Para o desenvolvimento sustentável da bioenergia no Brasil, é preciso avaliar cuidadosamente os impactos dessa nova economia no meio ambiente. Esse será um dos temas de debates durante a Conferência Nacional de Bioenergia (Bioconfe). O evento, promovido pela USP e pela Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP, ocorrerá nos dias 26, 27 e 28 de setembro no Maksoud Plaza Hotel, em São Paulo.

Entre os palestrantes estará o professor e coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Saldiva, que falará sobre “Bioenergia e o meio ambiente”. Estudioso dos efeitos da poluição no organismo humano, ele defende a utilização da bioenergia como uma fonte alternativa de combustível, que emite taxas menores de poluentes na atmosfera. “Tanto o álcool como o biodiesel, fabricado a partir das oleaginosas, emitem taxas menores de substâncias cancerígenas durante sua produção. Isso traz um benefício na área de saúde para as regiões produtoras”, afirma.

Também por essa vantagem, a indústria alcoolquímica tornou-se especialmente estratégica para o País. Para o professor Wanderley Messias da Costa, coordenador da CCS e presidente da Bioconfe, é necessário um grande investimento do governo e dos pesquisadores para explorar o álcool e todos os seus subprodutos, como a celulose, os plásticos de origem vegetal e solventes, além dos combustíveis. “É toda uma cadeia produtiva auto-sustentável, menos poluente e geradora de riquezas, que pode ser formada com o desenvolvimento da alcoolquímica”, defende.

Além das fontes já conhecidas de bioenergia, como o álcool e o biodiesel, o professor Saldiva aposta nas biorrefinarias como alternativa ecológica ao fornecimento de combustível. “Assim, o País começará a produzir energia a partir do lixo e do esgoto, que hoje são considerados um problema”, afirma.

Impactos – Apesar das evidentes vantagens ao ambiente, a produção em larga escala do biocombustível apresenta impactos negativos para o homem. Com a grande demanda por álcool, em parte graças à grande difusão dos carros com motor bicombustível, o regime de trabalho nas plantações de cana-de-açúcar aumentou espantosamente.

Segundo o professor Saldiva, cada trabalhador passou a colher, por dia, quatro toneladas de cana-de-açúcar. Antigamente, cada trabalhador era responsável por uma colheita de 800 quilos. “Isso sem contar o aumento do uso de pesticidas e da queima da cana, que, mesmo em menor escala que o petróleo, emite poluentes na atmosfera”, afirma.

Esse aumento sem controle da produção acaba se contrapondo ao conceito de um combustível sustentável, prejudicando a imagem do combustível brasileiro no mercado mundial. “Hoje, o produto tem que ser sustentável em todos os níveis. Somente no Brasil a ecologia humana não é levada em conta. É como se o homem não fizesse parte do conceito de ambiente”, critica Saldiva.

Os custos do combustível, lembra ainda o professor, vão muito além do plantio, colheita e produção. Incluem também o “custo saúde”, todos os malefícios trazidos não só aos trabalhadores, mas a toda a população das regiões produtoras do combustível. “Meu objetivo é mostrar aos convidados a importância de se agregar o vetor saúde humana na produção do biocombustível e em sua análise como fonte alternativa de energia”, resume.

A Conferência Nacional de Bioenergia da USP será realizada nos dias 26, 27 e 28 de setembro no Maksoud Plaza Hotel (na alameda Campinas, 150), em São Paulo. As pré-inscrições podem ser feitas via internet até 21 de setembro. Após essa data, somente nos dias e local do evento. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091-4806 e na página eletrônica www.usp.br/bioconfe (e-mail: markccs@usp.br).

 

Dois dias de debates

Esta é a programação da Conferência Nacional de Bioenergia (Bioconfe).

26 de setembro (quarta-feira)

9 horas. Abertura, com a reitora da USP, Suely Vilela.

10 horas. Conferência Inaugural “ O programa de bioenergia do Estado de São Paulo”, com José Goldemberg, coordenador da Comissão Especial de Bioenergia do Estado de São Paulo.

13h30. Painel 1: “Políticas públicas e inovação para o desenvolvimento da bioenergia”. Coordenação: Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp. Expositores: João Eduardo de Moraes Pinto Furtado (USP), Luis Augusto Barbosa Cortez (Unicamp) e José Oswaldo Siqueira (CNPq).

16h30. Painel 2: “Política energética de biomassa no Estado de São Paulo”. Coordenação: Saturnino Sérgio da Silva (Fiesp). Expositores: Dilma Seli Pena (secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo) e Luiz Augusto Horta Nogueira (Universidade Federal de Itajubá).

27 de setembro (quinta-feira)

9 horas. Painel 3: “Pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a produção de bioenergia”. Coordenadora: Beatriz Vahan Kilikian (USP). Expositores: Ricardo Castello Branco (Petrobras), Weber Antonio Neves do Amaral (coordenador do Pólo Nacional de Biocombustíveis), Uwe Spörer (Bayer Technology Services), Jaime Finguerut (Centro de Tecnologia Canavieira) e Elba Pinto da Silva Bom (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

13h30. Painel 4: “Perspectivas de investimentos em bioenergia e os seus impactos na economia brasileira”. Coordenador: Guilherme Leite da Silva Dias (USP). Expositores: Mozart Schmitt de Queiroz ( Petrobras), Henri Philippe Reichstul (Brenco) e Roberto Rodrigues (Fiesp e Fundação Getúlio Vargas).

16h30. Conferência: “Cenários mundiais do biodiesel”, com Nilvaldo Trama (presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biodiesel).

28 de setembro (sexta-feira)

9 horas. Painel 5: “Bioenergia e meio ambiente”. Coordenador: Wanderley Messias da Costa (diretor da Coordenadoria de Comunicação Social da USP e presidente da Bioconfe). Expositores: Paulo Saldiva (USP), Reynaldo Victoria (USP), Emílio La Rovere (UFRJ), Ademar Romeiro (Unicamp), Clayton Campanhola (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, ABDI), Alfred Szwarc ( União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, Unica) e deputado Arnaldo Jardim.

13h30. Painel 6: “Bioenergia e indústria automobilística no Brasil e no mundo”. Coordenador: Francisco Emilio Baccaro Nigro (USP e IPT). Expositores: Antônio Roberto Cortês (presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus), José Carlos Neto (vice-presidente da General Motors do Brasil), Carlos Américo Pacheco (secretário-adjunto de Desenvolvimento do Estado de São Paulo), Marcos Jank (presidente da Unica) e Henry Joseph Júnior (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

17 horas. Conferência de encerramento, com Alessandro Teixeira (presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos, Apex).

 
PROCURAR POR
NESTA EDIÇÃO
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]