mundo contemporâneo, contando com a participação do presidente da Câmara Brasil-Rússia, Gilberto Ramos, e do cônsul comercial da Índia, Rajeev Kumar, e com a exposição de Rodrigo Tavares Maciel, diretor-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China.

Para o coordenador do encontro, professor Jacques Marcovitch, as empresas passaram a se deparar com novos desafios e oportunidades, que as obrigam a renovar suas estratégias a fim de manter e aumentar sua competitividade em nível internacional. “Um desses desafios é a emergência dos Brics (sigla que se refere ao Brasil, Rússia, Índia e China), que, ao representar focos de concorrência e oportunidades para os diversos atores econômicos mundiais, tem favorecido o surgimento de uma espécie de empresas competitivas em escala global.”

Economia russa – Segundo Gilberto Ramos, vários fatores têm contribuído para que a Rússia seja uma grande potência. “O produto interno bruto vem aumentando consideravelmente. Em seis anos atingiu a média de 6,9%. Somos hoje a maior produtora de petróleo e gás natural do mundo, o que gera um poder estratégico muito grande.”

Outro fator importante é que o país amortizou antecipadamente seus débitos junto a credores internacionais e passou a ser um credor também. Desde 2006 integra o G8, o grupo do oito países mais industrializados do mundo.

Os dados têm apontado uma boa estabilidade econômica, com as exportações crescendo em torno de 133,9%, e representando 245,3 bilhões de dólares para a balança comercial de 2005. Sua taxa de juros é de 10,5% ao ano e a taxa de desemprego caiu de 13% para 5,5% da população ativa. É a maior importadora de carne bovina, suína e frango in natura do Brasil.

Ramos afirma ainda que o presidente Putin, desde que começou seu governo, estabilizou a política macroeconômica, ganhou apoio parlamentar e aprovação popular de mais de 70% dos cidadãos. Reduziu os atrasos salariais públicos e começou a negociar sua participação na Organização Mundial do Comércio (OMC), “o que deve ocorrer em breve”, ressalta.

Obras de engenharia e de arquitetura, softwares, confecções femininas, calçados de couro, rochas ornamentais, automóveis, peças e utensílios, móveis, frutas tropicais e cosméticos são alguns dos produtos e serviços apresentados por Ramos que podem ser incrementos de um comércio bilateral entre Brasil eRússia. E para isso ele sugere que as empresas primeiramente procurem conhecer o país, seu mercado consumidor, usos e costumes e um pouco da língua, além de contratar uma pesquisa de mercado. “Só assim o empresário conseguirá fazer uma parceria sem correr muitos riscos. É preciso pensar em como agregar valores e contribuir para transformações de tecnologia.”

Outro fator importante apresentado foi que a Rússia tem mais de 15 milhões de turistas anuais e um grande número de empresários interessados em investir em resorts. Foram assinados vários acordos bilaterais, como o uso pacífico do espaço sideral, evasão de receitas, intercâmbio cultural e educacional, pesquisa e tecnologia e parceria entre o BNDES e o Banco Russo.

Ramos afirma ainda que a falta de infra-estrutura brasileira leva a uma certa desconfiança para os investimentos acontecerem. Mesmo assim há os fundos russos, que são economicamente vantajosos e estão atentos ao biocombustível e ao mercado de carbono.

© Francisco EmoloO seminário na FEA: segundo especialistas, países emergentes como Brasil, Rússia, Índia e China têm favorecido o surgimento de empresas competitivas em escala global

Crescimento chinês – Para falar sobre a China, Rodrigo Tavares Maciel começou alertando que apostar contra o crescimento chinês é muito perigoso. Isso porque o país cresceu nos últimos 20 anos 9,5% ao ano. Desde 2003 cresce mais de 10%. No primeiro trimestre de 2007 o crescimento foi de 11,1% e no segundo, 11,9%. Sem contar a estimativa de um boom de exportação ainda este ano.

Maciel ressaltou que é importante estar atento para o rápido crescimento, a governabilidade e estabilidade mantida no país, ao contrário do Brasil, além de uma maior sofisticação tecnológica gradual implantada pelos chineses. “Sem contar que a China induz e acelera um reordenamento produtivo global, ou seja, empresas do mundo todo se deslocam para produzirem lá. Tem uma capacidade de poupança gigantesca, com 182 aeroportos em construção. Com o superávit de US$ 1,33 trilhão de reserva, há um grande investimento em infra-estrutura”, afirma.

Sua grande demanda em produtos importados está nos manufaturados. Maciel relata que há ainda um grande mercado a ser explorado pelas empresas brasileiras. Segundo ele os chineses adoram marcas internacionais porque acreditam que assim são jovens modernos. “Pensar em produtos que utilizem nossas marcas, como o futebol, já é um começo.”

Os fatores que garantem uma boa competitividade chinesa são a economia de escala, a disponibilidade de capital, boa infra-estrutura do setor exportador, um sistema tributário simples com carga reduzida, câmbio e grande investimento em educação.

Para Maciel, os investidores brasileiros precisam mudar o discurso de que a China só produz vestuário, tecidos e bugigangas. “Isso foi na década de 80. O grande desafio da produção chinesa para os próximos anos serão os computadores, os automóveis, as telecomunicações e os aviões.”

E ainda prevê que em 2015 o mercado chinês será maior que o americano. No entanto, há grandes desafios a serem superados. Já possui 300 milhões de pessoas sem água potável. De cada dólar de produto exportado, requer quatro vezes mais energia. E o que talvez possa conter o crescimento da economia são as medidas de combate à poluição e o uso desenfreado de energia.

Maciel fez a ressalva do desconhecimento completo do brasileiro sobre a China. Os investimentos são inexistentes, e não existe iniciativa. “Só nos preocupamos em exportar os excedentes.” O maior desafio, assegura, é que o Brasil está perdendo mercado da América Latina para a própria China e precisa repensar sua estratégia, entender o que é o mercado chinês, marketing e adaptação de mercado.

Negócios indianos – O cônsul indiano, Rajeev Kumar, começou explicando que a Índia é a maior democracia do mundo, tem 80% de indianos hindus e seu segundo idioma é o inglês. “É a língua que une todos os 35 estados do país.” Ele ressaltou que o relacionamento Brasil-Índia sempre foi bom, desde que conquistaram a independência da Inglaterra. As relações comerciais se iniciaram em 2001 e em 2004 criou-se o grupo Brasil, África do Sul e Índia.

O cônsul apresentou algumas escolhas estratégicas de negócios com o Brasil, como a cooperação para padronizar a importação e a exportação, o tratado com o Mercosul e a cooperação no setor de tecnologia nuclear civil, assim como parcerias nas áreas de tecnologia da informação, biotecnologia, fabricação de aviões e mercado de commodities. A Índia cresce 8% ao ano, lançou recentemente a quarta geração de supercomputadores e é o segundo país mais empreendedor do mundo, capaz de lançar satélites. Tem uma indústria que prevê um crescimento de 10% ao ano e os investimentos estão crescendo mais do que 30 % do PIB.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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