Em 16 de março de 2006, uma forte chuva caiu sobre a cidade de São Paulo. No prédio dos Departamentos de História e de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, na Cidade Universitária, a água entrou pelo telhado e janelas e alagou as salas de aula. O episódio deixou evidente à comunidade USP, especialmente aos alunos e professores da faculdade, a necessidade de uma grande reforma no prédio.

Foto crédito: Cecília Bastos

Cerca de um ano antes daquele evento, essa e outras reformas necessárias na FFLCH – como a ampliação das salas do prédio de Letras – já faziam parte dos planos da Universidade. Em 2005, o então diretor da faculdade, Sedi Hirano, requisitou a elaboração de um plano diretor que explorasse todas as possibilidades de expansão, reforma e adaptação dos seis prédios que a compõem – História e Geografia, Letras, Ciências Sociais, Filosofia, Administração e a Casa de Cultura Japonesa.

Esse projeto foi formulado pela

Coordenadoria do Espaço Físico (Coesf) da USP, responsável pela elaboração e aprovação de obras e reformas dos prédios da Universidade. Nos 6 mil metros quadrados classificados como passíveis de mudanças arquitetônicas, a Coesf propôs, entre outras modificações, a ampliação de salas de aula e salas de docentes do Departamento de Letras, a adaptação de todos os prédios para o acesso de pessoas com deficiência e a construção de um eixo transversal e um eixo longitudinal, que ligarão todos os seis prédios e promoverão a circulação dos alunos entre os edifícios, seu principal objetivo.

“Constatamos que os prédios são ilhas dissociadas. Queremos fazer uma integração dos prédios, que já começou com a construção da biblioteca central, para todos os cursos oferecidos pela faculdade. Além de ajudar na proposta de integração, a desativação das bibliotecas locais de cada departamento liberou um espaço que poderemos explorar para novos auditórios, outra necessidade apontada pela FFLCH”, afirma o professor João Cyro, coordenador da Coesf.

Com o incidente de 2006 no prédio da História e Geografia, a impermeabilização e reforma do telhado do edifício se tornaram prioritárias. Em agosto daquele mesmo ano, o projeto estava pronto, mas somente um ano depois, em agosto de 2007, o contrato foi assinado e finalizado. “Nós reconhecemos que há uma certa morosidade pelo próprio processo, pela burocracia existente. Nem sempre a existência do dinheiro para a obra indica a imediata realização dela. Brinco que é um problema de gestação: são nove meses, da idéia à construção”, diz Cyro.

Foto crédito: Cecília Bastos
Nas imagens, maquetes mostram como ficarão a cobertura do prédio da História e Geografia, os dois elevadores no pátio e o auditório: "A idéia é realizar diversas obras que melhorem a qualidade geral dos prédios", afirma o diretor Gabriel Cohn

No início de setembro, foi iniciada a primeira etapa da reforma, com a impermeabilização das lajes centrais, a desobstrução das calhas de descida d`água e a reforma das juntas de dilatação que absorvem a movimentação do prédio.

Com o fim dessa etapa, previsto para junho do ano que vem, será feita a licitação para a segunda etapa de reformas, que incluirá novas redes de escape das águas da chuva, a construção de um telhado metálico e a pintura externa do prédio. “Como é uma reforma de grandes proporções, tivemos que dividi-la em duas fases, uma primeira para impermeabilização e uma segunda para a colocação do telhado metálico. Com o término dessas reformas, o problema estará completamente resolvido”, comemora Gemma Agnelli, diretora da Divisão de Projetos da Coesf.

O professor Gabriel Cohn, diretor da FFLCH, destaca a necessidade de dar mais atenção à manutenção do prédio. “A escola ganhou muita consciência da relação intrínseca entre a manutenção e as grandes demandas de construção. É algo que aprendemos com a Coesf e vamos pôr em prática”, afirma.

Para Cohn, o episódio de 2006 foi um acidente resultante da forte chuva e ventos ocorridos no dia. “Foi um episódio único, que não acontece sempre, mas fizeram disso um espetáculo. Pusemos a reforma da cobertura como prioridade e o estado atual das obras revela que estamos de acordo com o cronograma. Mas não queremos apenas responder a demandas momentâneas. A idéia é realizar diversas obras que melhorem a qualidade geral dos prédios”, explica. “No ano que vem, a escola parecerá um canteiro de obras.”

Foto crédito: Cecília BastosEspaço – Outra reclamação dos alunos da faculdade é a falta de espaço nas salas de aula, principalmente no prédio de Letras. Para dimensionar o problema, a arquiteta Bárbara Toaliar, da Coesf, fez uma análise da ocupação dos espaços da faculdade. Utilizando o número de alunos matriculados nos cursos de graduação e de pós-graduação oferecidos pela FFLCH, a capacidade das salas, o número de turmas e a duração das aulas, ela estudou a grade horária semanal. “Nós usamos sempre o número mais conservador, que indica o maior número de alunos matriculados e inclui até as matérias ministradas por professores da FFLCH fora da unidade. Assim, pudemos avaliar o pior cenário para o uso do espaço”, explica a arquiteta.

Os resultados indicam que a raiz do problema está, em grande parte, na má administração das salas nos horários de aula possíveis, não aproveitando toda a potencialidade da grade horária. “Na sexta-feira há um número menor de disciplinas oferecidas comparativamente ao resto da semana. Na sexta à noite, esse número é ainda menor. É um décimo do tempo que fica ocioso”, avalia Bárbara.

O estudo concluiu ainda que o problema das salas de aula no prédio de Letras está relacionado com a adequação das salas de aula existentes, que seriam muito pequenas em relação ao tamanho das turmas. “Na verdade, é uma questão do projeto original, que não previa turmas tão grandes. Há muitas salas para turmas de 25 a 40 alunos e muitas turmas com cerca de 50, 60 alunos. Assim, pensamos em reformas pontuais, que juntariam duas salas menores para a formação de uma maior”, aponta Bárbara.

Para as turmas grandes, com mais de 60 alunos, está em fase inicial de licitação a ampliação do prédio de Letras, com a construção de oito salas com capacidade para 60 a 80 alunos cada. Depois de fechado o contrato, as obras devem durar cerca de 15 meses.

Foto crédito: Cecília BastosJá os outros prédios – Filosofia, Ciências Sociais e História e Geografia – têm necessidade apenas de uma sala para grandes turmas, com mais de cem alunos. Para isso, a Coesf programa a construção, ainda sem data definida, de dois auditórios para mais de 250 pessoas cada, no espaço da antiga biblioteca do prédio de História e Geografia. Os auditórios serão utilizados por todos os cursos. Já no prédio de Ciências Sociais, está licenciada a transformação da sala 14 num auditório com 124 lugares. “Era um pedido antigo da unidade. Será um espaço com revestimento acústico, ar-condicionado e equipamento para projeção”, descreve Gemma.

Outro projeto em andamento em todos os prédios da FFLCH é a adaptação às normas de acessibilidade da pessoa com deficiência. Em 2002, um relatório da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (C ecae) apontou a necessidade de construir rampas, elevadores, corrimãos e banheiros adaptados em todos os prédios da faculdade, inclusive na Biblioteca Central, construída em 2005. “São pequenas mudanças que melhorarão muito a qualidade dos prédios”, diz Gemma.

O professor Gabriel Cohn acrescenta: “É uma necessidade apontada pela própria sociedade. Todos os prédios da Universidade precisam se adaptar, pois foram construídos em uma época em que não se pensava nas questões de acessibilidade”. Os recursos para todas as reformas em andamento vêm do orçamento da FFLCH, além da verba da Coesf para programas executivos e programas especiais que incluem coberturas, infra-estrutura e pisos.

 
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