Seu interesse pela linguagem das histórias em quadrinhos surgiu quando era criança. Ele cresceu e foi se aprimorando até entrar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Com o amigo Laerte, outro cartunista hoje famoso, fundou a Balão, uma das primeiras revistas alternativas brasileiras de quadrinhos underground, que também revelou nomes como Angeli, Chico e Paulo Caruso, Alcy, Xalberto e muitos outros. Luiz Geraldo Ferrari Martins, mais conhecido como Luiz Gê, foi convidado pelo Departamento de Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP para contar um pouco da sua trajetória pela linguagem dos quadrinhos, na conferência “As Dimensões da História em Quadrinhos”, no dia 28 de setembro.

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Explicando sua arte, ele disse que, quando aborda a questão urbana, os temas sempre se voltam para o confronto do indivíduo com a estrutura física das cidades e os temas políticos da época. “Procuro mostrar o cotidiano das histórias do nosso país. Já na faculdade coletava material iconográfico porque acho importante termos noção de como era nossa identidade visual em determinadas épocas.”

Para Gê, o brasileiro não tem tradição visual, e sim musical e literária. “Fomos colonizados

por portugueses. Eles nunca tiveram pintores universais. Por isso até hoje o Debret ilustra tudo quanto é livro didático. Quem além dele fez registros visuais daquela época?”, questionou.

Explicando sua arte, ele disse que, quando aborda a questão urbana, os temas sempre se voltam para o confronto do indivíduo com a estrutura física das cidades e os temas políticos da época. “Procuro mostrar o cotidiano das histórias do nosso país. Já na faculdade coletava material iconográfico porque acho importante termos noção de como era nossa identidade visual em determinadas épocas.”

Para Gê, o brasileiro não tem tradição visual, e sim musical e literária. “Fomos colonizados por portugueses. Eles nunca tiveram pintores universais. Por isso até hoje o Debret ilustra tudo quanto é livro didático. Quem além dele fez registros visuais daquela época?”, questionou.

O cartunista acredita que, se os brasileiros tivessem retratado suas memórias em histórias em quadrinhos desde o começo do século, haveria muito mais condições de entender a história atual, com detalhes de vestuário e arquitetura, por exemplo, ao invés de ficar vivendo só o aqui e agora. “É incrível como a história em quadrinhos é capaz de proporcionar uma memória visual excelente.”


Luiz Gê e amostras do seu trabalho: “É incrível como a história em quadrinhos pode proporcionar uma memória visual excelente”

Gê relembrou que, a partir dos anos 70, os proprietários de casas começaram a subir os muros devido ao medo que imperava com a ditadura. “Antes disso as casas tinham seus jardins mais integrados com a rua e os muros quebraram isso, deixando quilômetros e quilômetros de ruas isoladas. Podemos observar esses detalhes nas histórias em quadrinhos daquela época.”

Para o cartunista, a história em quadrinhos facilita o registro histórico, que é diferente da foto, que recorta um trecho. “O desenho pega a realidade e reescreve, dando elementos importantes.” Quanto à educação, o cartunista acredita que as histórias em quadrinhos podem fazer muito para melhorar o aprendizado dos jovens nas escolas e aumentar o interesse deles em aprender. “Elas trazem temas que podem ser abordados visualmente, criando uma espécie de memória nacional, porque as crianças vão conseguir imaginar melhor uma série de detalhes. Isso dá um lastro visual para a nossa cultura.” E ressaltou: “Recriar uma situação que aconteceu em 1500 e compará-la com uma recriação de 1700 ou com uma situação atual em São Paulo, urbana, permite uma concretização para o imaginário, pois a imagem está presente no nosso cotidiano 24 horas por dia.”

Luiz Gê se dedica atualmente a ilustrar, a convite do Ministério da Educação, O guarani, obra de José de Alencar, como material didático. “O guarani tem muita ação. Esse texto tem muita história e dá para resgatar detalhes. Um livro paradidático como esse pode ajudar muito no imaginário das crianças e jovens, porque ainda temos muita influência estrangeira. Com a história em quadrinhos podemos resgatar nosso cotidiano e nossos valores.” Pena que o editor brasileiro não tenha a tradição de produzir imagens do Brasil via ilustração, lamenta o cartunista. “É sempre uma adaptação de projeto gráfico externo.”

Prêmios – Luiz Gê sempre foi muito ligado às artes visuais, trilhando um caminho que o destacou com prêmios e reconhecimentos em todos os momentos em que se metia a fazer alguma coisa nova. Foi editor de arte da revista Status (1985-1986) e editor da revista Circo (1986-1987). Trabalhou na Folha de S. Paulo durante oito anos como chargista editorial. Ganhou o Prêmio Casa de Las Américas, na 2 a Bienal Internacional de Humor em Cuba, 1981. Sua pós-graduação foi feita no Royal College of Art, em Londres. Ganhou o prêmio de melhor desenhista e produção gráfica de 1991, da HQ-MIX. Colaborou ainda com as principais publicações no País, como O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Jornal da República, Pasquim, Movimento, Veja, Visão, Isto Ée Placar, entre outras. Já publicou e expôs na Alemanha, Espanha, França, Portugal, Estados Unidos, Itália e Inglaterra.

Na década de 1980, entre outubro de 1986 a maio de 1988, publicou a revista Circo, pela Circo Editorial, em oito edições "quase" bimestrais, chegando a uma tiragem de 50 mil exemplares por edição, com vendas na casa de 35 mil exemplares, um fato inédito. A editora também lançou a revista Chiclete com Banana, de Angeli, e Geraldão, de Glauco. Os quadrinhos apresentados na revista Circo eram revolucionários para a época. Atualmente, Luiz Gê é professor da Universidade Mackenzie, e vem formando vários cartunistas de destaque.

Luiz Gê transpôs a linguagem dos quadrinhos para diversas outras linguagens, como a música, compondo as capas dos LPs Clara Crocodilo e Tubarões voadores, com Arrigo Barnabé. No cinema, atuou como roteirista para o longa-metragem Cidade oculta, de Chico Botelho. Fez ilustrações de outdoors para o evento Arte na Rua. No rádio, atuou como roteirista de novela humorística para a Rádio Bandeirantes. Na área do audiovisual realizou um curta didático para o curso Indac. Na Televisão, criou roteiros, personagens, cenários e quadros para o programa TV Colosso, assim como animações do próprio trabalho, via computador.

 
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