A 16ª edição do Festival Internacional de Arte Eletrônica Sesc Videobrasil, o maior evento de vídeo e arte eletrônica da América Latina, investiga este ano as aproximações entre o vídeo, o cinema e as artes visuais. Com uma programação que se estende por quase um mês, o festival é composto por mostras de vídeo e filme, exposições, instalações, palestras, debates, encontros e workshops. O evento ainda conta com a presença de ilustres convidados, entre eles alguns dos pioneiros nas áreas de cinema experimental, cinema expandido e videoarte.

Com o tema Limite: Movimentação de Imagem e Muita Estranheza, o Videobrasil deste ano adotou como ponto de partida as propostas apresentadas pelo longa-metragem Limite, de Mario Peixoto, produzido em 1930. O filme marcou o nascimento do cinema experimental no Brasil, apresentando a um público perplexo uma obra determinada pela total liberdade artística, que incluiu fragmentos de instalações e seqüências inteiras autônomas. Os enquadramentos incomuns, os cortes obtusos, os planos-seqüência simulando o tempo real e as fusões surrealistas determinaram a

Performance do projeto Tulse Luper Suitcases, do britânico Peter Greenaway

impossibilidade de lançar comercialmente o filme, cujas sugestões aparecem renovadas na discussão sobre a linguagem do cinema na contemporaneidade das novas mídias.

As 67 obras que integram a mostra competitiva, chamada Panoramas do Sul, foram produzidas por artistas de 17 países nos últimos dois anos e selecionadas entre as 791 produções de arte eletrônica ou de investigação de vídeo que haviam sido inscritas. Os trabalhos foram divididos nos três eixos centrais em que o evento se estrutura: Estado da Arte, dedicado a artistas consagrados, Investigações Contemporâneas, que abrange os processos de pesquisa, e Novos Vetores, com trabalhos de autores que têm até 30 anos de idade. Cada um dos três segmentos será contemplado com um prêmio de aquisição no valor de R$ 8 mil.

Eixos temáticos – Em Estado da Arte estão produções como Iluminai os Terreiros (São Paulo, 2006), de Eduardo Climachauska, Gustavo Rosa de Moura e Nuno Ramos, em que uma equipe instala círculos de luz, feitos com postes de iluminação, em cinco diferentes locais e os observa durante a noite, registrando as transformações e acontecimentos ocasionados pela intervenção; Juksa (Brasil/Suíça, 2006), de Maurício Dias e Walter Riedweg, que apresenta os depoimentos dos três últimos habitantes de uma pequena ilha no Pólo Norte; e Straight Stories-Part 1 (Marrocos/França, 2006), de Bouchra Khalili, um ensaio sobre as questões territoriais e o deslocamento humano realizado em uma viagem entre o sul da Espanha e norte do Marrocos.


Superoutro (1987-89), de Edgard Navarro

Investigações Contemporâneas traz vídeos como Flow (Polônia, 2007), de Joanna Hoffman, camadas de imagens colhidas em cidades que compõem uma ininterrupta parede de impressões, exibindo novas definições de tempo e espaço; Fast/Slow_Scapes (São Paulo, 2006), de Gisele Beiguelman, um conjunto de capítulos forma um diário de imagens produzidas pela câmera de um celular; Beach (Israel, 2006), de Guli Silberstein, em que imagens de uma família feliz em uma praia de Tel-Aviv são sucedidas pelo registro de uma menina que corre de um bombardeio a 100 quilômetros dali, em uma praia de Gaza; e a instalação PN=N! (Argentina/Espanha, 2006), de Ivan Marino, remontagem de uma seqüência do filme A Paixão de Joana D'Arc (Carl T. Dreyer, 1928), procura retratar uma cena capaz de se regenerar permanentemente.

O ciclo Novos Vetores exibe trabalhos como Parece la Pierna de una Muñeca (Argentina, 2006), de Jazmín López, que mostra um grupo de crianças e uma mulher em uma piscina revelados pelo olhar atento, porém ausente, de um narrador; Oxxo, Negocio? Monopólio (México, 2005), de Jesus Ayala e José Villalobos Romero, documentário sobre pequenos comerciantes, donos de mercearias no México, que falam como uma grande cadeia de conveniência destruiu seus negócios; e Rawane's Song (Líbano/Holanda, 2006), sobre uma libanesa que não deseja falar de guerra, mas acaba ficando presa ao tema ao desenvolver um discurso irônico.


Retrospectiva do artista alemão Marcel Odenbach, pioneiro da videoarte Superoutro (1987-89), de Edgard Navarro

Programação paralela – Marcel Odenbach, artista alemão considerado pioneiro da videoarte, ganha a maior mostra de sua obra já realizada na América Latina, com instalações, exibição de filmes, palestra e apresentação de uma obra inédita. O cineasta britânico Peter Greenaway mostra os novos desdobramentos do projeto Tulse Luper Suitcases, que desenvolve há quase dez anos, buscando modelos expandidos de cinema em um processo que envolve exposições, filmes, sites, games e sessões de VJ. Kenneth Anger, um dos inventores do cinema underground norte-americano, ganha uma retrospectiva inédita no Brasil, com nove curtas realizados entre 1947 e 1972. O baiano Edgard Navarro recebe uma mostra de seus irreverentes e originais curtas, como Alice no País das Mil Novilhas.

O festival ainda conta com seminários, encontros e palestras. Seminários com artistas e pensadores convidados integram o Núcleo Zona de Reflexão, que se estende até sexta, dia 5 de outubro, tratando de temas como (Des)limites: Hibridizações na Imagem Contemporânea (de que participam Peter Greenaway, Jean-Paul Fargier, Arlindo Machado, Maria Dora Mourão e Ivana Bentes) e Imagem: Outras Mediações e Experimentações (com Jorge La Ferla, Edgard Navarro, Christina Mello, Gilbertto Prado e Giselle Beiguelman). O lançamento do Caderno Videobrasil 3 completa a agenda do festival.

O 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica Sesc Videobrasil acontece até 25 de outubro, no Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, Paraíso, tel. 3179-3716). Para participar dos seminários, é preciso fazer inscrição prévia, no valor de R$ 6,00 por encontro. A programação completa está no site.

 
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